29/10/2012, Robert E. Prasch, Translation Exercises
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Falguni A. Sheth |
Robert E. Prasch |
Os
que acompanham a blogosfera política sabem, sem dúvida, dos muitos ataques que
sofreram vozes tradicionalmente muito respeitadas do campo da esquerda
norte-americana, que concluíram que, afinal, é hora de votar em “outros”
partidos. Fartos de, mais uma vez, como aconteceu em 1996, 2000 e 2004, serem
forçados a votar “no mal menor” cansaram-se, de vez, da “velha lenga-lenga”. E
que é velha, é. Alguns leitores lembrarão dos bottons que nos mandavam
votar no neoliberal e pró-guerra do Iraque, John Kerry, contra o neoliberal e
pró-guerra do Iraque, George W. Bush, em que se lia: “Kerry é menos merda”.
Mas
queria falar de outra questão, relacionada a essa. O que, exatamente, diziam
esses novamente muito falantes apoiadores de Obama, no final de 2008 e início de
2009, quando o governo estava montando e alocando seu pessoal, para implantar as
políticas e as decisões que prepararam o campo para o que se vê hoje e para a
disputa que eles mesmos enfrentam hoje? Não se perguntam, sequer, como é
possível que um presidente que mobilizou entusiasmo tão apaixonado e tanta
esperança há apenas poucos anos, esteja hoje a um passo de perder as eleições?
Timothy Geithner |
Afinal
de contas, Obama compete contra sujeito que passou praticamente toda a sua vida
adulta agindo como o mais rematado, o mais consumado predador capitalista. E
está acontecendo, apesar de a maioria dos norte-americanos excluídos do topo,
que não são a elite que paga 10-20% de impostos, continuarem a viver os piores
tempos da economia de toda a vida de todos os norte-americanos hoje vivos. Será
que todos concordam, pelo menos, com que – exceto Richard Nixon – a queda
vertiginosa na popularidade de Obama, apesar dos golpes de mão que a tem
disfarçado, representa um dos mais completos fracassos na história dos líderes
políticos nos EUA de toda a história do pós-guerra?
Não
é difícil encontrar a causa subjacente desse fracasso monumental.
Obama-presidente-eleito e seu círculo íntimo de conselheiros erraram
completamente na avaliação do momento político. A nação realmente queria
mudanças significativas – e a tal ponto queria, que o país dispôs-se a eleger um
presidente “não regular”, um negro (o que é evento notável, se se considera a
ininterrupta história de racismo nos EUA).
Lawrence Summers |
Então, não se sabe como, Obama e
seu círculo mais próximo deram jeito de convencerem-se, eles mesmos, de que
bastaria dar uma reciclada na desgastada ideia de fazer uma “triangulação”
[2] a partir do primeiro mandato de
Clinton, e tudo daria certo. A partir desse exato momento, Barack Obama e seus
principais conselheiros nada fizeram, além de se distanciar de sua principal
base de apoio. Duas semanas depois da eleição, o governo anunciou que Lawrence
Summers e Timothy Geithner – indivíduos cujo currículo recente, individual e
coletivamente, já bastava para assegurar que ambos seriam fracasso gigantesco
como servidores públicos – foram nomeados para conduzir a recuperação econômica.
A
nomeação da dupla mostrava e o desempenho da dupla confirmou amplamente que
“esperança e mudança” nunca haviam passado de slogan e que não, de modo algum, haveria
nem qualquer mudança nem qualquer esperança nas políticas econômicas de Obama. A
dupla, sem dúvida possível, cuidou de recuperar as fortunas de Wall Street e só. Não deram sequer um
passo na direção de recuperar a riqueza de mais ninguém nos EUA.
Dia
1/12/2008, o governo Obama anunciou que Robert Gates permaneceria como
Secretário de Defesa. Gates, caso alguém tenha esquecido, é mais que o homem que
George W. Bush nomeou para dar rumo às guerras imorais, infindáveis e
absolutamente sem rumo de Bush, com a missão extra de estendê-las para o resto
do planeta, via o (então nascente) programa dos aviões-robôs armados, os
drones. É mais que isso. Como ex-vice-diretor da CIA, Gates escapou por
um fio de ser julgado e condenado por sua atuação no escândalo dos “contra”
iranianos. Ainda que se conceda que as investigações, em 1991, sobre sua atuação
tivessem sido excessivas (e talvez não tenham sido), Gates sempre foi muito
intimamente associado à criminalidade rampante durante o governo Reagan, para
ser nomeado até recolhedor de cachorro sem dono, muito menos, é claro, poderia
ter sido nomeado para o cargo de Secretário da Defesa. Que homem daqueles jamais
poderia participar de governo do Partido Democrata, nem é preciso dizer.
E
quanto à reforma financeira? A indicação de ex-gerentões de Goldman Sachs e
Citibank para inumeráveis cargos na Commodity Futures Trading Commission (CFTC) ou na Securities & Exchange Commission (SEC) e por todos os cantos, sugere a
qualquer dos mais resistentes e obcecados seguidores de Obama que “esperança e
mudança” teria papel decisivo na agenda governamental? Se sugere, ainda falta
explicarem como conseguiram chegar àquela conclusão.
Rahm Emanuel |
Para
não perdermos o foco: alguém aí, entre os obamistas, realmente pensa que Rahm
Emanuel liderará mudança à esquerda, dentro do Partido Democrata? Não há quem
não saiba que Emanuel consumiu a vida inteira como pau mandado, na era Clinton,
para combater a ala mais progressista dentro do Partido Democrata. Alguém
esperava que mudasse radicalmente, só porque foi nomeado braço direito do
Presidente? É? Alguém acredita nisso? E nem vou começar a falar sobre o empenho
apaixonado com que Obama deu andamento à agenda de “livre comércio” de Bush ou
aos planos (afinal, nunca foram tão secretos assim!) de cortar os benefícios da
Seguridade Social e do Medicare.
Repetindo:
todas as nomeações listadas acima foram anunciadas depois da eleição e antes da
posse. Foram anunciadas antes de Obama revelar que não tinha qualquer
intenção de cumprir o núcleo duro das promessas de campanha. Antes de Obama
começar a perseguir os valentes “vazadores” de informação correta que
distribuíram a verdade sobre os crimes de guerra da era Bush e os sistemas e
programas ilegais de vigilância sobre os cidadãos. Antes de Obama silenciar as
acusações contra os que realmente cometeram aqueles crimes. Essas violências,
como hoje se sabe, faziam pleno sentido, porque, em seguida, o próprio governo
Obama se poria a cometer os mesmos crimes, em versão ainda pior – de fato, em
modalidade grotesca – do que o país algum dia conheceu, em matéria de violentar
a Constituição dos EUA, durante a era Bush.
Sejamos
claros: nenhum presidente dos EUA reclamou para si mesmo, em tempo algum, o
direito de assassinar cidadãos norte-americanos, selecionados de uma lista de
alvos, das quais o presidente pode escolher quem bem entenda, sem ter de
informar a quem quer que seja e sem que nenhuma outra instância possa revisar a
decisão presidencial de matar norte-americanos.
Matt Stoller |
Meu ponto
é bem simples: os norte-americanos já foram traídos. A traição não foi instigada
por Glenn Greenwald,
Matt Stoller, pelo
blog Black Agenda Report, ou por
qualquer outra voz do campo progressista ou da esquerda. O que esses autores
fazem é expor as traições, para que os eleitores as vejam.
O pessoal que traiu a antes
vibrante e esperançosa coalizão que, em 2008, elegeu Barack Obama à presidência
está lá, abrigada na Casa Branca. Aquela traição não é coisa de acaso ou das
circunstâncias. Já estava em processo inevitavelmente, modelando as decisões que
foram tomadas antes de 20/1/2009. O que escrevi aqui apenas amplifica um pouco o
que Barack Obama e seus principais assessores e conselheiros já sabiam no
momento em que tomaram posse: que suas prioridades e agendas seriam em grande
parte, se não totalmente ou principalmente, opostas às agendas e prioridades de
seus eleitores e apoiadores. Sempre seria, naquele momento e depois, um copo
“meio cheio” ou, mesmo, só ¼ cheio. Se ouvirem coisa diferente, mandem que lhe
mostrem o copo. [3]
O fato é que o governo Obama,
como, antes dele, o governo Clinton, entraram, sabendo onde entravam, num
movimento cínico. Apostaram que conseguiriam impor uma corte de desatinos,
políticas fundamentalmente odiosas do ponto de vista dos seus eleitores e,
apesar disso, seriam reeleitos. O cálculo baseou-se sempre na premissa de que
Democratas “de partido” jamais teriam alternativa. [4] Não surpreendentemente, o governo
Obama e seus prepostos investiram considerável tempo e energia para convencer os
apoiadores de que não há alternativa.
Qualquer
um que algum dia tenha comprado sabe que o poder de barganha depende, em última
instância, da disposição do comprador para não comprar. A capacidade de dar as
costas ao mau fornecedor explica por que obtemos bons serviços da lavanderia da
esquina e péssimos serviços do nosso provedor de televisão a cabo. Quando se tem
alternativa, o consumidor ganha poder como consumidor (e devo dizer que a regra
vale para o mercado de trabalho, o que explica por que a maioria dos
empregadores gosta muito mais de altas taxas de desemprego, que os seus
empregados).
Nesse
momento, campanha eleitoral profundamente cínica está apostando que os
progressistas e a esquerda em geral terá tanto medo de um governo de Romney, que
nem tentará mobilizar o poder que tem. Essa, vale relembrar, já foi a estratégia
adotada por Comissões Nacionais Democratas cada vez mais de direita, ao longo
de, já, quase 30 anos. A cada quatro anos, nos convocam a votar pelo mal menor.
Em algumas semanas saberemos se a jogada deu certo, para eles, mais uma vez.
A
pergunta é: e teremos aprendido? Teremos aprendido a barganhar contra uma
liderança desencantada, sem fé, do Partido Democrata? Se não aprendermos
agora... aprenderemos quando?
Mas
sejamos bem claros. Vençam ou percam, Rahm Emanuel, Robert Gibbs, David Axelrod,
David Plouffe, Bill Clinton e Barack Obama estarão com a vida ganha. Eles sempre
ganham, com ou sem os votos. Há magníficos empregos em agências de
lobbying, em bancos, como conselheiros, todos com excelentes salários.
Convites para “Conferências”, que venderão a peso de ouro, choverão sobre eles.
A grana conhece seus caminhos e tudo continuará a prosperar. Quanto a isso, que
ninguém se preocupe. E quanto à vida da vasta maioria do povo dos EUA? Os que
apoiaram Obama. Os que votaram em Obama. Os desempregados. Os que tiveram as
casas alagadas e destruídas? Os sem casa? As vítimas das ações fraudulentas de
despejo?
Bem,
há novidades: somos adultos. Eles não podem nos enganar sempre. Não se deixe
enganar mais. Caia fora do velho golpe. Você nada deve a Obama, porque Obama
nada fez por você e nada planeja fazer por você, nem fará – a menos que você
veja alguma vantagem em perder o benefício da Segurança Social e em ser
coadjuvante da farsa da Parceria Trans-Pacífico. Se votar em Obama o deixa menos
desanimado, OK, vote. Mas não há dúvida de que já há muita gente que começa a
pensar de outro modo.
Notas
de tradução
[1]
27/10/2012, “The
progressive case against Obama” [O que os progressistas têm contra
Obama], Matt Stoller, Salon.
[2]
Orig.
Triangulation:
é o nome dado ao que faz o candidato, em disputa política, que se apresente como
“acima” e “entre” a esquerda e a direita do espectro político tradicional nos
EUA e na Grã-Bretanha. Implica adotar parte das ideias de algum adversário
(quase sempre adversário apenas aparente). A lógica desse tipo de movimento é
que os dois lados recebem créditos pelas ideias do oponente e o “triangulador”
fica protegido contra ataques mais virulentos relacionados ao tema
“triangulado”.
[3] Ver 27/12/2011, “Where
is My Half Glass?” [Onde
está a minha metade do copo”, Robert
E. Prasch,
Translation Exercises.
[4]
Ver 30/7/2012, “On
Voting Strategically in 2012: The Ultimatum Game” [Sobre votar
estrategicamente em 2012: o jogo do ultimatum”] Robert E. Prasch,
Translation Exercises.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.