terça-feira, 30 de outubro de 2012

Debates eleitorais nos EUA-2012: a agenda dos jornalistas “moderadores”


O que todos os jornalistas perguntam e o que nenhum jornalista pergunta

26/10/2012, FAIR-Fairness and Accuracy in Reporting
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Entreouvido na Vila Vudu: Sinal de avanço considerável nos debates pré-eleitorais no Brasil é que, aqui, os jornalistas empregados das empresas-imprensa já estão contidos, exclusivamente, na função de cronometradores.
Só depois de encerrada a votação, as empresas-imprensa liberam seus empregados para que digam, ao vivo, todas as asneiras que lhes ocorram às cabeças mal informadas, à guisa de “análises”, e façam todas as perguntas viciadas e preconceituosas que lhes ocorram às cabeças idem.
Assim se preserva no Brasil, melhor do que nos EUA, a lisura democratizatória das eleições: resistindo o mais possível à ação DES-democratizatória de jornalistas empregados de empresas-imprensa viciosas, quando não são empresas ativamente fascistizantes.
Mas não se conclua daí que os jornalistas das empresas-imprensa brasileira sejam qualitativamente melhores que outros. Não são.

Os jornalistas das empresas-imprensa no Brasil são os piores do mundo e impingem aqui, a consumidores PAGANTES, o pior jornalismo do mundo.

No Brasil, de diferente, é que a democracia que está hoje em reconstrução já é muito melhor que a decrépita e já quase completamente inoperante democracia norte-americana.
Jornalistas e jornais são, em todo o mundo em que reina a empresa-imprensa do capital, agentes de uniformização da opinião das massas, agentes de criação de consumidores para mercados de opinião & consumo, que são mercados como quaisquer outros e exigem comportamento/ pensamento/ opinião uniforme, de manada – o que o próprio jornalismo existe para construir, e as empresas-imprensa para modelar como produto e vender (Gramcsi dixit).

Mas é interessante ver que, nos EUA, o negócio é MUITO PIOR do que aqui!
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Os jornalistas do establishment das empresas-imprensa que moderaram os debates eleitorais dos candidatos dos dois principais partidos às eleições presidenciais de 2012 nos EUA mantiveram a discussão contida numa pauta absurdamente estreita. Os analistas de FAIR comentam.

Imensa quantidade de temas não foram trazidos à discussão pública coordenada por jornalistas, nas seis horas totais de debates televisionados. Dentre temas econômicos, ninguém perguntou a ninguém sobre miséria, desigualdade de renda, crise de moradia, sindicatos, agricultura ou sobre a ação do Fed - Federal Reserve.

As questões sociais também foram truncadas: nenhuma pergunta sobre raça, racismo, direitos dos gays (inclusive o direito ao casamento, para pessoas do mesmo sexo), liberdades civis, justiça criminal ou legalização de drogas. Apesar de haver quatro juízes na Suprema Corte já com idade superior a 70 anos, nenhum jornalista perguntou aos candidatos sobre que nomes têm em mente para futuras indicações à Suprema Corte ou a outros postos do Judiciário cuja indicação é prerrogativa do presidente.

Nem uma única referência à mudança climática, que, para muitos eleitores é a principal ameaça que pesa hoje não só sobre os EUA, mas sobre a humanidade – e foi a primeira vez que essa questão não veio à tona em ciclo de debates presidenciais desde 1984 (Treehugger, 22/10/2012). Nenhum tópico da pauta dos ambientalistas foi discutido – a menos que se inclua como tal a pergunta sobre preços da gasolina, proposta por um dos eleitores no debate em que havia eleitores presentes.

Temas internacionais, só sobre fatia estreitíssima do mundo; nenhuma pergunta sobre América Latina, África Subsaariana ou Europa, Rússia incluída.

O que perguntaram os jornalistas?

FAIR analisou os temas levantados nas perguntas propostas pelos jornalistas moderadores nos três debates presidenciais e no debate entre os candidatos a vice-presidente, e as perguntas propostas por candidatos indecisos selecionados pela jornalista Candy Crowley para o debate de 16/10 (tema surgido em mais de uma pergunta em cada segmento do debate foi contada como única referência ao tema).

FAIR contou 28 tópicos mencionados, no total, 53 vezes, em 35 segmentos de debate. 22 menções foram classificadas como “questão econômica”; 20, como “política externa”; e 10, como “políticas sociais”. Outras oito menções foram classificadas como “outros” – sobre caráter, táticas de campanha ou o legado George W. Bush. (Alguns tópicos – como “comércio” – foram classificados em mais de uma categoria).

Embora a questão n.1 entre os eleitores seja, com larga diferença à frente das demais, “empregos”, e tenha sido tópico citado com frequência nas perguntas, os jornalistas perguntaram duas vezes mais sobre “empregos” no quadro amplo da economia e em relação ao orçamento federal, que tratado como tema autônomo: 11 vezes na modalidade “diluída” versus 5 vezes em pergunta direta. A questão do déficit apareceu três vezes; impostos, quatro vezes; Seguridade Social e Medicare apareceram duas vezes cada tema, sempre no contexto dos gastos federais. O tema “comércio” só foi mencionado uma vez.

As perguntas de política internacional concentraram-se pesadamente no Oriente Médio e nos conflitos nos países de maioria muçulmana. Líbia e Afeganistão foram citados três vezes nos debates; Irã e Síria, três vezes cada; e Israel, Paquistão e Egito, só foram referidos num único segmento. À parte um momento, em que falaram da China, nenhum jornalista perguntou a nenhum candidato sobre qualquer outra região do planeta.

Nem todas as questões de política internacional, consideraram só uma parte do mundo; em seis outros segmentos dos debates houve questões sobre os militares, política de segurança ou política internacional em geral. Uma dessas foi sobre a guerra de drones; mas o jornalista moderador Bob Schieffer (22/10/2012) assumidamente nada perguntou ao presidente responsável pela guerra dos drones:

“Pergunto ao senhor, governador, porque já conhecemos a posição do presidente Obama sobre isso: qual sua posição sobre o emprego dos drones?”

Nas relativamente poucas perguntas sobre políticas sociais, atenção à saúde apareceu três vezes – incluídos dois segmentos em que a pergunta foi sobre a contribuição do Medicare para o aumento do déficit. Por duas vezes levantaram-se questões de gênero; controle de armas, só uma vez.

Importante – e absolutamente sem importância

Não houve tempo para discutir número altíssimo de temas políticos criticamente importantes, mas os jornalistas moderadores encontraram tempo para fazer perguntas absolutamente sem sentido. Por exemplo, Jim Lehrer (3/10/2012) perguntou aos candidatos a presidente: “O governo federal tem alguma responsabilidade na melhoria da educação pública nos EUA?” (Esperava talvez que Romney dissesse que não? Obama?) Ou o que Martha Raddatz perguntou aos candidatos a vice-presidente (11/10/2012):

“Se eleito, o que podem os senhores oferecer a esse país, como homem, como ser humano, que ninguém poderia dar, se não cada um de vocês?”

As perguntas selecionadas pelos moderadores nos debates refletem, presumivelmente, as questões que os jornalistas conhecidos da imprensa-empresa do establishment veem como importantes – e como desimportantes. Bem claramente, os jornalistas moderadores consideram mais importantes as questões do orçamento federal, do que os eleitores, ao serem convidados a indicar o principal problema que o país enfrenta.

As perguntas podem também refletir pressões partidárias: consideradas as perguntas propostas pelos moderadores, a principal questão de política internacional que os EUA enfrentariam hoje seria o assassinato do embaixador dos EUA na Líbia – importância difícil de explicar, se não se considera que a campanha de Romney definiu esse evento como uma das fontes principais de críticas contra a política externa do governo de Obama.

As influências partidárias e do próprio establishment da imprensa-empresa não devem surpreender ninguém, dado que a Comissão para os Debates Presidenciais é absolutamente controlada pelos dois principais partidos, e as campanhas podem vetar nomes de jornalistas para operarem como moderadores (FAIR Media Advisory, 3/10/2012) – modelo de debate que jamais permitirá que se façam perguntas realmente relevantes, sobre temas realmente importantes e diversificados.

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