terça-feira, 25 de março de 2014

Sayed Hassan Nasrallah: O Ocidente e o Mundo árabe querem extinguir a causa palestina

16/2/2014, Discurso na comemoração anual dos Dirigentes Mártires do Hezbollah [excerto (2)]
Traduzido da transcrição pelo pessoal da Vila Vudu
Enviado por Sayed Hasan

Leia também o excerto(1): 9/3/2014: redecastorphoto em: Sayed Hassan Nasrallah: O “jihadismo takfiri” ameaça Oriente e Ocidente

Sayed Hasan Nasrallah analisa o perigo que representam as negociações de paz conduzidas atualmente por John Kerry, que visam a resolver definitivamente o conflito israelense-palestino, sob condições mais uma vez editadas por Israel, cujas exigências extrapolam em muito tudo que foi antes discutido.
Aproveitando-se do estado deplorável em que está o mundo árabe-muçulmano depois da dita “primavera árabe”, do caos que reina no Egito e sobretudo na Síria, o Ocidente, apoiado por países árabes, está resolvido a pôr fim, de uma vez por todas à causa palestina.
Para Sayed Hassan Nasrallah, é imperioso, para derrotar esse projeto, que os países árabes ponham fim à sua guerra contra a Síria e retirem de lá seus mercenários – e nesse caso o Hezbollah também se retirará – e que as diferentes facções palestinas se unam.

Vídeo 7’ 55” do discurso legendado em francês:


É necessário trazer à luz a (grave) ameaça israelense que paira sobre a Palestina: sobre a Palestina como terra, existência, história, entidade, futuro, sobre os lugares sagrados muçulmanos e cristãos, sobre o povo palestino que vive na Palestina e sobre o povo palestino refugiado da diáspora. Esses são os princípios fundamentais que se evocam há décadas, mas que hoje desapareceram.

[Infelizmente], hoje, os povos de cada país árabe preocupam-se (exclusivamente) cada um com seu próprio país. E, ainda mais, alguns desses países são teatro de enfrentamentos sangrentos e de lutas armadas muito violentas. 

Hoje, atingimos um estado crítico deplorável, no qual ninguém quer falar da Palestina. Nem ninguém quer falar do inimigo, a saber, de Israel.

Considero evidentemente o que algumas pessoas me dizem ou dizem de mim: “O Sayed [Nasrallah]! De que você está falando? Não vê o que se passa no mundo?’’ Esses protestos são índices eloquentes do estado ao qual chegamos. E é exatamente o estado ao qual os EUA e Israel queriam reduzir os povos, os governos e os estados da região, depois de todas as vitórias e as realizações alcançadas pelo Eixo da Resistência – a Palestina, o Líbano, a Síria, o Irã.

O que querem é que demos marcha a ré, que esqueçamos. Querem que a Palestina e o combate contra o inimigo sionista sejam retirados, não só da esfera das prioridades; os norte-americanos e os israelenses não querem só que a Palestina e o combate contra o inimigo passem a um lugar secundário em relação a outras prioridades, que deixem de ser prioridade; querem que sejam completamente excluídos do domínio de nossas preocupações – que não nos sintamos mais absolutamente envolvidos.

Querem, isso sim, que essa causa saia de nosso espírito, de nosso coração, de nossos sentimentos. Querem que cheguemos a um ponto no qual, se alguém evoca a Palestina – hoje, essa noite, expresso-me de modo muito explícito – se alguém evoca a Palestina, os outros respondam: “Deixem-nos em paz, você e sua Palestina”. Querem levar os povos árabes e muçulmanos – o Líbano, o Egito, o Iraque, a Jordânia e todos os países – a esse estado.

Querem que cheguemos a um estado no qual, mesmo no plano de nosso coração e de nossas emoções, a coisa esteja acabada, que a Palestina seja para nós como se estivesse noutro planeta, não noutro continente, mas, completamente, verdadeiramente, noutro mundo. E isso no plano das emoções e dos sentimentos.

Bem entendido (digo, entre parênteses), isso põe ainda mais responsabilidades sobres os palestinos. Adiante, ao longo de minha fala, voltarei a falar disso.

Temos de reconhecer que, quanto a esse assunto, eles conseguiram realizar seus objetivos, numa grande medida. Mas ainda é tempo de tomar consciência do perigo. Ainda é tempo de agir, ainda temos oportunidades de ação e de escolhas que nos permitirão tomar consciência da gravidade da situação (e enfrentá-la).

O que, afinal, explicaria claramente esse excepcional engajamento dos norte-americanos e as pressões formidáveis que são aplicadas pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry, para obter, de aqui a alguns poucos meses, uma resolução definitiva da questão palestina? Por que agora? É ou não é pergunta pertinente, que merece ser colocada?

Sim, alguns governantes israelenses levantaram-se e atacaram John Kerry, etc., mas são só absurdos, já estamos habituados (é a farsa de sempre), para fazê-lo aparecer como se fosse mediador neutro, atacado por todos os lados. Absolutamente não é verdade.

Hoje, o governo norte-americano, ao lado do governo sionista, envida esforços consideráveis para liquidar definitivamente a causa palestina. Chegou a hora. E por que as atuais circunstâncias são propícias?

Bem simplesmente, porque o mundo árabe desapareceu completamente.

Antes, o mundo árabe tinha, pelo menos, alguma presença, mais ou menos. Alguns se manifestavam e faziam avançar a Iniciativa de paz, a Iniciativa de paz árabe, evocando condições, princípios, limites. Mas hoje já não há mundo árabe. Hoje, já não há mundo muçulmano.

Agora, cada país só se preocupa consigo mesmo.

Ninguém tem tempo a consagrar à Palestina, nem um instante, que fosse. Ninguém tem tempo para pressionar os norte-americanos no interesse dos palestinos, ou de pressionar os israelenses. Ao contrário, a situação atual dos países árabes faz aumentar a pressão sobre os próprios palestinos. Porque cada um quer agora resolver os próprios problemas internos à custa da causa palestina, e todos fazem concessões aos norte-americanos que pesam sobre a causa palestina, para preservarem seu governo onde esteja, para permanecer no poder ou mesmo para chegar ao poder em um ou outro país.

Roubo de território da Palestina por Israel... até 2010. Até hoje roubaram mais...
Infelizmente, até os povos já estão em outro mundo.

Infelizmente, os próprios palestinos estão em situação muito difícil: as divisões internas, o governo de Ramallah, o governo de Gaza... Os palestinos são submetidos a diversos tipos de pressões internacionais e árabes, além das pressões materiais em campo – assassinatos, prisões, estado de sítio... Essa é a situação. Esses são os desafios.

Israel considera essas circunstâncias como uma oportunidade.

Mas hoje não estou fazendo uma oração fúnebre [a chorar o fim da causa palestina]. Digo, isso sim, apenas, que essa é uma verdade inegável.

Israel e os norte-americanos dizem-se uns aos outros: chegou o momento sonhado de liquidar a causa palestina. Querem aproveitar-se dessa oportunidade e impor suas condições aos palestinos, para alcançarem um resolução do conflito que satisfaça plenamente os interesses norte-americanos e israelenses.

Mas não estou aqui para chorar o enterro da causa palestina, porque ainda há tempo para fazer fracassar o projeto dos norte-americanos e dos sionistas. Ao final da minha fala, voltarei a esse assunto. […]

O último ponto sobre o qual quero falar, para concluir – eu disse, antes, que voltaria a isso, quando falei da Palestina, de Israel, etc. – é que, embora tenhamos pontos de vista diferentes sobre essa questão, mesmo assim quero dizer aos libaneses, aos palestinos, a nossos irmãos na Palestina sobre os quais recaem hoje responsabilidades muito pesadas, nos campos de refugiados...

Dirijo-me a nossos irmãos no seio das diferentes facções palestinas, aos mais sábios, aos comitês populares, digo-lhes: vocês não se podem dar por satisfeitos com publicar comunicados condenando as conversações dos países atuais. Vocês têm de reunir suas forças: conversar uns com os outros, analisar atentamente a situação, porque há gente que trabalha para explorar os palestinos, para alcançar aquele resultado do qual já falei – e não vou me repetir.

Dirijo-me aos libaneses, aos palestinos, aos sírios, dirijo-me a todos os povos árabes, a todos os partidos e a todas as forças árabes, a todos os homens de honra do mundo e dessa região, a todos que realmente se preocupam com a Palestina, o Líbano e a Síria, e lhes digo: se querem que Israel perca as oportunidades das quais já falei, se querem preservar essa região de um conflito fratricida que durará décadas, então ponham fim à guerra contra a Síria.

Ponham fim à guerra contra a Síria!

Façam sair de lá os jihadistas. Saiam todos da Síria. Permitam que os sírios se reconciliem entre eles, como já se vê fazerem em mais de uma região. Bem entendido: quando isso acontecer, nós também poremos fim à nossa presença na Síria.

Enquanto isso, se queremos fazer frente à situação, como se deve, se queremos conter essas oportunidades que o inimigo está encontrando e as ameaças que pesam sobre nós, nós devemos – todos nós, nós todos – pôr fim à guerra contra a Síria e no interior da Síria, para assim proteger a Palestina, o Líbano, a Síria e a Nação Muçulmana.

Esperemos que o mundo árabe-muçulmano não deixe escapar essa chance.

Hoje, por ocasião da comemoração dos dirigentes mártires do Hezbollah – estendi-me um pouco demais, mas é para compensar minha longa ausência – prometemos todos a esses grandes e nobres mártires que conservaremos o espírito deles, o pensamento deles, a organização deles, sua sinceridade, sua fidelidade, o sangue deles, seus sacrifícios, sua paciência, seus sofrimentos e suas esperanças, como de todos os mártires, que seguiremos as pegadas deles até a vitória, para que esse país, esse povo, essa nação islâmica esteja sempre – se Deus quiser – numa posição forte, digna e capaz.

Que Deus seja misericordioso com nossos mártires e com os mártires de vocês todos, quantos forem.


Que a paz de Deus esteja com vocês, a misericórdia de Deus e a graça de Deus. 

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