3/3/2014, [*] James Howard
Kunstler, Blog Clusterfuck Nation
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Quer
dizer então que, agora, estamos ameaçando iniciar a IIIª Guerra Mundial, porque
a Rússia está tentando controlar o caos num estado falido junto às suas
fronteiras – estado que os “nossos” doidos norte-americanos empurraram
diretamente para o buraco?
A
última vez que conferi, havia uma lista de países para onde, recentemente, os
EUA enviaram soldados, navios armados, aviões armados, e por razões semelhantes
às da Rússia na Crimeia: ex-Iugoslávia, Somália, Afeganistão, Iraque, Líbia,
nenhum desses sequer próximos das fronteiras dos EUA. Não me lembro de a Rússia
ameaçar confrontações militares, por causa dessas aventuras tresloucadas dos
EUA.
Os
telefones da Casa Branca e dos gabinetes do Congresso têm de estar totalmente
congestionados, tantos são os cidadãos norte-americanos furiosos, contra a
postura de nossos representantes e governantes eleitos. Tem de haver multidões
levantando cartazes na praça Farragut, para lembrar aos hóspedes da
Avenida Pennsylvania nº 1.400 o papel
ridículo em que nos puseram.
Os
fabricantes de guerras no The New York Times falavam como promotores da
Federação Universal de Luta Livre. A matéria
de primeira página, ontem, dizia:
A ocupação russa na Crimeia
desafiou o Sr. Obama, mais que qualquer outra crise internacional. E, no olho
do furacão, a mesma questão volta, obrigatória: o Sr. Obama terá coragem para
enfrentar o ex-coronel da KGB no Kremlin?
Será
que perderam, de vez, as respectivas cabeça-de-ovo? Parece roteiro do velho
manual [de Análise Transacional] de Eric Berne,Jogos que as Pessoas Jogam,
do “tipo” “lutem
por mim, coitadinho de mim” [Orig. Let’s You and Him Fight].
O presidente da Rússia, Vladimir Putin chegando à Crimeia |
O
que os EUA e seus paus-mandados na União Europeia têm de fazer é cuidar da
própria vida e parar com essas ameaças patéticas. Eles mesmos montaram a cena
para o colapso da Ucrânia, ao tentar manobrar o governo como quisessem,
financiando um movimento pró-Eurolândia, só para, na sequência, verem seus
fantoches pagos (e caros), cederem tudo a uma gangue de neonazistas armados,
cujo primeiro ato oficial foi banir do país todos os cidadãos falantes de
russo, num país onde há milhões de falantes de russo. Isso nada tem a ver,
claro, com o fato de que a Ucrânia, até bem recentemente, foi estado do
ex-império russo soviético.
John Kerry |
O
secretário de Estado John Kerry – um penteado à procura de um cérebro – vai a
Kiev amanhã, para fingir que os EUA estão interessadíssimos e preocupadíssimos
com o destino da Ucrânia.
Dado
que o comportamento dos EUA é tão visível e claramente hipócrita, resta uma
perguntinha básica: quais os nossos motivos? Não acho que sejam qualquer coisa
além de ostentação internacional – baseada na ilusão de que teríamos o poder e
o direito de controlar tudo no planeta, ilusão que, por sua vez, brota do
sentimento no qual estamos todos mergulhados, de extrema insegurança, agora que
quantidade enorme de más escolhas que fizemos, puseram a mesa para um banquete
de consequências.
Os
EUA não estão conseguindo sequer dar conta das próprias dificuldades. Ignoramos
nossa crise de energia, repetindo para nós mesmos o conto de fadas de que o
combustível de xisto nos permitirá continuar a ir de carro até o WalMart mais próximo, para sempre.
Escondemos de nós mesmos toda a nossa degenerescência financeira e fazemos
vista grossa ante os crimes dos criminosos financeiros. A infraestrutura, nos
EUA, está caindo aos pedaços. Estamos construindo uma montanha de aparelhos de
vigilância e controle social que faria esverdear de inveja no túmulo o Dr.
Joseph Goebbels, enquanto consumimos nosso já esvaído capital social, em
estúpidas batalhas sobre confusão “de gêneros”.
Tropas russas e ucranianas ocuparam entradas e saídas da península da Crimeia |
Os
russos, por sua vez, têm integral direito de proteger seus próprios interesses
junto à sua própria fronteira, de proteger a vida e as propriedades dos
ucranianos falantes de russo (os quais, não faz muito tempo, eram cidadãos de
uma Rússia maior), para desestimular atividades neonazistas no seu quintal, e,
principalmente, para estabilizar uma região que tem história curta e pouca
experiência de independência.
Eles
também têm de enfrentar a bancarrota da Ucrânia, que talvez seja a principal
causa dos atuais problemas. A Ucrânia deve muito à Rússia, mas também deve uma
enormidade a uma vasta rede de bancos ocidentais. Ainda não se sabe se o calote
dessas obrigações, todas conectadas, pode levar a uma onda de contágio que atinja
todo o sistema financeiro global. Falta só um floco de neve para levar a
montanha à avalanche.
Bem-vindos
todos à era dos estados falidos. Já há vários por todo o mundo, e mais haverá,
com a escassez de recursos e de capitais fazendo cair todos os padrões de vida
e baixar o horizonte de confiança.
O
mundo não está andando na direção em que Tom Friedman e os globalistas
supuseram que andaria. Tudo que esteja organizado em escala gigante está hoje
por um fio – e, de modo muito especial, os estados-nação.
Os
EUA não são imunes a esse movimento, seja qual for a ilusão que alimentemos
ainda sobre nós mesmos, hoje.
Nota dos tradutores
[1] Referência a Games people play, manual de Análise Transacional, de
Eric Berne, dos anos 50. Um dos “jogos” que as pessoas jogam, segundo esse
modelo é o de fazerem-se de “coitados” e estimular outros a lutar pela
autodesignada “vítima”.
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[*] James Howard Kunstler (nascido em 19 de outubro de 1948) é um autor
americano, crítico social, orador público, e blogueiro. Ele é mais conhecido
por seus livros The Geography of Nowhere
(1994), uma história dos subúrbios americanos e desenvolvimento urbano, The Long Emergency (2005) e, mais
recentemente, Too Much Magic (2012). Em The Long Emergency, ele argumenta que o declínio da produção de
petróleo é provável que resulte no fim da sociedade industrializada como a
conhecemos e forçar os americanos a viver em menor escala, comunidades localizadas,
agrárias (ou semi-agrárias). Começando com World Made by Hand em 2008,
Kunstler tem escrito uma série de romances de ficção científica conjecturando a
cultura do futuro.Dá palestras sobre temas relacionados ao subúrbio,
desenvolvimento urbano e os desafios do que ele chama de “The Global Oil Predicament”
(O Fim da Era do Petróleo), e a mudança resultante no “American Way of Life”. Foi conferencista no
American Institute of Architects, no National Trust for Historic Preservation,
no International Council of Shopping
Centers, na National Association of
Science and Technology,, bem como em inúmeras Universidades, incluindo Yale, MIT, Harvard, Cornell, University of
Illinois, DePaul, Texas A & M, West Point e Rutgers University.
Atimes:
ResponderExcluirUkrainian blood on Kerry's hands
By M K Bhadrakumar
How far the blunt and threatening posture US Secretary of State John Kerry took in his interview with the CBS News toward Moscow - and President Vladimir Putin in person - over the Ukraine situation was genuine and how far it was intended to meet the domestic criticism of the Barack Obama administration being "weak" in its foreign policies doesn't really matter. What matters
is that Kerry demanded virtual capitulation by Russia under the shadow of US retribution and that's being plain dishonest and unrealistic.
The history of the current Ukraine crisis didn't begin with the Russian Duma's authorization of Putin to use military force in Ukraine, if necessary. Kerry can easily check that out by asking his subordinate Assistant Secretary Victoria Nuland whether she indeed discussed a road map for Ukraine's color revolution on phone with the US Ambassador in Kiev, Geoffrey Pyatt, during their famous "F**k-the-EU" conversation two months ago.
In fact, that conversation took place on December 11 and the subsequent events in Ukraine, including the takeover by the new prime minister, Arseniy "Yats" Yatsenyuk, have been ditto according to Nuland's road map. Suffice to say, Kerry can't say there is no blood on his hands.
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Ambassador M K Bhadrakumar served as a career diplomat in the Indian Foreign Service for over 29 years, with postings including India's ambassador to Uzbekistan (1995-1998) and to Turkey (1998-2001).
(Copyright 2014 M K Bhadrakumar)
http://atimes.com/atimes/Central_Asia/CEN-02-030314.html