*Adriano
Benayon - 15.10.2012
1.
O jornal Valor publicou, em setembro, artigos de dez “renomados” economistas
sobre a “crise” mundial e seus desdobramentos. Na realidade, trata-se de
depressão econômica, caracterizada por queda, desde 2008, de emprego,
produção, consumo e investimentos, em quase todos os países
“desenvolvidos”.
2.
Pior que esconder a depressão nas estatísticas oficiais é não apontar-lhe a
causa essencial: a concentração dos meios de produção e das finanças sob o
comando de um grupo de pessoas contáveis nos dedos, coadjuvadas por executivos
cujo total não passa de 0,001% da população (mil vezes menos que o falado
1%).
a)
desregulamentação (falta de controles públicos e supressão dos que havia) dos
mercados financeiros, deixados ao bel prazer dos alavancadores dos títulos
podres, como derivativos de 600 trilhões de dólares (nessa moeda e em
euros);
b)
os bancos e financeiras, manipuladores e aproveitadores da criação de títulos,
não arcarem com os ônus dos estragos que produziram, postos nos ombros dos
Estados, que viraram devedores de créditos de que não se
beneficiaram.
4.
Ainda mais importante que entender as causas é atentar para o fato de a
depressão continuar, porque isso interessa à oligarquia financeira,
detentora do real governo nas “democracias”
ocidentais.
5.
De fato, a depressão serve para tornar ainda maior a concentração do capital,
e mais absoluto o poder oligárquico. Serve como? Enfraquecendo ainda mais os
Estados nacionais, dos quais a oligarquia se havia
apoderado.
6.
Com o Estado subordinado aos oligarcas, quem irá conter os abusos tirânicos e
quem propiciará algum espaço à verdadeira economia de mercado, capaz de
viabilizar o desenvolvimento tecnológico através da competição e da demanda em
economias livres da concentração?
7.
Depois do colapso financeiro originado nos derivativos, em vez de se liquidarem
os bancos metidos neles - como de direito, se as sociedades tivessem governos a
seu serviço - os colossais prejuízos decorrentes da especulação foram
transferidos para os Estados, que passaram a ser os grandes
endividados.
9.
No setor “privado” reinam os grandes bancos e os cartéis transnacionais, cada
vez mais abrangentes. Fecham-se as portas do capitalismo a ingressantes da
classe média alta. A oligarquia consolida seu status de
tirania.
10.
Diferentemente do que muitos dizem, a crise econômica atual não provém somente
do liberalismo, mas, sim, de o mundo estar dirigido e regulado
pelos concentradores. Só os oligarcas ficam livres da
regulamentação.
12.
Assim, a função de locomotiva do dinamismo mundial, desempenhada ultimamente
pela China, não deverá prosseguir na mesma intensidade, prevendo-se queda nas
importações de minérios e, portanto, das exportações do Brasil e da
Austrália.
13.
Em conclusão, nada se vê no horizonte, capaz de interromper o presente círculo
vicioso, na maioria dos países, de deterioração das condições sociais e da
infra-estrutura econômica.
14.
EUA e Europa prosseguem emitindo moeda para comprar títulos podres, o que reduz
quedas no valor dos ativos financeiros e das commodities. Mas isso só adia nova
recaída, enquanto avilta, ainda mais, o dólar e o euro, moedas que não mais
deveriam ser aceitas como divisas internacionais.
15.
Muitos recordam que a grande depressão mundial dos anos 30 somente acabou devido
ao choque de procura da Segunda Guerra Mundial, a partir de
1942/43.
16.
Mas então, só nos EUA, foram mobilizadas 14 milhões de pessoas, e agora, os
conflitos armados não geram mais tantos empregos, nem mesmo nas indústrias de
armamentos e nas básicas. Só matam aos milhões, com armas intensivas de
tecnologia.
17.
As agressões a diversos países desde 2001, as quais contribuíram para
elevadíssimos déficits orçamentários, visam elevar os lucros da indústria
bélica, um dos grandes feudos da oligarquia, ademais dos objetivos
imperiais.
19.
Por fim, não há necessidade de novas guerras monstruosas, além de inúteis para
sair da “crise”. A saída não é difícil se pusermos cobro à tirania política da
oligarquia financeira.
20.
Bastaria os Estados assumirem o controle de seus Tesouros e dos bancos centrais,
extinguirem o grosso das dívidas que inviabilizam a sanidade das
economias e promoverem investimentos produtivos estatais e privados no âmbito
de uma economia descartelizada.
21.
Fora disso, i.e., sem transformação das relações de poder, o cenário é mais
depressão, e a dificuldade para essa transformação decorre da
deterioração, em todos os aspectos, da vida dos povos subjugados pelo
império.
22.
Com efeito, a tirania conta, para afastar a revolução, com os frutos de
investimentos, desde há um século, nas indústrias da comunicação social e do
entretenimento e nos sistemas de “educação”, para destruir valores e culturas e
embotar o discernimento, tudo isso potencializado por mais
tecnologia.
24.
É em cima dessas realidades, desconhecidas da maioria, que se monta nos EUA o
mega-espetáculo das eleições presidenciais.
26.
Trata-se, porém, de algo irrelevante, já que, como de hábito, os candidatos dos
dois partidos estão igualmente vinculados à oligarquia concentradora, sediada em
Wall Street, Londres e outras praças-chave da finança
mundial.
*Adriano
Benayon
é doutor em economia e autor do livro “Globalização versus
Desenvolvimento”.
Artigo
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Outros
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- 25/9/2012, redecastorphoto, “A depressão mundial e o Brasil”
- 12/9/2012, redecastorphoto, “Três aniversários”
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- 1/8/2012, redecastorphoto, “O custo da desnacionalização”
Obs.: pode-se ler
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