6/2/2013, MK
Bhadrakumar*, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Xi Jinping, Secretário Geral do Partido Comunista Chinês |
Oito anos depois de começar a
produzir um plano para diminuir a crescente diferença de renda no país, Pequim
afinal expôs, ontem, as linhas gerais da reforma proposta. Matéria
distribuída pela rede Xinhua
reconhece “a crescente preocupação, na opinião pública, sobre a crescente
diferença de riqueza” na população da China.
Chama
a atenção que a nova liderança em Pequim mostre clara disposição para atacar o
problema já desde os primeiros dias de governo. É questão central da economia
política da China.
Tem
potencial para ameaçar a estabilidade social e afetar a legitimidade do sistema
político, além da credibilidade do Partido Comunista, e a questão não poderá ser
deixada de lado, uma vez que afeta diretamente o reequilibramento da economia
nessa nova fase da estratégia de crescimento chinês, baseada no consumo interno.
Mas
é um saco de vermes, sendo a natureza humana – e os “interesses de classe” – o
que são. Grupos de interesse fortemente entrincheirados, o que, no contexto
chinês, inclui poderosas empresas monopolistas e bancos estatais, não cederão
facilmente à ideia de buscar lucros difíceis, para que o estado os redistribua.
Li Keqiang |
E
há também as elites acionistas do status quo, que resistirão. Por outro
lado, a questão está associada à corrupção rampante. Mas, dado que o
reequilibramento da economia chinesa depende mais dos gastos de consumo e menos
de exportações e investimento, é indispensável pôr mais dinheiro na bolsa do
povo de baixa renda, ou o consumo não crescerá. Na direção oposta, os ricos
tenderão a entesourar qualquer renda adicional.
O
anúncio das novas orientações indica e destaca que Xi Jinping, chefe do Partido
Comunista e o já indicado primeiro-ministro Li Keqiang sentem a urgência da
tarefa de enfrentar imediatamente essa questão explosiva, que pode ameaçar o
sucesso da estratégia de crescimento e disparar a agitação social.
As
novas orientações visam a obter que:
(A) a
renda média real de habitantes das áreas urbanas e rurais seja dobrada até 2020
e o grupo de renda média seja expandido.
(B) Mais
80 milhões de pessoas sejam retiradas da situação em que vivem abaixo da linha
de pobreza até 2015, dos 128 milhões que vivem em áreas rurais definidos como
“pobres”.
(C)
Delineiam-se medidas para aumentar a renda dos agricultores; para criar
instrumentos de segurança social para trabalhadores rurais migrantes; para
ampliar a segurança social e promover a empregabilidade, dentre outras medidas.
Sitaram Yechury |
Sugerem-se
– e é interessante – redução nos salários dos altos quadros administrativos.
Propõem-se medidas para aumentar a porcentagem dos lucros que as empresas
estatais devem repassar ao Estado – e essa quantia adicional irá para a
segurança social. Esse, de fato, é um dos aspectos mais duros da reforma.
Atualmente, as empresas estatais pagam 5-15% de seus ganhos ao Estado, mas o
dinheiro quase sempre retorna ostensivamente a elas para novos investimentos.
A Índia
tem o que aprender da experiência chinesa. Na
Índia, a desigualdade de renda dobrou nos
últimos 20 anos. A natureza predatória das políticas neoliberais é
escandalosamente evidente no dia-a-dia. A questão é que a estratégia de
crescimento da Índia também chegou a um beco sem saída, como explica hoje no Industan
Times, o
veterano líder marxista Sitaram Yechury.
A
legitimidade de um sistema político depende, em última instância, da disposição
– melhor dizendo, do empenho – que os líderes políticos manifestem para a tarefa
de identificar as reais questões chaves da vida do povo. Não parece haver
dúvidas de que Xi deseja emergir como líder “diferente”.
Xi Jinping, visita camponeses pobres |
Deixando
de lado a superficialidade e o formalismo que é endêmico em estados cuja
autoridade não é discutida, Xi parece estar
buscando a simpatia do homem comum, falando-lhe
diretamente, atentamente e compassivamente. Claro que o perigo está sempre à
espreita, quando um alto comandante dá sinais de ouvir os sonhos do povo, porque
esperanças traídas não se reparam facilmente.
Do
modo como as novas orientações que Pequim acaba de anunciar venham a ser
mapeadas, com esquemas de apoio e regras detalhadas, e de como sejam
implementadas naquele vastíssimo país, dependerá, doravante, o sucesso do
Partido Comunista Chinês.
*MK
Bhadrakumar
foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista
em questões do
Afeganistão e Paquistão e escreve
sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as
quais
The
Hindu, Asia Online e Indian
Punchline. É o filho mais
velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e
militante de Kerala.
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