O “jornalismo” do Grupo GAFE
(Globo-Abril-FSP-Estadão) não noticia, mas...
5/2/2013, Janet Lorin, Bloomberg – com
vídeo
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Estudantes
carentes nos EUA, que tomaram quase US$ 1 bilhão de dólares em empréstimos para
custear estudos em universidades privadas, deixaram de pagar as prestações, o
que ameaça agora outros bolsistas e parece estar forçando universidades
tradicionais como a Yale University e
a University of Pennsylvania a
executar os formados inadimplentes. (...)
Yale, Penn e George Washington University já estão há
algum tempo executando formados inadimplentes, como mostram documentos oficiais
das cortes de execução. Embora ainda não se conheçam números totais, sabe-se
que, no ano fiscal encerrado em junho de 2011, as dívidas chegavam a $964
milhões – 20% a mais que há cinco anos. Esses específicos empréstimos acadêmicos
(“Perkins loans”) não são distribuídos e cobrados pelo governo federal,
mas são administrados pelas próprias universidades; e o dinheiro assim
administrado é usado para custear mais bolsas para estudantes carentes.
Yale University |
“Se
você assume empréstimos privados para estudar, pode acontecer de o governo não
ter nenhuma obrigação de pagar por você” – disse Deanne Loonin, advogada que
trabalha para o Centro Nacional de Leis para os Consumidores, ONG sem
finalidades de lucro com sede em Boston. “As universidades
privadas oferecem crédito fácil”, mas se o tomador não pagar o que deve, vale
dizer, se a formação acadêmica não auxiliar o tomador a pagar por ela, “a
própria instituição privada ou as cortes de Justiça atacam muito agressivamente
o devedor”.
Os
empréstimos Perkins
O
crescimento da inadimplência entre estudantes mais pobres acontece no momento em
que o presidente Barack Obama diz que quer expandir o acesso à universidade para
as famílias de trabalhadores e aumentar a dotação para os empréstimos Perkins.
Segundo a proposta de Obama, a dotação para os empréstimos Perkins aumentariam
cerca de 1 bilhão, além dos 8,5 bilhões atuais. E o Departamento de Educação
passaria a administrar os empréstimos, em vez das
universidades.
Aaron
Graff, filho de um fazendeiro de Denver, formou-se pela George Washington University em 2010,
graças à bolsa de $62.500 que recebeu durante dois anos, segundo documentos do
crédito em seu poder.
Quando parou de poder pagar as prestações, devia ainda $4 mil,
em empréstimos Perkins.
Graff,
30, diz que não consegue emprego de tempo integral. Ganha hoje $800 mensais,
como professor em cursos secundários para alunos mais velhos e, para conseguir
dinheiro extra, trabalha também como pedreiro. Diz que tem tentado pagar, antes,
os primeiros empréstimos que fez no início do curso, porque seus pais foram
avalistas daqueles empréstimos e também estão ameaçados.
“Vivo
no limite mínimo de sobrevivência” – disse ele. – “Não é que deixe de pagar para
gastar com luxos. Não estou pagando as prestações, porque absolutamente não
tenho como pagar”.
As
dívidas incham
A
tesouraria da George Washington
University escreveu duas vezes a Graff desde fevereiro do ano passado,
alertando-o para o risco de ser preso por inadimplência e oferecendo-se para
renegociar a dívida. Em maio de 2012, em compareceu a uma audiência na Corte
Superior do Distrito de Columbia. Graff perdeu o direito de fazer um acordo em
dezembro, por $5.050, incluindo multas e custos advocatícios, porque não
compareceu à audiência, segundo documentos da corte.
Os
empréstimos Perkins não são prioridade para os estudantes devedores que devem
pagamentos de vários outros empréstimos, diz Nancy Coolidge, diretora associada
do apoio financeiro a estudantes do sistema da University of California. Eles sempre
tentam pagar, antes, os empréstimos estudantis que receberam diretamente de
bancos, porque nesses casos os juros são muito mais altos.
Os
empréstimos Perkins são dirigidos a estudantes de mais alto risco, mas “eles têm
de ter capacidade, no mínimo, para pagar as prestações” – diz Coolidge.
Quando
os estudantes não pagam, as universidades dizem que ficam na obrigação de
executá-los, para reaver o dinheiro, porque é dever das universidades em face do
contribuinte norte-americano. Escolas, entre as quais a George Washington, alegam que tentam
vários tipos de abordagem, para conseguir que os alunos inadimplentes paguem;
depois, alertam os alunos de que podem ser executados e ter bem penhorados; só
depois disso é que, não havendo resposta positiva, as dívidas são entregues a
empresas especialistas em contato com ‘pagadores difíceis’ e, depois, à execução
judicial. (...)
Os empréstimos Perkins cobram
juros de 5% e os estudantes têm uma carência de nove meses, depois da formatura
(ou de abandonarem a universidade), para começar a pagar. No ano acadêmico de
2007-2008, 64% dos alunos que pediram empréstimo para custear estudos declararam
renda familiar de menos de $50 mil dólares/ano, segundo Mark Kantrowitz, que
dirige o finaid.org, empresa de financiamentos
estudantis que opera pela internet.
Com
os custos acadêmicos subindo muito mais rapidamente que a inflação oficial ao
longo dos últimos 40 anos, os alunos foram sendo empurrados cada vez mais para
novos empréstimos, o que fez inchar o sistema de bolsas – que já contabiliza
dívidas de $1 trilhão, mais do que a dívida total dos norte-americanos em
cartões de crédito. (...) De qualquer modo, na maioria dos casos, nem o processo
e a execução asseguram que a universidade seja ressarcida, porque alunos e
famílias não têm, mesmo, meios para pagar.
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