segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Django, ao diabo com toda a História


Miguel MellinoUniNômade 2.0  em 13/2/2013
Tradução ao português, de Bruno CavaQuadrado dos Loucos
Enviado pelo pessoal da Vila Vudu


1. Ni olvido ni perdón. Nem esquecimento nem perdão. Era um slogan político na Argentina dos anos 1970, dirigido contra os militares responsáveis pelo golpe de 1955, que depôs o governo democrático de Perón. O slogan pode ser útil pra compreender o sentido difundido por Django livre a respeito da escravidão e seu papel na história dos Estados Unidos: é impossível esquecer, é impossível perdoar. Este talvez seja o sentido trazido pela cena final do filme: Django, um escravo liberto das correntes, consuma seu ódio-vendeta atacando não só os patrões brancos, mas todo o sistema escravocrata das fazendas. Candyland deve ir pelos ares como um todo: ali não há nada para ser salvo, não bastaria apenas fugir ou salvar a mulher amada. Daí um filme ferozmente anti “politicamente correto”, — o que não poderia surpreender verdadeiramente quem conhece o estilo pop e corrosivo de Tarantino.


No filme, Django e Brunhilda — armados de um ódio na verve do escritor Frantz Fanon, ou seja, jamais movido por “grandes ideais” ou “retóricas progressistas”, como outros escravos célebres da história do cinema — estão inflamados de uma raiva em estado bruto, a raiva que sentem os “danados da terra”, dessa vontade em nada conciliadora ou misericordiosa. Por isso, eles se configuram como o lado avesso do casal Obama-Michele. E por isso, não admiram as críticas ao filme nos Estados Unidos; nada mais distante do clima “politicamente correto” pós-racial dos tempos de Obama, do que o ânimo rancoroso, vindicativo e punitivo de Django. A cena final também é emblemática desta estrutura particular do sentir: quando Django exerce seu ato reparatório pessoal vestido com as roupas do patrão.

Consiste nisso uma fração importante da política representacional promovida no filme: nomear a raça — inclusive com o controverso significante nigger — de maneira que... Continue lendo esta crítica

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