22/10/2012, Paul R. Pillar, ConsortiumNews
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Paul R. Pillar |
Helene Cooper e Mark Landler do New York Times causaram agitação, no fim
de semana, com matéria (20/10/2012, U.S.
Officials Say Iran Has Agreed to Nuclear Talks) em que dizem que EUA e Irã podem
já ter concordado “em princípio” sobre iniciar negociações bilaterais sobre o
programa nuclear iraniano.
Negociações
com o Irã sobre essa questão já foram objeto de atenção em grande escala e
formato, com um dos lados, conhecido em geral como Grupo P 5+1,
formado pelos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU ‘'mais'’ a
Alemanha.
Surgiram
dúvidas sobre a matéria do NYT, geradas pelos imediatos desmentidos,
pelos dois governos, dos EUA e do Irã; e praticamente nada se sabe publicamente
com clareza sobre o que os dois lados podem ter já acordado.
Para
aumentar, possivelmente, a confusão, há a nenhuma disposição dos iranianos para
continuar a negociar com o P5+1 antes de que se decidam as eleições nos EUA e
saiba-se quem comandará a política norte-americana a partir de janeiro. Surgiram
também outras questões, como por que – se há base factual real para a matéria do
NYT –, jamais até hoje se ouviu sequer uma palavra sobre qualquer
entendimento entre Irã e EUA; e as primeiras notícias aparecem, só, na véspera
das eleições.
As
especulações correram por faixa amplíssima: desde que o vazamento seria
tentativa de boicotar as negociações bilaterais, até que o vazamento seria parte
de um esforço do governo dos EUA para preparar a opinião pública para acordo a
ser alcançado naquelas conversações.
Não
tenho qualquer tipo de informação ‘'interna'’ sobre alguma verdade que haja nessas
especulações, mas posso dizer que nada seria mais importante ou mais útil para o
futuro dos EUA do que a confirmação de que há conversações em andamento, com
vistas a um acordo, mesmo que sejam negociações secretas e que os dois governos
as neguem.
O
formato bilateral – como suplemento, não como substituição às negociações que
envolvam o P5+1 – seria útil, porque os EUA são o player mais importante
do processo; por que a negociação bilateral teria a necessária flexibilidade,
aumentada por não se exigir consenso multilateral sobre cada concessão; e porque
sempre será mais fácil preservar o sigilo, em grupo reduzido ao mínimo.
O
sigilo ajudaria, porque os dois lados são pressionados por suas respectivas
posições, alas e declarações linha-dura, brotadas de todos os que, nos dois
campos, tanto mais ganham quanto mais a situação se complique. Quanto à
liderança iraniana, estaria negociando com o Grande Satã – terreno extremamente
delicado e arriscado. Quanto à liderança norte-americana, estaria ‘sendo suave’
– como já há quem diga que já é – com inimigo pintado até agora como mortalmente
perigoso, terreno também fragilíssimo.
Efraim Halevy |
O ex-chefe da inteligência
israelense, Efraim Halevy
observou,
corretamente, que os iranianos “gostariam de sair do conundrum em que
estão, dado que as sanções já ferem fundo o país”, mas que “os dois governos, de
Israel e dos EUA, nos amarramos, nós mesmos, nossas próprias mãos. No fim,
criamos desvantagem inerente, para nós mesmos”.
O
atual governo israelense, que é quem mais agita e promove a questão nuclear
iraniana, e que desdenha absolutamente a ideia de qualquer negociação com o Irã,
é a principal força que gera risco político para qualquer governo
norte-americano que se disponha a negociar com o Irã.
No
sábado, o embaixador de Israel na ONU disse que “Não acreditamos que o Irã deva
ser beneficiado com conversações diretas”, invocando assim a velha falácia
segundo a qual negociar seria, de algum modo, premiar um dos lados. De fato,
negociar é ferramenta vitalmente importante e útil para os dois lados que
negociem.
O
governo de Israel, como previsível sabotador de qualquer progresso em qualquer
negociação com o Irã, teria de ser mantido excluído – o que dá sentido
especialíssimo ao sigilo, para proteger as negociações – e impedido, assim, de
sabotá-las.
A
outra fonte – não completamente desligada dessa – de risco político potencial e
de possível sabotagem, contra os quais o governo dos EUA teria, em todos os
casos, de se precaver, é a oposição política interna que o atual governo
enfrenta.
Um
“estrategista dos Republicanos”, anônimo, disse, no sábado, que “os EUA
aceitarem qualquer oferecimento vindo dos iranianos, para conversações diretas,
seria a realização dos sonhos dos líderes iranianos para obter mais poder e,
assim, provavelmente, obter até concessões para seu programa nuclear”. Nesse
caso, invocou a velha falácia (que Richard Nixon, Ronald Reagan e toda a
história da URSS já deveriam ter ensinado a descartar há muito tempo), segundo a
qual negociar e obter acordos com força adversária contribuiria para aumentar o
poder doméstico e a longevidade política do adversário.
Deve-se
observar o uso da palavra “concessões”, nessas duas falácias, como se fosse
palavrão, uso que, implicitamente, descarta qualquer acordo, porque nenhum
acordo será jamais possível se os dois lados nada concederem.
Há
vasta demonstração histórica de que o sigilo, em negociações bilaterais – porque
o sigilo garante maior flexibilidade, a qual, em negociações complexas, quanto
maior, melhor; e porque o sigilo protege a negociação contra a ação dos
boicotadores e dos sabotadores das partes que negociam – pode levar a bons
resultados, em circunstâncias em que todos os demais mecanismos “de
transparência” só criariam dificuldades extras.
Le Duc Tho e Henry Kissinger |
Parte
considerável dessa história não é passado distante para os EUA. As negociações
secretas entre Henry Kissinger e Le Duc Tho (ambos receberam um Prêmio Nobel da
Paz partilhado, pelos seus esforços) que, juntos, finalmente, encontraram meio
para arrancar os EUA do pântano em que estavam atolados no Vietnã, é exemplo
sempre presente. E também vem à mente a diplomacia secreta de Nixon e Kissinger,
com a China.
Devemos
todos esperar que estejam em andamento, nesse momento, conversações entre o Irã
e os EUA. E que sejam tão absolutamente secretas que não vazaram, sequer, para
os atilados jornalistas do New York Times. Talvez não haja. Mas pode-se,
pelo menos, ter esperanças de que sim, de que essas conversações já estejam em
andamento.
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