Adriano
Benayon* –
29.01.2013
Texto
enviado pelo autor
Novos dados informam que somente cinco
bancos têm ativos de 8,5 trilhões de dólares, o equivalente a 56% do PIB dos
Estados Unidos: JP Morgan Chase, Goldman Sachs Group, Citigroup, Bank of America e Wells Fargo.
02. Os dez
maiores bancos do mundo teriam US$ 6,4 trilhões dos mais de US$ 30 trilhões
aplicados nos paraísos fiscais (offshore). Somente 92 mil pessoas
(0,001% da população mundial) possuem US$ 10 trilhões nessas localidades. Nos
EUA só 400 indivíduos teriam riqueza igual à de 50% da população do
país.
03. Aí estão
ilustrações do que tenho exposto: os concentradores aumentam seu poder durante a
depressão econômica e não têm interesse em que ela acabe.
04. Durante
as fases de crescimento real da economia, após certo tempo, a finança começa a
crescer mais que a produção de bens e serviços, inclusive porque os lucros
crescem mais rápido que os salários.
05. Além
disso, no setor produtivo as fusões e aquisições de empresas levam a aumento da
concentração. Após um tempo, os salários, exceto o de muito poucas categorias,
começam a decrescer em termos reais, perdendo para a inflação dos
preços.
06. Paralelamente, como é natural, a
demanda por bens e serviços só aumenta através do crédito, formando-se as
bolhas, como foi o caso da imobiliária nos EUA, apontada como desencadeadora do
colapso financeiro iniciado em 2007/2008.
07.Entretanto, essa não é a única nem a
principal bolha. As principais decorrem de manipulações nos mercados
financeiros, como foi a das ações de empresas de informática (1997/2001) e a
imensa que a ela se seguiu, a dos derivativos.
08. Nesta
foram gerados mais de 600 trilhões de dólares, nos computadores do sistema
financeiro: títulos montados em cima de outros títulos e de coisas irreais,
como: apostas em inadimplência de títulos (credit default swaps) e em índices de
taxas de juro, de taxas de câmbio; operações de hedge, ou seja, jogando, ao mesmo tempo,
na alta e na baixa dos mesmos títulos. Até emprestando a um país e apostando na
elevação dos juros dessa dívida, como fez o Goldman Sachs com a Grécia, entre
outros.
09. Assim, a
par da concentração e maior oligopolização dos setores produtivos, a
financeirização da economia foi assumindo dimensões gigantescas. Ela se pode
definir como a formação de ativos financeiros em proporção exponencialmente
maior que a dos ativos reais e produtivos.
10. Após
anos nessa escalada, é natural que os preços desses ativos também aumentem
exponencialmente e que, em determinado ponto, se verifique sua irrealidade, o
que dá início ao estouro das bolhas.
11. Esse
ponto foi atingido em 2007/2008, e a partir daí os preços dos ativos começam a
cair. Os devedores viram-se presos numa armadilha, pois continuaram tendo que
pagar as dívidas, e muitos deles não mais o puderam fazer, tendo suas casas sido
tomadas pelos bancos.
12. Hoje nos
EUA as dívidas dos estudantes ultrapassaram US$ 1 trilhão, e os saldos devedores
dos cartões de crédito chegam a U$ 800 bilhões.
13. Em
2007/2008, as empresas de muitos manipuladores financeiros entraram em
dificuldades, embora não os seus donos e executivos, que haviam transferido,
para si mesmos em outras destinações. a maior parte dos lucros com a
especulação, movida através de alta alavancagem (uso de margem mínima de capital
próprio nas operações financeiras).
14. Os
grandes bancos ficaram praticamente falidos quando a bolha levou a perceber que
o valor real dos derivativos não correspondia senão a pequena fração, próxima a
zero, do valor nominal desses títulos.
15. Então,
por que não foram liquidados, o que teria permitido aos Tesouros nacionais dos
EUA, e de vários países europeus, por exemplo, sanear as finanças e a
economia?
16. Porque
os Tesouros e os bancos centrais os salvaram, com dezenas de trilhões de dólares
e de euros dos contribuintes e principalmente com emissões de dinheiro
(especialmente nos EUA) e de títulos públicos, inclusive adquirindo pelo valor
nominal os títulos podres dos bancos e empresas financeiras.
17. Os
pseudo-governos desses países têm o desplante de dizer que são democráticos. Os
grandes bancos os controlam, como controlam os “mercados
financeiros”.
18. Tal é a
manipulação nesses mercados, que, apesar das dezenas de trilhões de dólares
criados do nada , o preço do ouro permanece no patamar em que terminou o ano de
2011 (US$ 1.650 por onça), depois de haver atingido naquele ano o pico de quase
US$ 2.000.
19. O
jornalista financeiro Evans-Pritchard
publicou artigo no The
Telegraph, de Londres
(15.01.2013), em que diz estar o mundo caminhando para um padrão-ouro de fato,
no qual o metal teria peso comparável ao do dólar e do euro. Não cogita da moeda
chinesa e de outras com potencial de solidez.
20. Ele se
baseia no relatório “GFMS
Gold Survey for 2012” , segundo o qual os bancos centrais compraram mais ouro em 2012 do que em qualquer tempo, por quase meio século, aumentando suas reservas
em 536 toneladas.
21. Como ele
recorda, os bancos centrais de países da órbita anglo-americana (Reino Unido,
Espanha, Holanda, Suíça e outros) firmaram, há anos, o acordo de Wahington,
comprometendo-se a regularmente fazer vendas de ouro, sustentando as moedas
inflacionadas (dólares principalmente).
22. Nessas
operações – especialmente o Banco da Inglaterra - tiveram enorme prejuízo, pois
o preço do ouro aumentou de US$ 300 em 2003 para o atual nível, superior a US$
1.600.
23. Outro
sinal foi a decisão do parlamento da Alemanha de trazer ao país seus estoques de
ouro guardados nos EUA e na França, havendo dúvidas sobre se os EUA ainda têm o
que oficialmente consta.
24.Há
enorme potencial para as compras principalmente pela China, que teria o projeto
de elevar suas reservas de ouro para 2% de suas reservas totais.
25. Isso
ainda é muito pouco já que o dólar e o euro não têm condições de justificar o
otimismo, do ponto de vista do cartel dos bancos, de que essas duas moedas
permaneçam como as principais divisas mundiais.
28. Próximo
artigo: a situação do Estado no Brasil e na Argentina.
Adriano
Benayon*
é doutor em economia e autor do livro “Globalização versus
Desenvolvimento”.
excelente artigo, parabéns pelo blog, sou leitor contumaz.
ResponderExcluirGrato Jonathan
ExcluirTentamos caprichar...
Abraço
Castor