domingo, 4 de julho de 2010

Grande Aiatolá Sayyed Fadlullah (16/11/35-4/7/2010): Apoio à Resistência e à Unidade

Aiatolá Sayyed Mohamad Hussein Fadlullah lider da Resistência no Líbanon e em todo o OM

4/7/2010, Hussein Assi, Al-Manar TV, Beirute – Traduzido por Caia Fittipaldi

O Grande Aiatolá Sayyed Mohamad Hussein Fadlullah, que faleceu hoje, é referência e uma das mais proeminentes autoridades religiosas no mundo muçulmano.

Sua longa experiência no ensino da jurisprudência e no monitoramento constante das mais recentes tendências políticas e literárias das principais escolas religiosas levaram-no a fundar sua própria escola e a ser ouvido por milhares de crentes muçulmanos no Líbano e na Região.

Mas Sayyed Fadlullah não foi notável só por suas posições religiosas e pelo status que adquiriu na hierarquia religiosa. Sua Eminência também foi intelectual conhecido como líder espiritual da Resistência no Líbano e na Região.

O conflito árabe-israelenses, a causa Palestina, a luta contra a hegemonia dos EUA, e as características do Estado sempre foram temas dos sermões das 6ªs-feiras, de suas conferências, aulas, escritos e discursos.

É autor de várias “fatwa” que ordenam combater Israel e boicotar produtos dos EUA e qualquer tentativa de normalizar relações. Durante toda sua vida foi “autêntico apoiador” da unidade de todos os islâmicos.

A JIHAD RELACIONADA AO CONCEITO DE AUTODEFESA

Para Sayyed Fadlullah, o conceito de Resistência relaciona-se intimamente ao princípio da Jihad no Islã. Para Sua Eminência, a Jihad no Islã é movimento de luta que visa a impedir que o inimigo imponha sua hegemonia sobre a terra e os povos mediante violência, para confiscar a liberdade, matar, roubar riquezas e impedir que os povos exerçam seus direitos de autodeterminação. Assim, Jihad é enfrentar violência com violência, força com força, nos momentos de confronto; em alguns momentos, a Jihad deve ser defensiva; em outros, preventiva.

Por essa via, Sayyed Fadlullah conclui que a Jihad não difere dos conceitos humanos e civilizados da autodefesa. Manifesta a natureza humana de autodefender-se, ou de evitar que outros se capacitem para agressão repentina. Nisso, o Islã trabalha a favor de todos os valores humanos de todas as civilizações.

Mas Sayyed Fadlullah chama a atenção: convocar a Jihad não implica legalizar a violência e a força em diferentes comunidades. Para Sua Eminência, é ilegal e implica agressão usar a força sistematicamente contra outros, ainda que sejam crentes de outras religiões, de outras etnias ou diferentes por qualquer critério. A Jihad no Islã não implica usar violência contra infiéis, mas, só, contra agressor violento.

Na conclusão, Sayyed Fadlullah ensina que os que usam bombas para matar gente inocente, os que fazem explodir carros-bomba, matando mulheres, crianças, idosos e jovens inocentes, minam a imagem do Islã e dos muçulmanos e divulgam idéias erradas sobre o Islã, que é religião da tolerância, e seus crentes.

A RESISTÊNCIA ISLÂMICA LIBERTOU O LÍBANO

Segundo Sayyed Fadlullah, se se conhece a história da resistência, vê-se que a Resistência Islâmica foi o único movimento que teve papel decisivo na libertação do Líbano em 2000 e na vitória contra Israel em 2006.

À luz dessa história, não se pode admitir as acusações de não-patriotismo que se fizeram contra a Resistência. É acusação que levanta várias perguntas: O que significaria defender o Líbano, além de libertar o país e sacrificar na luta seus melhores filhos? Serão patriotas os que – durante e depois da guerra civil – colaboraram com Israel, em momento em que líderes israelenses, inclusive (o ex-primeiro ministro Ariel) Sharon, visitavam o Líbano para preparar a invasão e esmagar a resistência palestina nesse pequeno país?

Não têm qualquer fundamento, portanto, as acusações de que os xiitas seriam não-patriotas e sem raízes. Para Sua Eminência, os xiitas do Líbano creem e abraçam a identidade libanesa e defendem interesses do Líbano; por isso ofereceram ao Líbano a vitória sobre Israel, tanto quanto ao mundo árabe e ao mundo muçulmano.

REGIMES SECTÁRIOS CRIARAM CISMA ENTRE SEITAS

Empenhado defensor da unidade de todos os islâmicos, Sayyed Fadlullah sempre combateu todos os sectarismos políticos.

Para Sua Eminência, o regime sectário libanês criou um cisma entre várias seitas, fenda pela qual as potências internacionais tentaram infiltrar-se. Mais que isso, o tumulto no Líbano foi resultado de situação minada pelo sectarismo político, acrescido de inúmeras complicações surgidas entre algumas seitas. Resultado desse processo, cada seita buscou o apoio de um determinado Estado estrangeiro, buscando dominar todas as demais seitas.

Sayyed Fadlullah diz que os xiitas muçulmanos sempre foram o único grupo que jamais admitiu que qualquer potência estrangeira invadisse a arena política doméstica no Líbano, sem jamais deixar de manter-se abertos às demais seitas. As experiências de Sayyed Moussa al-Sadr comprovam essa abertura. Sempre foi aberto a todos e fundou o “Movimento dos Pobres”, que sempre recebeu pessoas de todas as seitas. Os xiitas, diferentes dos demais grupos, não dependem de qualquer associação com potências estrangeiras, para defender os interesses próprios e do Líbano.

TODOS ASPIRAMOS A CONSTRUIR UM ESTADO FORTE, CAPAZ E SÁBIO

Sayyed Fadlullah sempre disse que todos aspiramos a construir um Estado forte, capaz e sábio que proteja os mais pobres. Mas os defensores do Estado e os encarregados do governo laico nunca cuidaram de construir capacidades para proteger o Estado contra as agressões de Israel, ameaça que ainda pesa sobre o Líbano, até hoje.

Para construir um estado justo e forte no Líbano, sempre será necessário considerar várias regras, cujos traços principais devem ser desenhados por diálogo nacional amplo e transparente – e que terá necessariamente de traçar bases realistas para defender o país contra Israel, ameaça estratégica maior que o Líbano enfrenta. Desse diálogo nacional transparente nascerão os indispensáveis elementos de confiança que tanta falta fizeram em outros momentos iniciais do processo.

Por tudo isso, é preciso esclarecer o conceito de Estado: Estado que interesse construir e manter deve impor limite legítimo, legal e racional à movimentação de embaixadores estrangeiros no Líbano, para impedir que intervenham nos assuntos de política interna, em ação que cause danos à coexistência entre os diferentes grupos e acaba por jogar um lado contra outros. Deve também por fim à tutela direta que pratica hoje a Embaixada dos EUA. Os embaixadores dos EUA devem obedecer às mesmas regras regulares, as regras e os canais diplomáticos regulares, rejeitando-se qualquer influência, tanto quanto dos demais embaixadores, nos assuntos internos do Líbano. Essa, para Sayyed Fadlalluh, é de fato a base primária sobre a qual se deve por o Estado, que resultará em efetiva independê ncia do Líbano, protegido contra a ação das garras da tutela de norte-americanos e outros.

A POLÍTICA NORTE-AMERICANA É O MAL. DELA NÃO ADVIRÁ QUALQUER BEM

A rejeição, por Sayyed Fadlullah, do tipo de conduta conhecida dos embaixadores dos EUA no Líbano nada tem de especial, se se conhecem os atos de flagrante intervenção dos EUA nos negócios internos do Líbano e, também, se se consideram as opiniões de Sua Eminência sobre a política dos EUA para a Região.

Para Sayyed Fadlullah, os EUA, com sua política que aspira a impor a hegemonia a todo o planeta, é o mal, e dela não advirá qualquer benefício para os Estados-alvo. É o que já se vê no apoio incondicionado dos EUA à entidade israelense inimiga, em guerras que vão do Líbano à Palestina.

No Iraque, também se pode ver que a política dos EUA fala por ela mesma: a guerra dos EUA contra o Iraque muito interessa aos israelenses, porque tudo que enfraqueça os poderes que possam enfrentar Israel na Região os interessa. O potencial econômico, humano e científico do Iraque começava a se constituir, quando as políticas de um ditador amigo dos EUA, num certo momento, deram aos EUA o pretexto de que precisavam para destruir o Iraque e todos os seus potenciais. Além disso, os EUA querem por as mãos no petróleo do Iraque, mais um passo na direção de controlarem todo o petróleo e todos os recursos estrategicamente importantes que há no mundo. Todos são vistos pelos EUA como inimigos potenciais, inclusive a União Europeia e o Japão.

TODOS OS PRODUTOS DE EUA E ISRAEL DEVEM SER BOICOTADOS

Os EUA, que deixam morrer e matam milhares de palestinos diariamente pelas mãos de Israel, jamais se preocuparão com interesses de iraquianos, árabes ou muçulmanos. Sayyed Fadlullah tornou-se nome conhecido em toda a Região, por pregar o boicote contra todos os produtos de EUA e Israel.

Para Sua Eminência, é preciso boicotar todos os bens e produtos fabricados nos EUA e Israel, como arma para lutar contra os interesses desses Estados e como meio para conter a guerra sem fim que movem contra o Islã e os muçulmanos, sob o pretexto de combaterem o terrorismo. Esse boicote deve atingir proporções tais que criem real ameaça contra as economias daqueles países, no presente e no futuro.

AS LIÇÕES DE SAYYED FADLULLAH PERMANECEM VIVAS EM SUA ESCOLA

Essa matéria é tentativa de resumir as principais idéias de Sayyed Fadlullah sobre a Resistência e as ameaças que pesam sobre todos na Região, vindas de EUA e Israel.

Para aprofundar e divulgar essas idéias, Sayyed Fadlullah e seus discípulos criaram uma escola de construção e difusão de crenças e pensamentos que continuarão comprometidos com a defesa das grandes causas do Islã, da Jihad à Resistência, na defesa contra todas as ameaças que pesam sobre a Região.

O Grande Aiatolá Sayyed Mohamad Hussein Fadlullah permanece vivo e potente aos olhos de quantos tiveram a felicidade de conhecê-lo. Seus ensinamentos continuarão a circular de geração em geração.

O artigo original, em inglês, pode ser lido em: Sayyed Fadlullah… A True Supporter of Resistance and Unity