Publicado
em 09/10/2012 por Mário Augusto
Jakobskind*
Dossiê
Jango, documentário de Paulo Henrique Fontenelle, que concorre a prêmio no
Festival de Cinema do Rio deste ano deveria ser visto pelos integrantes da
Comissão da Verdade. A película mostra que quase 36 anos depois da morte do
Presidente João Goulart ainda pairam dúvidas se ele foi ou não assassinado com a
troca de remédios para o coração por uma substância contendo veneno.
É
lamentável que depois de tanto tempo nenhum dos governos brasileiros se dispôs a
seguir adiante com a investigação que tem por objetivo acabar de uma vez por
todas com a dúvida.
A
Justiça argentina, para vergonha do Brasil, solicitou a exumação do corpo de
Jango, que está enterrado em São Borja. Desta forma se
poderia verificar se procede ou não a hipótese. Há indícios fortes no sentido de
que Jango foi mesmo assassinado.
Por
coincidência ou não, num espaço de poucos meses, além de Jango, dois outros
políticos brasileiros morreram em circunstâncias no mínimo duvidosas. A morte de
Juscelino Kubitschek na estrada Rio- São Paulo, na altura do município de
Resende, voltará a ser investigada pela Comissão da Verdade. Há denúncia de que
o motorista de JK teria sido baleado.
Logo
após o acidente desapareceu o diário que JK escrevia e falou-se que o empresário
Guilherme Romano, muito ligado ao Coronel Golbery do Couto e Silva e também
amigo do ex-presidente, teria se apossado do material que poderia sinalizar
muitos fatos importantes.
Uma
semana antes da morte, quando JK estava em seu sítio em Luiziânia, no Estado de
Goiás, cerca de 60
quilômetros de Brasília, correu o boato segundo o qual o
ex-presidente teria morrido em um acidente da automóvel ao se dirigir à capital
federal. Os repórteres foram acionados e encontraram Juscelino no seu sítio.
Realmente é muito estranho que depois dessa falsa informação tenha ocorrido o
acidente em Resende.
Já
Carlos Lacerda, o terceiro participante da Frente Ampla (uma tentativa política
institucional, em 1968, para acabar com a ditadura) estava gripado e
preventivamente foi a um hospital se tratar onde morreu, o que é também muito
estranho. Lacerda, como Jango e JK era uma das lideranças em condições de numa
abertura política voltar a atuar politicamente com destaque, o que desagradava a
setores do regime ditatorial.
Tais
lembranças de um período que antecedeu a abertura lenta e gradual desenvolvida a
partir do governo do general de plantão Ernesto Geisel, com o apoio de Golbery,
encontram-se no documentário Dossiê Jango, que merece ser visto por todos os
brasileiros interessados em consolidar o processo democrático. E para que isso
aconteça é necessário esclarecer de uma vez por todas os fatos nebulosos do
passado. Está aí a Comissão da Verdade, que se espera cumpra o papel histórico
nesse sentido.
No
caso de Jango é absolutamente necessário convocar o agente da CIA, área de
Montevidéu, em 1976, Frederick Latrash, que mais tarde tornou-se assessor do
então candidato republicano, em 2008, John McCain. Latrash teria informações a
prestar já que, segundo informam várias testemunhas, teve participação ativa no
esquema que culminou com a morte (assassinato?) de Jango.
Em
2002, portanto há 10 anos, o ex-agente da inteligência uruguaia, Mario Neira
Barreiro fez uma série de denúncias sobre as circunstâncias da morte de Jango em
Las Mercedes, na Argentina. Barreiro acusa agentes da CIA de serem os
responsáveis pela montagem de “uma farsa para ocultar um infame assassinato
político instigado e patrocinado pelos Estados Unidos”. Ele conta em detalhes
fatos relacionados com
João Goulart que só quem teve acesso direto a ele poderia
conhecer. Mesmo sendo um marginal, como sempre foi e posteriormente envolvido em
estelionato, o depoimento de Barreiro pode servir de roteiro inicial para a
própria Comissão da Verdade. Ele seria ouvido pelo que fez quando era agente da
inteligência uruguaia.
O
jornalista uruguaio Roger Rodriguez investigou a fundo as denúncias e concluiu
que há indícios claros sobre o assassinato de Jango. Rodriguez garante que tudo
o que foi informado por Barreiro se confirmou em suas investigações.
Poderia também ajudar a Comissão da Verdade a esclarecer os
fatos.
Lamentável
em toda esta história, conforme mostra o documentário Dossiê Jango, é que a
Justiça brasileira tem criado obstáculos para se investigar a morte do único
Presidente do País que morreu no exílio. E agora chegou ao ponto de a Justiça
argentina, que investiga a denúncia de que Jango foi assassinado com a troca de
remédios, pedir que se faça a exumação.
Diante
de fatos ocorridos durante o período da ditadura no Brasil que estão sendo
conhecidos, se for comprovado mesmo o assassinato de Jango, o acontecimento se
somará a uma série de outros protagonizados pelos generais de plantão que
conduziram o país durante 21 anos.
Não
se trata de ação isolada de psicopatas, como alguns preferem que seja,
exatamente para não culpar o sistema surgido depois de 64, mas sim pela política
de Estado, que optou pelo terrorismo institucional, capitaneado por generais
nomeados.
Figuras
como Brilhante Ustra, major Curió, entre outros, são peças dessa engrenagem
hedionda e responsáveis por comprovadas violações dos direitos humanos que estão
aí mesmo para serem julgados com todo o direito de defesa. Exatamente ao
contrário do que faziam com os presos políticos da época da ditadura quando
comandavam corporações militares.
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Presidente Hugo Chávez Frias |
A
direita venezuelana e latino-americana tentou de tudo para derrotar o Presidente
Hugo Chávez. A mídia de mercado e os analistas de sempre chegaram a fazer
previsões indicando a vitória de Capriles Radonski. Mas na hora da verdade ao
serem conhecidos os resultados, não restou dúvida com a diferença de cerca de um
milhão e 300 mil votos em favor do líder bolivariano.
Uma
tarefa interessante para professores e estudantes de comunicação é analisar a
cobertura dos principais telejornais, jornais e revistas brasileiras sobre o
pleito na Venezuela e mesmo depois do pleito.
Se
fizerem um bom trabalho vão ver quanta barbaridade desinformativa vem à tona com
“analistas” chegando a afirmar que a diferença foi só de 10 pontos percentuais,
mas sem informar o número de votos que corresponde o percentual.
Inacreditável,
na TV Globo uma repórter disse que o resultado espelhava o descontentamento do
povo contra Chávez em função da votação do candidato
derrotado.
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Mário Augusto
Jakobskind*
é
correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do
Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da
Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor,
entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes -
Fantástico/IBOPE
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Direto
da Redação
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