21/10/2012, MK
Bhadrakumar*, Indian
Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
“Vazamentos” pelos veículos da
grande imprensa-empresa nunca são ingênuos e obrigam a lembrar que onde há
fumaça há fogo. Dessa vez, em mais um movimento clássico, foi o New York
Times [1] que publicou, no sábado, notícias
“vazadas” de que o Irã estaria interessado em conversações diretas com os
EUA.
Eleições EUA 2012 - Obama vs Romney |
O
modo como a questão nuclear iraniana apareceu no New York Times,
exatamente na véspera do debate dramaticamente decisivo entre os candidatos
Barack Obama e Mitt Romney sobre questões de política exterior, mostra bem o
peso, dentro dos mais altos escalões do establishment norte-americano, do
chamado “partido da guerra” – que vota por mais guerras e opõe-se a qualquer
tipo de negociação diplomática entre Washington e Teerã.
O
“vazamento” pelo NYT ajuda a torpedear contatos EUA-Irã que, obviamente,
já estão em andamento. Dado que só meia dúzia de pessoas, dos mais altos
escalões do governo dos EUA, sabem desses contatos absolutamente não divulgados
até agora, o “vazamento” é, também, ato de sabotagem contra o governo Obama,
para favorecer a candidatura Romney; e só pode ter partido de peixões realmente
muito grandes em Washington, interessados em guerra.
A Casa Branca tratou de desmentir
o mais rapidamente possível o tal “vazamento”: repetiram que Obama não tem
qualquer intenção de manter conversações diretas com o Irã. [2] A resposta visa a neutralizar o
veneno que pinga da matéria publicada no NYT a qual, mesmo que não tenha
sido produzida para esse fim específico, muito ajudará Romney, no debate de
hoje, a repetir que Obama estaria “afrouxando” contra o Irã.
Ali Akbar Salehi |
Mas, se se leem as entrelinhas, a
Casa Branca também escreveu que “em princípio, sempre é favorável a
conversações diplomáticas”. [3] Ora! E qual seria o problema de
haver conversações diretas EUA-Irã, se se sabe que, de fato, só conversações
diretas podem pôr fim àquele impasse sem solução?
A
grande questão é que um Obama que favoreça mais a via diplomática que a guerra
contra o Irã não tem, hoje, a reeleição garantida nos EUA. O NYT não está
longe da verdade: parece haver número significativo de cidadãos norte-americanos
que, sim, estarão votando a favor de mais guerra.
O Irã também reagiu com negativa
pro-forma [4] à matéria do NYT, mas também
do lado iraniano da mesa houve entrelinhas: o ministro das Relações Exteriores
do Irã, Ali Akbar Salehi deixou entrever a informação de que os contatos estão
“em pausa”, por causa das eleições presidenciais nos EUA; depois das eleições,
sim, a via política será novamente ativada. Mencionou especificamente o final de
novembro, como momento previsto para que se retomem as
negociações.
Notas de
rodapé
[1] 20/10/2012, Xinhuanet,
China, em: “U.S.,
Iran agree to one-on-one nuclear negotiations – media”.
[2] 22/10/2012, Sydney Morning
Herald, Margareth Talev, em: “No
deal for nuclear talks with Iran after US election”.
[3] 21/10/2012, Associated
Press, Mathew Daly, em: “White
House prepared to meet one-on-one with Iran”.
[4] 20/10/2012, BBC, em: “Iran
dismisses US nuclear talks New York Times report”
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MK
Bhadrakumar*
foi diplomata de
carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética,
Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e
Turquia. É especialista em questões do
Afeganistão e
Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações,
dentre as quais The Hindu, Asia Online
e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso
escritor, jornalista, tradutor e militante de
Kerala.
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