segunda-feira, 1 de outubro de 2012

ELN/FARC-EP: Declaração Conjunta


Montanhas da Colômbia, 28/9/2012

“... não pode haver outro caminho para a unidade revolucionária e luta, ação de massas nas ruas, a revolta popular no campo e cidades”, diz um fragmento declaração conjunta FARC-ELN.


Na foto, o Pastor Alape (com boina), membro do Secretariado das FARC e do comandante Gallero, ELN, do Bloco Guerrilheiro de Bolívar do Sul logo após uma coluna combinada das duas organizações guerrilheiras abater dezenas de paramilitares e destruir cinco fortificações desses irregulares que são apoiados e operam helicópteros fornecidos pelo exército colombiano; FOTO: Dick Emanuelsson.
O Exército de Libertação Nacional [Ejercito de Liberación Nacional (ELN)] e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Exército do Povo [Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia, Ejército del Pueblo (FARC-EP)], inspirados nos mais profundos sentimentos de irmandade, solidariedade e companheirismo, com otimismo e alta moral de combate, unidos num forte abraço de esperança na mudança revolucionária, reuniram-se para analisar a situação política nacional e internacional, os problemas da guerra e da paz na Colômbia e avançar no processo de unidade que, desde 2009, vêm forjando passo a passo, com o propósito de fazer convergir ideias e ações que permitam enfrentar, ao lado do povo, a oligarquia e o imperialismo – elementos que impõem a exploração e a miséria.

Absoluto dever nosso, que não se rende, é continuar na busca de uma paz que, para a Colômbia e para o continente, signifiquem o estabelecimento da verdadeira democracia, da soberania popular, da justiça social e a liberdade.

Realizamos esta reunião, em momento em que se desenrola a mais profunda crise do sistema capitalista mundial, caracterizada por desavergonhada sequência de guerras de invasão, de saque e de sobre-exploração dos recursos da natureza, com precarização das condições de trabalho, que condenam à fome e à morte milhões de seres humanos num planeta governado pela voracidade do imperialismo, rumo ao caos e à destruição.

Em nossa pátria, as calamidades geradas por este sistema de super-exploração desumana e exclusão dos mais pobres aumentou a desigualdade e aprofundou a confrontação de classes, em dimensões jamais vistas antes, as quais derivam diretamente da aplicação ininterrupta e descontrolada de políticas neoliberais, que favorecem os grandes grupos financeiros e as grandes corporações transnacionais, em detrimento das maiorias nacionais.

No panorama internacional de crise sistêmica do capital, que mostra seus vários rostos, de debâcle financeiro, econômico, ambiental, urbanístico, energético, militar, político, institucional, moral e cultural, a Colômbia configura-se como país de economia reprimarizada e financeirizada.

A essa condição os detentores do poder arrastaram a Colômbia, para permitir o saque que se faz pela extração sem limites, o roubo de recursos naturais e a especulação financeira. Milhões de colombianos foram jogados na miséria e na guerra, imposta pelas elites para calar o inconformismo das maiorias ante essa iniquidade.

O governo de Juan Manuel Santos foi instaurado para garantir a continuidade dos planos de despossessão por roubo, que o imperialismo impõe ao povo colombiano. Uma nova espacialidade do capital, acompanhada de ordenamentos jurídicos e disposições militaristas de segurança e defesa, imersas ainda na velha Doutrina da Segurança Nacional e terrorismo de Estado, aplica-se em nosso país, para blindar os ‘direitos’ do capital, o bem-estar dos ricos, à custa dos trabalhadores e do povo mais humilde.

Sob essa perspectiva, define-se a nova etapa de saque de terras, hoje disfarçada sob o falso nome de “restitución”. Na prática, aos milhões de deslocados e vítimas de sucessivas etapas de expulsão violenta patrocinada pelo Estado, somam-se agora novas legiões de camponeses, indígenas e gente pobre em geral, aos se arrebatará ou se negará a terra, mediante procedimentos de falsa legalidade, o que engrossará os números da pobreza e da indigência que põem a Colômbia como o terceiro país mais desigual do mundo.

Esse é o sentido cruel da segurança para os investidores e de prosperidade, que o presidente Juan Manuel Santos propagandeia, ao mesmo tempo em que segue encarcerando, assassinando e reprimindo todos os opositores.

Frente a essa realidade, não pode haver outro caminho para os revolucionários que a unidade e a luta, a ação de massas nas ruas, o levante popular no campo e nas cidades, desafiando a criminalização dos protestos e exigindo do governo ações reais na direção da paz, que não podem ser senão a solução dos problemas sociais e políticos que as maiorias enfrentam, por causa do terrorismo de Estado da casta governante, cujas tendências mais belicistas conduziram os destinos do país na última década.

Não será com demagogia e ameaças de repressão e mais guerra que se porá término ao conflito. Não será com compra de mais material bélico, nem entregando a Colômbia ao Pentágono que se chegará à paz. Não será com planos militares e soluções de terra arrasada – como o “Plano Patriota” ou “Espada de Honra” – que se alcançará a reconciliação dos colombianos. Muito menos com ‘'ultimatos'’ à guerrilha, brotados da ideia vã de que a paz seria resultado de alguma quimérica vitória militar do regime, que teria conseguido por de joelhos a guerrilha, rendida ou desmobilizada, ante esse patético chamado ‘'marco jurídico'’ para a paz de que o governo cogita.

Nossa vontade de paz radica no convencimento de que o destino da Colômbia não pode depender dos interesses nefastos da oligarquia. As mudanças políticas e sociais, com participação e decisão plenos do povo são necessidade e exigência inafastáveis. Mas a unidade e a mobilização do povo a favor das mudanças estruturais, baseadas na justiça e para construir a paz são as únicas verdadeiras chaves para que alcancemos a paz.

A passos firmes, na unidade de pensamento e ação, assinam, fraternalmente,

COMANDO CENTRAL, ELN
SECRETARIADO DEL ESTADO MAYOR CENTRAL, FARC-EP
Montanhas da Colômbia, setembro de 2012

Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

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