16/2/2014, Discurso na comemoração anual dos
Dirigentes Mártires do Hezbollah [excerto (2)]
Traduzido da transcrição pelo pessoal da Vila Vudu
Enviado por Sayed Hasan
Leia
também o excerto(1): 9/3/2014: redecastorphoto
em: Sayed
Hassan Nasrallah: O “jihadismo takfiri” ameaça Oriente e Ocidente
Sayed Hasan Nasrallah analisa o perigo
que representam as negociações de paz conduzidas atualmente por John Kerry, que
visam a resolver definitivamente o conflito israelense-palestino, sob condições
mais uma vez editadas por Israel, cujas exigências extrapolam em muito tudo que
foi antes discutido.
Aproveitando-se do estado deplorável em
que está o mundo árabe-muçulmano depois da dita “primavera árabe”, do caos que
reina no Egito e sobretudo na Síria, o Ocidente, apoiado por países árabes,
está resolvido a pôr fim, de uma vez por todas à causa palestina.
Para Sayed Hassan Nasrallah, é
imperioso, para derrotar esse projeto, que os países árabes ponham fim à sua
guerra contra a Síria e retirem de lá seus mercenários – e nesse caso o
Hezbollah também se retirará – e que as diferentes facções palestinas se unam.
Vídeo 7’
55” do
discurso legendado em francês:
É
necessário trazer à luz a (grave) ameaça israelense que paira sobre a
Palestina: sobre a Palestina como terra, existência, história, entidade,
futuro, sobre os lugares sagrados muçulmanos e cristãos, sobre o povo palestino
que vive na Palestina e sobre o povo palestino refugiado da diáspora. Esses são
os princípios fundamentais que se evocam há décadas, mas que hoje
desapareceram.
[Infelizmente],
hoje, os povos de cada país árabe preocupam-se (exclusivamente) cada um com seu
próprio país. E, ainda mais, alguns desses países são teatro de enfrentamentos
sangrentos e de lutas armadas muito violentas.
Hoje,
atingimos um estado crítico deplorável, no qual ninguém quer falar da
Palestina. Nem ninguém quer falar do inimigo, a saber, de Israel.
Considero
evidentemente o que algumas pessoas me dizem ou dizem de mim: “O Sayed
[Nasrallah]! De que você está falando? Não vê o que se passa no mundo?’’ Esses
protestos são índices eloquentes do estado ao qual chegamos. E é exatamente o
estado ao qual os EUA e Israel queriam reduzir os povos, os governos e os
estados da região, depois de todas as vitórias e as realizações alcançadas pelo
Eixo da Resistência – a Palestina, o Líbano, a Síria, o Irã.
O que
querem é que demos marcha a ré, que esqueçamos. Querem que a Palestina e o
combate contra o inimigo sionista sejam retirados, não só da esfera das
prioridades; os norte-americanos e os israelenses não querem só que a Palestina
e o combate contra o inimigo passem a um lugar secundário em relação a outras
prioridades, que deixem de ser prioridade; querem que sejam completamente
excluídos do domínio de nossas preocupações – que não nos sintamos mais
absolutamente envolvidos.
Querem,
isso sim, que essa causa saia de nosso espírito, de nosso coração, de nossos
sentimentos. Querem que cheguemos a um ponto no qual, se alguém evoca a
Palestina – hoje, essa noite, expresso-me de modo muito explícito – se alguém
evoca a Palestina, os outros respondam: “Deixem-nos em paz, você e sua
Palestina”. Querem levar os povos árabes e muçulmanos – o Líbano, o Egito, o
Iraque, a Jordânia e todos os países – a esse estado.
Querem que
cheguemos a um estado no qual, mesmo no plano de nosso coração e de nossas
emoções, a coisa esteja acabada, que a Palestina seja para nós como se
estivesse noutro planeta, não noutro continente, mas, completamente,
verdadeiramente, noutro mundo. E isso no plano das emoções e dos sentimentos.
Bem
entendido (digo, entre parênteses), isso põe ainda mais responsabilidades
sobres os palestinos. Adiante, ao longo de minha fala, voltarei a falar disso.
Temos de
reconhecer que, quanto a esse assunto, eles conseguiram realizar seus
objetivos, numa grande medida. Mas ainda é tempo de tomar consciência do
perigo. Ainda é tempo de agir, ainda temos oportunidades de ação e de escolhas
que nos permitirão tomar consciência da gravidade da situação (e enfrentá-la).
O que,
afinal, explicaria claramente esse excepcional engajamento dos norte-americanos
e as pressões formidáveis que são aplicadas pelo secretário de Estado dos EUA,
John Kerry, para obter, de aqui a alguns poucos meses, uma resolução definitiva
da questão palestina? Por que agora? É ou não é pergunta pertinente, que merece
ser colocada?
Sim, alguns
governantes israelenses levantaram-se e atacaram John Kerry, etc., mas são só
absurdos, já estamos habituados (é a farsa de sempre), para fazê-lo aparecer
como se fosse mediador neutro, atacado por todos os lados. Absolutamente não é
verdade.
Hoje, o
governo norte-americano, ao lado do governo sionista, envida esforços
consideráveis para liquidar definitivamente a causa palestina. Chegou a hora. E
por que as atuais circunstâncias são propícias?
Bem
simplesmente, porque o mundo árabe desapareceu completamente.
Antes, o mundo
árabe tinha, pelo menos, alguma presença, mais ou menos. Alguns se manifestavam
e faziam avançar a Iniciativa de paz, a Iniciativa de paz árabe, evocando
condições, princípios, limites. Mas hoje já não há mundo árabe. Hoje, já não há
mundo muçulmano.
Agora, cada
país só se preocupa consigo mesmo.
Ninguém tem
tempo a consagrar à Palestina, nem um instante, que fosse. Ninguém tem tempo
para pressionar os norte-americanos no interesse dos palestinos, ou de
pressionar os israelenses. Ao contrário, a situação atual dos países árabes faz
aumentar a pressão sobre os próprios palestinos. Porque cada um quer agora
resolver os próprios problemas internos à custa da causa palestina, e todos
fazem concessões aos norte-americanos que pesam sobre a causa palestina, para
preservarem seu governo onde esteja, para permanecer no poder ou mesmo para
chegar ao poder em um ou outro país.
Roubo de território da Palestina por Israel... até 2010. Até hoje roubaram mais... |
Infelizmente,
até os povos já estão em outro mundo.
Infelizmente,
os próprios palestinos estão em situação muito difícil: as divisões internas, o
governo de Ramallah, o governo de Gaza... Os palestinos são submetidos a
diversos tipos de pressões internacionais e árabes, além das pressões materiais
em campo – assassinatos, prisões, estado de sítio... Essa é a situação. Esses
são os desafios.
Israel
considera essas circunstâncias como uma oportunidade.
Mas hoje
não estou fazendo uma oração fúnebre [a chorar o fim da causa palestina]. Digo,
isso sim, apenas, que essa é uma verdade inegável.
Israel e os
norte-americanos dizem-se uns aos outros: chegou o momento sonhado de liquidar
a causa palestina. Querem aproveitar-se dessa oportunidade e impor suas
condições aos palestinos, para alcançarem um resolução do conflito que
satisfaça plenamente os interesses norte-americanos e israelenses.
Mas não
estou aqui para chorar o enterro da causa palestina, porque ainda há tempo para
fazer fracassar o projeto dos norte-americanos e dos sionistas. Ao final da
minha fala, voltarei a esse assunto. […]
O último
ponto sobre o qual quero falar, para concluir – eu disse, antes, que voltaria a
isso, quando falei da Palestina, de Israel, etc. – é que, embora tenhamos
pontos de vista diferentes sobre essa questão, mesmo assim quero dizer aos
libaneses, aos palestinos, a nossos irmãos na Palestina sobre os quais recaem
hoje responsabilidades muito pesadas, nos campos de refugiados...
Dirijo-me a
nossos irmãos no seio das diferentes facções palestinas, aos mais sábios, aos
comitês populares, digo-lhes: vocês não se podem dar por satisfeitos com
publicar comunicados condenando as conversações dos países atuais. Vocês têm de
reunir suas forças: conversar uns com os outros, analisar atentamente a
situação, porque há gente que trabalha para explorar os palestinos, para
alcançar aquele resultado do qual já falei – e não vou me repetir.
Dirijo-me
aos libaneses, aos palestinos, aos sírios, dirijo-me a todos os povos árabes, a
todos os partidos e a todas as forças árabes, a todos os homens de honra do
mundo e dessa região, a todos que realmente se preocupam com a Palestina, o
Líbano e a Síria, e lhes digo: se querem que Israel perca as oportunidades das
quais já falei, se querem preservar essa região de um conflito fratricida que
durará décadas, então ponham fim à guerra contra a Síria.
Ponham fim
à guerra contra a Síria!
Façam sair
de lá os jihadistas. Saiam todos da Síria. Permitam que os sírios se
reconciliem entre eles, como já se vê fazerem em mais de uma região. Bem
entendido: quando isso acontecer, nós também poremos fim à nossa presença na
Síria.
Enquanto
isso, se queremos fazer frente à situação, como se deve, se queremos conter
essas oportunidades que o inimigo está encontrando e as ameaças que pesam sobre
nós, nós devemos – todos nós, nós todos – pôr fim à guerra contra a Síria e no
interior da Síria, para assim proteger a Palestina, o Líbano, a Síria e a Nação
Muçulmana.
Esperemos
que o mundo árabe-muçulmano não deixe escapar essa chance.
Hoje, por
ocasião da comemoração dos dirigentes mártires do Hezbollah – estendi-me um
pouco demais, mas é para compensar minha longa ausência – prometemos todos a
esses grandes e nobres mártires que conservaremos o espírito deles, o
pensamento deles, a organização deles, sua sinceridade, sua fidelidade, o
sangue deles, seus sacrifícios, sua paciência, seus sofrimentos e suas esperanças,
como de todos os mártires, que seguiremos as pegadas deles até a vitória, para
que esse país, esse povo, essa nação islâmica esteja sempre – se Deus quiser –
numa posição forte, digna e capaz.
Que Deus
seja misericordioso com nossos mártires e com os mártires de vocês todos,
quantos forem.
Que a paz
de Deus esteja com vocês, a misericórdia de Deus e a graça de Deus.
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