21/10/2012, Mark H. Gaffney, The Information Clearing House
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Mark H. Gaffney |
Recentemente,
o presidente Obama impôs novas sanções ao Irã, as quais, segundo a
imprensa-empresa, teriam sido muito eficientes, causando repentina
desvalorização da moeda iraniana. Os iranianos, corretamente, entendem que estão
sendo atacados; e ameaçaram, em resposta, bloquear o Estreito de Ormuz, por onde
tem de transitar grande parte do petróleo que flui do Oriente Médio para a
economia global.
Se
a crise aprofundar-se e o Irã cumprir a ameaça e fechar Ormuz, praticamente com
certeza os EUA intervirão para reabrir o estreito. Isso levará a guerra pela
qual o Irã será responsabilizado, mesmo que, como se sabe, as recentes sanções
impostas ao país pelos EUA equivalham a ato de guerra.
Minha
opinião é que os EUA explorarão a situação para atacar as instalações nucleares
iranianas. Mas, mais importante que elas, os EUA atacarão também as instalações
que guardam os mísseis iranianos convencionais. Entendo que essa é a causa real
das sanções norte-americanas contra o Irã; como me parece ser também a causa do
aumento das tensões nos últimos dias. Apesar da retórica sobre armas nucleares e
do que é mostrado à opinião pública, a crise atual nada tem a ver com armas
nucleares ou com algum programa iraniano para construir armas atômicas. Essa, me
parece, não passa de história criada para ocupar as manchetes de primeira
página; a história de capa, para encobrir a história real.
Mapa geofísico do Irã e fronteiras |
A
real questão está em que o Irã aprimorou muito seus
mísseis convencionais de médio alcance, todos já equipados com tecnologia GPS, o
que os torna armas significativamente mais precisas. Significa que o Irã já pode
atingir os arsenais israelenses de armas nucleares, biológicas e químicas, todos
localizados em território israelense, e já pode atingir também o reator nuclear
israelense em Dimona.
Em
resumo, o Irã já tem capacidade convencional para conter Israel. Nesse sentido,
acredito que os oficiais iranianos não mentem quando dizem que o Irã não tem
programa de armas nucleares. De fato, o Irã não precisa de armas nucleares para
conter Israel. O Irã já pode conter Israel com seus mísseis de médio alcance
guiados por GPS. Os israelenses, evidentemente, ficaram em posição fragilíssima,
porque, nessas circunstâncias, passam a ser, eles mesmos, as primeiras vítimas
mais diretamente ameaçadas pelos seus próprios arsenais de armas de destruição
em massa e pelo próprio reator nuclear israelense, em Dimona – os quais já são,
todos, alvos acessíveis.
Qualquer
ataque direto bem-sucedido àqueles arsenais e àquele reator provocará nuvem
tóxica letal, que matará, primeiro, milhares de israelenses. Em caso mais grave,
de ataque mais amplo, há hoje ameaça real à sobrevivência do estado
judeu.
Simultaneamente,
é preciso ter em mente que o Irã não tem interesse em lançar qualquer tipo de
ataque preventivo a Israel, porque o Irã sabe que a reação conjunta Israel-EUA
seria devastadora. Mas, se o Irã for atacado primeiro, desaparece esse cálculo
estratégico. E não cabe descartar a possibilidade da reação iraniana, porque o
Irã, se for atacado, terá de defender-se. Nesse caso, o Irã, sim, atacará
Israel, dado que os líderes iranianos veem com absoluta clareza (apesar de o
povo norte-americano nada ver e nada entender) que toda a atual “crise” foi
fabricada exclusivamente para tentar tirar Israel da posição precária em que se
meteu.
Capacidade dos mísseis convencionais do Irã |
Do
ponto de vista dos israelenses, a capacidade de contenção que o Irã alcançou
(não nuclear, como se diz ou suspeita, mas capacidade convencional) é
absolutamente inaceitável. Os estrategistas militares israelenses sempre
insistiram na necessidade de manterem total capacidade de movimento.
Por
isso Israel recusou, há vários anos, o pacto de defesa que os EUA ofereceram:
porque aquele tratado teria limitado a liberdade de movimento dos israelenses,
limitação inaceitável para eles. Os líderes israelenses naquele momento optaram
por manter-se independentes. Para Israel, essa independência seria crucialmente
importante para que o estado judeu pudesse continuar suas políticas de
intimidação contra os vizinhos regionais, qualquer deles, como melhor
interessasse a Israel e sem considerar interesses estratégicos dos EUA. Israel
jamais aceitou qualquer limitação a essa “liberdade” para intimidar vizinhos
regionais, fossem quais fossem, e definidos por critérios do estado judeu. Os
mísseis convencionais iranianos, hoje, puseram fim àquela “liberdade”. Os
estrategistas israelenses muito provavelmente se preocupam, por exemplo, com a
evidência de que os mísseis convencionais iranianos limitam consideravelmente a
liberdade de Israel para atacar, em conflitos futuros, o Hezbollah no Líbano. O
Hezbollah é íntimo aliado de Teerã.
Minha
opinião é que a atual crise foi fabricada para criar o pretexto para um
movimento da Força Aérea dos EUA para destruir os arsenais iranianos de mísseis
convencionais. Os EUA também atacariam as instalações nucleares iranianas, mas o
alvo primário seriam os mísseis convencionais. Os EUA estariam a serviço de
Israel. O rabo sionista, mais uma vez, sacudindo o cachorro norte-americano
subalterno.
Obviamente,
é impossível obter apoio popular para esse tipo de ataque, em que os EUA estariam
bombardeando nação não atacante, só porque os sionistas assim o ordenem. Então
se inventou a “manchete de primeira página”: a versão segundo a qual
inexistentes armas nucleares iranianas estariam ameaçando varrer Israel do mapa.
As armas nucleares não existem, como até a Agência Internacional de Energia
Atômica (AIEA) já constatou oficialmente. Mas funcionaram, mesmo assim, como
pretexto para vasta campanha de propaganda.
O
problema, do ponto de vista dos EUA, é que a tarefa de destruir a capacidade
iraniana de conter Israel não é tarefa fácil; de fato, é ainda mais difícil do
que destruir as instalações nucleares iranianas. É muito pouco provável que os
mísseis convencionais iranianos estejam armazenados num único ponto: com toda a
certeza estão disseminados por todo o território iraniano. Se o Irã for atacado
por ar, a liderança iraniana – que com certeza já fez toda essa análise –
rapidamente “decifrará” o objetivo do ataque.
Ante
o risco de perderem a capacidade para conter Israel, é possível que os mulás
optem por disparar os mísseis convencionais que não tenham sido destruídos no
primeiro ataque norte-americano. Se o fizerem e se apenas alguns dos mísseis
atingirem arsenais israelenses de armas nucleares, químicas ou biológicas, o
efeito, em todos os casos, será desastroso. Israel responderá. E pode recorrer,
inclusive à “Opção Sansão”: usar armas nucleares contra o Irã. Não há palavras
para descrever a escala horrenda a que esses desenvolvimentos podem chegar.
Desgraçadamente, tudo isso é rigorosamente possível.
Alcance dos mísseis convencionais do Irã |
Desde
o primeiro momento, além do mais, também as forças navais dos EUA no Golfo serão
atacadas. E que ninguém se iluda ou se engane: o Irã tem quantidade suficiente
de mísseis cruzadores terra-mar para provocar danos consideráveis na chamada
“presença naval dos EUA no Golfo”. No momento em que escrevo já há milhares de
marinheiros norte-americanos plantados, pode-se dizer, na linha de tiro, e sob
ameaça.
É
indispensável impedir qualquer ataque ao Irã. É absolutamente necessário impedir
mais essa guerra.
Todos
os ativistas devemos mobilizar agora todos os recursos de que disponhamos para
defender e fazer avançar a paz. O povo norte-americano tem de conhecer a
verdade. A ‘'crise iraniana'’ é falsa. É crise inventada. Mas o perigo de guerra é
real.
É
hora de gritar forte, de gritar muito a favor da paz. Amanhã talvez seja tarde
demais.
Qual seria o papel da emergente China, neste imbróglio ?? Creio, respondo a minha própria pergunta, que à China não interessa conflito algum, por "n óbvios" motivos. Até porque boa parte dos déficits interno e externo dos EUA estão sendo financiados pelos chinesas.
ResponderExcluirAo mesmo tempo que Israel pressiona os EUA para avalizarem e também, atacarem o Irã, pelos motivos expostos acima.
Creio que se o governo americano permitir o ataque, será numa situação extrema, um ato de desespero. Até porque dependem muitíssimo da China.
Um abraço