18/10/2012, Pepe Escobar,
Asia Times Online – The Roving
Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Pepe Escobar |
LOS ANGELES – É o ciclo de memes
que devorou a cidade – e a nação, por falar disso. Ninguém escapa ao ataque de
“Pastas cheias de mulheres”: de Tumblr a um tsunami de tuítes, da melhor página
de Facebook em eras [1] à
encenação em 2 Live Crew [2] e
mais, e mais.
Pesquisa informal conduzida por
esse colunista numa pasta cheia de mulheres da Califórnia, de Malibu a Hollywood
via Beverly Hills, revelou absoluto, total, sem alívio,
rejeição/incômodo/gargalhadas sobre o mais recente surto, ao vivo, de Mitt, o
feminista. Citando aquele grande geopolitólogo da alma Brian Wilson [3], bom
seria se todas fossem garotas da Califórnia. Mas o veredicto ainda não foi
lavrado e depende, completamente, de mulheres indecisas nos estados indecisos
cruciais do Colorado, Virginia e Ohio.
Para
os que ainda não tenham sido informados sobre esse terremoto social equivalente
a uma pane na fechadura do closet de roupas de Britney Spears: no debate
da 2ª-feira, entre candidatos à presidência dos EUA, o candidato Republicano
jurou que, como governador de Massachusetts, “Empreendemos esforço concentrado
para procurar e encontrar mulheres cujos currículos as qualificassem para serem
membros de nosso Gabinete. Procurei vários grupos de mulheres e disse: “Vocês
podem nos ajudar a ajudar vocês?” E elas nos mandaram pilhas de pastas cheias de
mulheres”.
Mitt Romney |
Muito
pior que a nova invenção de Mitt já ter sido desmentida [vide nota 1] – para
começo de conversa ele jamais pediu a grupo algum as tais Pastas Cheias de
Mulheres – o novo surto feminista de Mitt implica que o novo inventor (macho) de
empregos no Novo Sonho Americano de Mitt, de tão desesperado que está,
contratará quem lhes apareça pela frente. Até mulheres.
Por
sua vez, o presidente Obama falou sobre direito de abortar, atenção à saúde e
salários iguais para homens e mulheres. Não é preciso ser cientista da NASA para
saber em quem votarão aquelas Pastas Cheias de Mulheres que tenham prestado
atenção.
Hubbard,
qual é o plano?
Muito
mais grave que o ciclo de memes, o
problema, mesmo, é a Pasta Cheia de Conversa Fiada de Mitt. OK, a Califórnia é o
futuro, para o bem e para o mal – incluída aí a possibilidade de rachar
fisicamente, separar-se do continente e navegar pelo oceano dito Pacífico até a
Ásia (ou para o fundo do mesmo oceano dito Pacífico).
Mas
quem nos EUA, no controle das próprias faculdades mentais, acreditaria no
“plano” de Mitt para um Novo Sonho Americano, com menos impostos, os mais ricos
ainda mais livres e guerra monetária e comercial contra a China, a começar no
“primeiro dia”?
Quero
ver o dinheiro
E,
por falar nisso, temam muito o mundo segundo Mitt (ou, melhor dizendo, segundo
seus conselheiros neoconservadores). A Rússia é inimigo estratégico. A China é
inimigo comercial. E os EUA farão o inferno – outra vez – em todo o Oriente
Médio : esperem, pois, o Despertar dos Mortos (versão medieval),
tipo “ou você está conosco, ou está contra nós”, parte 2.
De
volta à economia, Obama bem que tentou, no debate, forçar Mitt a listar todas as
deduções e créditos que ele detonará, se eleito, com seu “plano” de reduzir 20%
nos impostos sem reduzir a arrecadação, e com os impostos minimalistas a ser
cobrados dos mais ricos. Até os coyotes no deserto de Mojave sabem que os
números da conta de Mitt não batem. É como se Mitt, o Empastador, quisesse
vender um Dodge surrado de segunda mão, mas só revelasse o real estado do
veículo depois de fechar o negócio e ver a cor da grana.
Em
vez de concorrência comercial com a China, Mitt quer guerra comercial e
monetária. De 2002
a 2011, os EUA criaram reles 48 mil novos empregos para
arquitetos e engenheiros. E, mais, Mitt simplesmente se recusa a admitir que a
raiz de todo o mal está em as grandes corporações norte-americanas estarem
“exportando” empregos americanos, para fora do país, no atacado. Obama, pelo
menos, admitiu que “alguns” desses empregos jamais retornarão (de fato, nenhum
retornará). Aliás, uma linha-de-dançar-a-conga inteira de economistas dos
dois partidos – pensamento desejante ou, em alguns casos, só delírio desejante –
anda dizendo que até 2016 os EUA criarão 12 milhões de empregos, não importa
quem esteja morando na Pennsylvania
Avenue.
Glenn Hubbard |
Em vez de explicar sua Pasta Cheia
de Mulheres, Mitt bem poderia tentar explicar sua Pasta Cheia de Promessas
Econômicas, pedindo a muito necessária ajuda de Glenn Hubbard, decano da Columbia Business School, ex-membro do
Conselho de Assessores Econômicos do governo de George Dábliu Dubya e, ao
que se sabe, principal conselheiro econômico de Mitt. Fato é que Mitt não sabe
dizer coisa alguma de específico sobre seu plano, porque nem Hubbard diz coisa
com coisa.
[4]
Claro
que os objetivos básicos do plano são os de sempre: “Conter a sangria de dívidas
e gastos federais, reformando nosso sistema de impostos e desmontando todas as
regulações”.
Hubbard
não sabe explicar como o “plano” de Mitt conseguiria reduzir os gastos federais
até, no máximo, 20% do PIB (portanto, Mitt também não sabe explicar). Hubbard
enfatiza o corte dos impostos sobre os ganhos das corporações e uma vaga
“ampliação” da base de arrecadação, de modo que “a reforma tributária é neutra
para a arrecadação”. Nada objetivo ou específico. Mitt, então, também é vago e
inespecífico.
O
fim dos “impedimentos regulatórios à produção de energia e à inovação” significa
a volta da velha cantoria Republicana de “Perfure, Baby, Perfure”.
Hubbard também acredita na miragem dos 12 milhões de novos empregos, plus
alguns hiper vagos “milhões a mais, graças ao efeito do plano sobre o
crescimento, no longo prazo”.
Assim
sendo, se o decano da Columbia Business
School, com toda aquela expertise
e as boas intenções, é vago, de Mitt, o Empastador, então, nem se fala.
Nate Silver |
E
esse oceano de imprecisão e vagas ideias gerais faz alguma diferença? Faz. Nate Silver, extraordinário mastigador de pesquisas observou que “os candidatos
estavam rigorosamente empatados quando o instituto Public Policy Polling perguntou aos
eleitores como o debate alterara seu voto: 37% responderam que o debate os
inclinou mais a votar em Obama; 36% que (idem) em Romney”.
Quer
dizer: a eleição irá assim até a boca da urna – não importa quantas pastas se
considerem. Hollywood chamaria de cliffhanger – “suspense de fim
de capítulo, para garantir que o público volte para o próximo capítulo”. Mas
Pastas Cheias de Mulheres votarão, provavelmente, o voto de Minerva – não as
muitas, animadas, agitadas, falantes garotas da Califórnia, mas umas poucas,
silenciosas, quietas senhoras do Colorado, Virginia e
Ohio.
Notas de
rodapé
[1] 17/10/2012, “Group
Behind Romney’s “Binders Full Of Women” Doesn’t Remember Story The Way Romney
Does” [O grupo referido no episódio “Pastas cheias de mulheres”, de
Romney, não lembra o evento nos mesmos termos que o candidato Republicano] TPM.
[2] A seguir, como exemplos, 2 vídeos
[NTs]:
[4]1/8/2012, Glenn
Hubbard: “The
Romney Plan for Economic Recovery”, Wall Street Journal.
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