7/2/2013, Paul Craig Roberts – Institute for Polítical Economy – IPE
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Leni Reifenstahl |
A
imprensa norte-americana virou uma neo Leni
Riefenstahl. Hollywood virou neo Leni
Reifenstahl, com o filme “A hora mais escura”, (orig. Zero Dark Thirty)
desavergonhada
propaganda islamófoba. Esse filme-propaganda comete crime de ódio. Ensina
islamofobia.
Não há dúvidas de que é dificílimo
encontrar hoje, nos quadros da Procuradoria Federal, Procuradores que, como
Jackson escreveu, “temperam o zelo condenatório com grandeza humana; que
procuram a verdade, sem querer fazer vítimas; que servem à lei e não a objetivos
de facções; e que abordam com humildade o próprio
trabalho”.
Paul Craig Roberts |
A
resposta do governo Bush ao 11/9 e a validação, pelo governo Obama, daquela
resposta destruíram o governo transparentemente democrático que houve nos EUA.
Tanto poder sem qualquer supervisão concentrou-se no Executivo, que a
Constituição dos EUA já não é documento operante.
Acredite
alguém na história oficial do 11/0, ou conheça todas as provas já distribuídas
por grande número de cientistas, testemunhas oculares e engenheiros de estrutura
e arquitetos, dá sempre na mesma. O 11/9 foi usado para criar uma interminável
“guerra ao terror” e o correspondente estado policial. É espantoso que tantos
norte-americanos acreditem que “não acontecerá aqui”, se já aconteceu.
Vivemos
uma década de provas completamente visíveis de que estava em construção um
estado policial: o Patriot Act, autorização ilegal para que os cidadãos
norte-americanos sejam espionados e que viola o Foreign Intelligence
Surveillance Act; a prática de crimes de guerra de agressão, baseadas em
mentiras deliberadas; o Departamento de Justiça a fazer leis à sua moda,
“memorandos” para justificar que o Executivo viole leis nacionais e
internacionais contra a tortura; detenção indefinida de cidadãos
norte-americanos, o que viola direitos que a Constituição protege(ria) ao
habeas corpus e ao devido processo legal; uso de “provas secretas” e
“testemunhos secretos” de especialistas que não são apresentados para que a
defesa dos acusados tome conhecimento deles; tribunais militares inventados para
fugir de julgamentos legais; “memorandos” secretos que autoriza(riam) o
presidente a ordenar ciberataques preventivos contra qualquer país, sem ter de
oferecer provas de que de lá pode(ria) advir alguma ameaça contra os EUA; e o
governo Obama, que já se pôs a assassinar cidadãos norte-americanos sem qualquer
prova de crime, sem julgamento, sem defesa, sem o devido processo legal.
John Kiriakou |
E, como
se não bastasse tudo isso, o governo Obama dá-se agora novos poderes
presidenciais para escrever leis secretas e dá-se o direito de não explicar onde
– nem se – haveria algum fundamento legal para arrogar-se poderes que nenhum
presidente dos EUA jamais teve. Em outras palavras: qualquer papel escrito
em segredo
pelo Executivo faz lei, hoje, nos EUA. O Congresso nem é
informado. Congresso? E quem precisa de Congresso?!
Apesar
de haver leis que protegem os vazadores [orig. whistleblowers] e apesar
de haver imprensa e apesar do haver Código Militar que obriga os soldados a
reportar crimes de guerra de que tenham conhecimento, vazadores, como John Kiriakou, agente da CIA; jornalistas, como Julian Assange; e soldados, como
Bradley Manning, são perseguidos e processados por revelar
crimes praticados pelo governo dos EUA. Os criminosos ganham plena
liberdade. Os que informam sobre aqueles crimes vão para a cadeia.
Bradley Manning e Julian Assange |
Justificativa
pressuposta para o estado policial sob o qual vivemos nos EUA é a “guerra ao
terror” – invenção mantida viva por “operações ferrão” [orig. “sting
operations”] do FBI. Em idioma normal, “operação ferrão” acontece quando uma
policial traveste-se de prostituta para prender um gigolô; ou quando um policial
traveste-se de traficante de drogas para prender usuários ou traficantes. Mas as
“operações ferrão” do FBI vão muito além desses crimes sem vítimas que só servem
para encher as cadeias norte-americanas (que são empresas privadas).
As
“operações ferrão” do FBI são diferentes. Também podem ser crimes sem vítimas,
se os complôs não acontecem. Mas o FBI oferece os enredos a terroristas que já
têm as bombas. Então, é só selecionar alguém ou um grupo mais enlouquecido ou
demente, ou muçulmano enfurecido pelo mais recente insulto que Washington tenha
feito a ele ou à sua religião. Quando o FBI define um alvo, seus agentes abordam
o perpetrador seleto que se diga seguidor da al-Qaeda ou de grupo assemelhado e
o cobrem de dinheiro, promessas de reconhecimento e fama; ou o ameaçam e
torturam até que o alvo subscreve o roteiro do FBI. Então, é preso.
Trevor
Aaronson, em seu
livro The Terror Factory: Inside the FBI’s War on
Terrorism [Fábrica de terror: por dentro da Guerra do FBI ao Terrorismo],
oferece documentos que comprovam que, até o momento em que o livro foi escrito,
o FBI planejara 150 “golpes terroristas” e que quase todos os demais “casos de
terrorismo” eram, por exemplo, casos relacionados à imigração, nos quais
apareceu, ninguém sabe de onde, a acusação de terrorismo. Assista vídeo Inside the FBI’s
“Terror factory”, a seguir:
A
imprensa dos EUA, presstituta, jamais pergunta por que, se há tanto
terrorismo a ponto de exigir que os EUA lhe faça guerra planetária, o FBI ainda
precisa(ria) inventar mais terrorismo e encomendar mais ataques terroristas.
A
imprensa dos EUA tampouco pergunta como os Talibã, que resistem contra a invasão
e tentativa norte-americana de ocupar o Afeganistão, e combatem a superpotência
“necessária” sem perderem um palmo de terreno há 11 anos, acabaram virando
“terroristas”. A prostituída imprensa norte-americana tampouco quer saber como
aconteceu de tribos inteiras em regiões remotas do Paquistão terem virado
“terroristas”, o que as converteu em alvos de ataques dos drones dos EUA
– que atacam cidadãos, escolas, hospitais, ambulatórios, no coração de
território de país contra o qual os EUA não estão em guerra.
Em vez
disso, a imprensa protege e reproduz as mentiras que construíram, nos EUA, um
estado policial.
Hitler e Leni Riefenstahl em 1942 |
A
imprensa norte-americana virou uma neo Leni Riefenstahl. Hollywood virou uma neo
Leni Reifenstahl, com o filme “A hora mais escura”, (orig. Zero Dark
Thirty)
desavergonhada
propaganda islamófoba. Esse filme de propaganda é crime de ódio: ensina
islamofobia.
Pois
mesmo assim, é muito provável que o filme seja premiado. Assim os EUA vão
afundando na tirania e em guerra de cem anos em nome de combater a “ameaça
muçulmana”.
Aprendi,
anos atrás, quando era professor, que o cinema molda poderosamente as atitudes
dos norte-americanos. Uma vez, depois de ouvir longa aula sobre a Revolução
Russa e a implantação do comunismo, um aluno levantou a mão e disse: “No cinema,
não aconteceu assim”.
De
início, pensei que fosse piada espirituosa. Mas logo entendi que meu aluno
acreditava sinceramente que a realidade estaria no filme, não no professor
especialista. Desde então, não me canso de me perguntar como é possível que os
EUA tenhamos sobrevivido por tanto tempo, dada a extensão da ignorância dos
norte-americanos.
Os
norte-americanos sobreviveram graças à força da economia dos EUA. Agora, quando
esse poder está fanado, mais dia menos dia, os norte-americanos terão de se
reconciliar com a história real. E será, para eles, realidade completamente
desconhecida.
Há
norte-americanos que dizem que tivemos estado policial em outros momentos de
guerra e que, vencida a guerra ao terror, o estado policial será desmontado.
Outros dizem que o governo saberá usar judiciosamente o poder que acumulou e que
“quem não deve não teme”.
É a
certeza dos iludidos. O estado policial de Bush/Obama é, de longe, muito mais
amplo e pervasivo que o de Lincoln, de Wilson ou de Roosevelt. E a guerra ao
terror é infinita. Já é, hoje, três vezes mais longa que a 2ª Guerra Mundial. O
estado policial vai-se estabelecendo por usucapião.
Ainda
pior: o governo precisa do estado policial para se autoproteger contra qualquer
punição por seus crimes, mentiras e mau uso do dinheiro dos contribuintes.
Criaram-se já novos precedentes a favor do poder do Executivo em conjunção com a
Federalist Society, a qual,
independente da guerra ao terror, prega a teoria do “Executivo unitário”,
segundo a qual o presidente teria poderes superiores a qualquer controle pelo
Congresso ou pelo Judiciário. Em outras palavras, o presidente será o ditador
que lhe interesse ser.
O
governo Obama está tirando vantagens desse teoria Republicana. O regime usou o
desejo Republicano por Executivo forte, à prova dos tradicionais contrapesos
democráticos, e somou-o ao fator medo: assim se criou o estado policial
Bush/Cheney.
Como
Lawrence M. Stratton e eu documentamos em nosso livro The
Tyranny
Of Good Intentions [A tirania das boas intenções], antes do 11/9 a lei,
como escudo de defesa do povo, já estava perdendo terreno para a lei como arma
nas mãos do governo. Se o governo decidir pegar você, há poucas barreiras que
protejam o acusado: será enquadrado e condenado; e muito menos há júri e jurados
capazes de ver o crime onde o crime está.
Não sei
dizer se, algum dia, o sistema judiciário norte-americano serviu melhor à
justiça que à ambição dos Procuradores. Já nos anos 1930s e 1940s, o juiz George
Sutherland da Suprema Corte EUA e o Advogado Geral dos EUA Robert Jackson
alertavam contra Procuradores que sacrificam “o justo processo legal, para
construir estatísticas de sucesso”. Não há dúvidas de que é dificílimo encontrar
hoje, nas fileiras da Procuradoria Federal, Procuradores que, como Jackson
escreveu “temperam o zelo condenatório com grandeza humana; que procuram a
verdade, sem querer fazer vítimas; que servem à lei e não a objetivos de
facções; e que abordam com humildade o próprio trabalho”.
Considere-se,
por exemplo, a condenação errada do governador Democrata do Alabama, Don
Siegelman, em processo que, pelo que já se sabe, foi resultado de conspiração
articulada por Karl Rove, para derrubar governadores Democratas do sul. O
governo “Democrata” de Obama nada investigou dessa acusação falsa urdida pela
Procuradoria, nem deixou de acobertar os falsos inocentes (os seus falsos
inocentes). Lembram a rapidez com que Bush cancelou a sentença de prisão contra
o agente de Cheney que revelou o nome de agente clandestino da CIA? Os
Democratas são partido acuado e politicamente acovardado, que teme a Justiça.
São parte do estado policial corrupto, perfeitamente equivalentes aos
Republicanos.
Hoje, a
Procuradoria trabalha para promover a carreira do Promotor e do partido que o/a
tenha indicado. Procurador de “sucesso” é quem muito condene, o que exige
“acordos” nos quais jamais se veem provas analisadas por jurados ou tribunais.
Quanto maior o número de casos “midiáticos”, melhor: um bom caso “de mídia”
basta para inchar qualquer carreira política: foi o que se viu, quando Rudy Giuliani conseguiu enredar e condenar Michael Milken.
Glenn
Greenwald explicou como Aaron Swartz, militante a favor da liberdade para a
Internet, foi arrastado ao suicídio pela ambição pervertida de dois Procuradores
federais, a advogada federal Carmen Ortiz e Stephen Heymann, assistente da
Advocacia Geral dos EUA. Nenhum deles mostrou qualquer repugnância contra a
decisão de destruir
um homem inocente, apenas para promover-se na “carreira”.
Só
muito raramente acontece de um Procurador sofrer qualquer tipo de consequência
por inventar falsas acusações, por usar – até mesmo por comprar! – provas
falsas, ou por mentir a juízes e jurados. Dado que os Procuradores raramente são
acusados e julgados, acabaram por habituar-se a usar meios ilegais e antiéticos;
a rotina, ali, é o abuso de poder. Os juízes vivem mais preocupados, sempre, com
“limpar” as prateleiras. Raramente se preocupam com promover a Justiça nos EUA.
É o que explica que os EUA tenham, não só a maior porcentagem de cidadãos
encarcerados que qualquer outra nação no planeta, mas, também o maior número
absoluto de encarcerados.
Há hoje
nos EUA maior proporção de cidadãos encarcerados que na China “autoritária” –
cuja população é quatro vezes maior que a população dos EUA. Os EUA –
provavelmente o maior violador de direitos humanos da história da humanidade –
vive a acusar a China de “violar direitos humanos”. E por onde andarão as
acusações contra Washington, por violar direitos humanos?
Nos
EUA, o colapso do Estado de Direito vai muito além de Procuradores corrompidos e
sua longa lista de falsas acusações. A menos que deseje ou lhe interesse um
“julgamento show”, o
estado policial não precisa de Procuradorias e tribunais. Basta escrever um
“memorando”, e o presidente já pode mandar gente para a prisão, sem julgamento.
Pode até executar quem bem entender, sem nenhum julgamento: é só declarar que
algum funcionário, de preferência dos corpos executivos, “acha” que alguém pode
ter ou ter tido alguma conexão potencial com algum terrorismo. Os amigos do
Departamento de Justiça (sic) dispensam-se qualquer contato com juízes,
tribunais ou julgamentos legais.
O
governo Bush/Obama já converteu a Presidência em juiz, jurado e carrasco
executor. Basta um palpite, uma denúncia não provada, no ouvido de alguém ‘'do
Executivo’'. Isso é o mal em estado puro. Existe aqui,
nos EUA.
Já não
se exige nenhuma prova, para que o presidente dos EUA encarcere gente, prisão
perpétua. Ou mande matar. Memorando
secreto do Departamento de Justiça, vazado para a rede NBC News, revelou
o raciocínio tirânico que autoriza o Executivo a assassinar cidadãos
norte-americanos baseado apenas numa “impressão”, num “palpite” ou em qualquer
crença simples, sem que se exijam provas de que alguém tenha praticado ato
terrorista ou tenha tido qualquer envolvimento com terroristas.
Nos EUA
da “liberdade e da democracia” já não vige o princípio legal segundo o qual
todos são inocentes, até que sejam provados culpados. Se o governo decidir que
você é culpado, você é culpado. Ponto final. Não se exige nem simulacro de
prova. Nem Stálin assassinou tão completamente sem provas de crime.
O
governo dos EUA trabalha hoje, passo a passo, para que todo e qualquer crítico
do status quo seja tratado como culpado pelo crime de dar “ajuda e
conforto” aos “inimigos terroristas” de Washington – o que inclui o governo
eleito do Hamás, em Gaza.
Da
forca, só escapam os neoconservadores que criticam governos norte-americanos por
ser lentos demais na caça e punição de “antissemitas” como o ex-presidente Jimmy
Carter, que criticou a apropriação ilegal, pelo governo de Israel, de terras
palestinas. Praticamente todos os palestinos foram roubados por Israel, com
aquiescência e ajuda de Washington. Quer dizer: já nada resta da “Solução dos
Dois Estados”.
Não há
qualquer dúvida de que é ilegal o roubo de terras palestinas, pelo governo de
Israel. E Washington – da qual Israel depende vitalmente – não move uma palha.
Lei? Que lei? Quem precisa de porcaria de lei? Washington tem poder. Poder é
lei. Tratem todos de habituar-se!
A lei
foi abolida, e não só para os palestinos: também para os norte-americanos e para
os fantoches de Washington na OTAN, no Reino Unido e na Europa, restos dignos de
pena do que um dia foram grandes nações, hoje reduzidas a cúmplices nos crimes
de Washington contra a humanidade. A Open
Society Justice Initiative, ONG com sede em New York, distribuiu relatório que
comprova que 54 governos participam do programa de “entregas especiais” e
tortura comandado por Washington. 25
dos governos que ajudam Washington a sequestrar, fazer sumir e torturar pessoas
são europeus.
O
início da primeira década do século 21 assistiu à destruição de todo o sistema
legal concebido para proteger os inocentes e vulneráveis desde o berço da hoje
defunta consciência moral ocidental. A consciência moral ocidental jamais se
aplicou senão ao próprio. A história das colônias europeias e dos povos nativos
dos EUA e Austrália sempre foi outra história, muito diferente.
Mesmo
assim, embora os princípios do Estado de Direito jamais tenham garantido
proteção eficaz a todos os sem poder, ainda assim poderiam ser um bom começo, um
primeiro passo promissor. Pois os EUA hoje, sob os governos Bush e Obama, iguais
como duas ervilhas da mesma vagem, abandonaram, de vez, até o princípio, ele
mesmo.
O
estado policial de Obama será pior que o estado policial de Bush/Cheney .
Diferentes dos conservadores os quais, de tempos em tempos, desconfiam do poder
do Estado, os obametes creem que o
Estado sempre é poder benigno e está(ria) hoje em boas mãos. Os obametes veem Obama como membro de uma
minoria oprimida; confiam que Obama não usará o próprio poder, para o mal. É
fantasia equivalente a outra, segundo a qual, dado que os judeus muito sofreram
nas mãos de Hitler, Israel seria “naturalmente” justa com os palestinos.
Glenn Greenwald |
Glenn Greenwald
escreveu que “o
poder mais extremista que um governante pode exercer é o poder de executar seus
próprios cidadãos sem culpa formada, sem provas, sem devido processo legal, sem
estado de guerra, longe de campos de batalha. O governo Obama se autodelegou
exatamente esse poder – e não só em teoria: já o exerce também na prática”.
É poder
de ditador. Dizer que Saddam Hussein e Muammar Gaddafi tinham e exerciam esse
poder foi parte da demonização dos dois como “ditadores brutais”; foi
justificativa para derrubar seus respectivos governos, para assassinar os
ditadores e para matar, em massa, apoiadores deles.
Que
ironia! Hoje, o presidente dos EUA assassina seus opositores políticos,
exatamente como Saddam Hussein assassinava os dele. Quanto tempo falta para que
os nomes de quem critique o governo Obama sejam transferidos, das listas de
“proibidos de viajar de avião” [orig.“no-fly list”], para as listas de
extermínio?
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