Presidenta Kirchner mostra exemplar do Clarín |
Publicado em 23/10/2012 por Mário Augusto
Jakobskind*
Dezembro
se aproxima e no sétimo dia do mês o grupo argentino Clarín terá
de se adaptar aos dispositivos da lei dos meios de comunicação, também
conhecida como Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual. Na data vence o prazo
fixado pela Corte Suprema para a medida cautelar com a qual o grupo Clarín
paralisou a implementação da lei, durante três anos, após sua aprovação no
Congresso.
Nesse
sentido, o grupo terá de se desfazer de alguns espaços midiáticos sob seu
controle. Vale lembrar que pela nova legislação, os espaços midiáticos são
divididos de forma igualitária - 33% - para as mídias privadas, públicas e
estatais.
É
preciso lembrar também que o projeto foi amplamente discutido pela sociedade
argentina e só depois aprovado pelo Congresso. Mas os barões da mídia tentaram
de tudo para evitar a entrada em vigor da lei. Não se conformam e divulgam
acusações descabidas afirmando que a legislação é restritiva à imprensa, quando
acontece exatamente o contrário, ou seja, o espaço midiático na Argentina
democratizou-se.
A
Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que reúne o patronato do setor nas
Américas, que apoiou golpes recentes, como em Honduras e Paraguai e
outros ao longo da história, esteve reunida em São Paulo.
Os
jornalões deram grandes espaços ao evento onde estiveram presentes, entre
outras, figuras como Fernando Henrique Cardoso, mas não contaram com a presença
da Presidenta Dilma Rousseff, que convidada preferiu não comparecer. Fez bem,
porque quem apareceu por lá eram apenas figuras carimbadas, ou seja, defensores
eminentes da liberdade de empresa, mas para disfarçar utilizando o jargão de
liberdade de imprensa. É desta forma que tentam enganar leitores,
telespectadores e ouvintes nos diversos países americanos.
Os
defensores incondicionais da liberdade de empresa cerraram baterias contra a
Presidenta Cristina Kirchner, que com coragem não tem se intimidado às pressões
dos barões midiáticos. E a pauta anti-Kirchner se intensificou nos jornalões
quase em seguida ao término do encontro em São Paulo.
Os
empresários, como barões da mídia que são, fazem exatamente o jogo do grande
grupo empresarial argentino que segue o ideário da não aceitação de nenhum tipo
de contraponto.
Muito
pelo contrário, tratam pejorativamente os opositores e se pudessem voltariam a
apoiar os que em tempos passados prendiam e arrebentavam em nome, vejam só, da
democracia.
As
opiniões favoráveis à lei dos meios de comunicação na Argentina não são
divulgadas ou então seus defensores são adjetivados como autoritários ou algo do
gênero.
Não
foi divulgado que representantes de mídias alternativas e de movimentos sociais
protestaram em São Paulo contra as ”verdades” da SIP.
Nenhuma
mídia de mercado nacional, pelo menos que este jornalista tenha visto, divulgou
a opinião do relator especial da Organização das Nações Unidas para a Liberdade
de Expressão e Opinião sobre a referida legislação.
Frank
La Rue entende que:
“...a
Argentina tem uma lei avançada. É um modelo para todo o continente e para outras
regiões do mundo”.
E
foi mais adiante ao afirmar que:
“...eu
a considero um modelo e a mencionei no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em
Genebra. E ela é importante porque para a liberdade de expressão os princípios
da diversidade de meios de comunicação e de pluralismo de ideias são
fundamentais”.
Na
verdade, o silêncio em relação a quem tem opinião diferente ao da SIP faz parte
do ideário do pensamento único.
Os
jornalões e telejornalões que pretendem ditar regras a quem atinge preferiram
dar espaço total ao final de uma novela intitulada “Avenida Brasil”. E o fizeram
de uma forma tão avassaladora, como se todos os brasileiros tivessem a obrigação
de acompanhar a novela. Ou como se a cultura brasileira se resumisse a (repetida
à exaustão) teledramaturgia da TV Globo, receita também seguida por outras
emissoras.
É
até possível que meios de comunicação de outros países tenham caído no conto do
“fenômeno de massa” imposto pela Rede Globo. Os correspondentes que
eventualmente embarcaram na canoa do oba-oba global não entraram em detalhes
sobre a necessidade que o grupo empresarial teve de realizar uma jogada de marketing para, segundo especialistas do
setor, tentar interromper a queda de audiência nas novelas por se tornarem
repetitivas em seu todo, o que começava a ser percebido até por telespectadores
mais assíduos.
Na
verdade, esse esquema faz parte do mecanismo do pensamento único, que acompanha
hoje praticamente todas as editorias da mídia de mercado destas e de outros
quadrantes.
Por
estas e muitas outras é cada vez mais necessário que o Brasil aprofunde a
discussão sobre a legislação dos meios de comunicação, porque a atual está
completamente defasada e urge modificá-la. É preciso levar em conta também que
novos atores sociais precisam ocupar os espaços midiáticos, não podendo
continuar o quadro atual de hegemonia absoluta dos grandes grupos, onde se
encontram os tais barões da mídia.
A
matéria é complexa. Existe um lobby
poderoso que tenta de todas as formas impedir que o Brasil se modernize e
democratize nesse setor. Não é à-toa que a própria SIP se reúna em São Paulo
neste momento exatamente para defender interesses de seus
associados.
Ah,
sim, os leitores podem imaginar uma entidade como a SIP, já dirigida por um
personagem de nome Danilo Arbilla, que foi porta-voz da ditadura uruguaia,
defendendo os “valores democráticos”?
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Mário Augusto Jakobskind* é correspondente no Brasil do semanário uruguaio
Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor
internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário
Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia,
Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE.
Enviado por Direto
da Redação
(comentário enviado por e-mail e postado por Castor)
ResponderExcluirÉ isso aí, temos muito que aprender com nossos irmãos platinos e andinos - vejam só o Uruguai, com o aborto e a maconha - em termos de conquistas rumo à liberdade, uma luta contínua. Temos de aprender que hermanos e hermanas não podem ser motivo de chacotas, mas de respeito à nossa família sulamericana, bonita, mestiça e, acima de tudo, resistente.
Abraços do
ArnaC.