23/10/2012, Seumas Milne,The
Guardian, UK
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Digam e pensem o que bem entendam os políticos “de cima”, o império norte-americano é um sistema, não uma política, baseado em interesses das grandes corporações e dos militares. Ilustração: Belle Mellor. |
Seumas Milne |
Quem
governe Washington lidera um império global. A política norte-americana afeta a
vida das pessoas em todos os cantos do mundo; quase sempre, é vida ou morte.
Portanto, não surpreende que mais de 40% da população em todo o mundo
reivindique, como mostram algumas pesquisas, o direito de votar nas eleições
presidenciais nos EUA.
Afinal,
a revolução norte-americana se fez sob o mote “nenhum imposto sem
representação”. Assim, se o governo dos EUA arroga-se o direito de impor sua
“liderança”, à força, em todo o mundo, versão contemporânea da reivindicação dos
colonos pró-independência bem pode ser: “nenhum poder global sem dar satisfação
a ninguém”.
E,
com a presidência encharcada de sangue de George Bush ainda fresca na memória,
deve-se esperar, sim, 81% da população global deseje ver reeleito o menos
beligerante Barack Obama. Só no Paquistão, alvo e vítima de massacre
ininterrupto de civis pelos aviões-robôs drones comandados por Obama, a
maioria dos cidadãos preferem o oponente, Mitt Romney.
Claro
que dar direito de voto a estrangeiros é fantasia. Só cidadãos norte-americanos
terão voz nessas eleições (mesmo que menos da metade desses privilegiados
manifeste qualquer interesse em votar). Escolherão movidos
sobretudo por questões domésticas, sem pensar em como o governo emprega seu
aterrorizante arsenal contra cidadãos que vivem do outro lado do mundo.
A
disputa está apertada, principalmente porque a economia ainda rateia e a miséria
cresceu 19% desde 2000. Mas, apesar da frustrações que Obama gerou e de o
sistema eleitoral ser operado como feudo dos ricos, a opção doméstica é bastante
realista: de gastos e impostos a saúde pública e aborto – contra um adversário
desafiante que acha que 47% dos cidadãos dos EUA são caloteiros.
Mas,
em matéria de separar entre os dois candidatos no debate sobre política externa
a que o mundo assistiu na 2ª-feira à noite, são tão próximos e grudados que não
se consegue passar entre eles nem um fio de cabelo. Esforçaram-se para mostrar
cada um mais compromisso incondicional com a segurança de Israel, que ou outro;
cada um mais determinado a impedir que o Irã desenvolva bombas atômicas, que o
outro; cada um mais decidido a obrigar a China a “jogar pelas regras”, que o
outro.
Romney
baixou muito o tom ameaçador da retórica. À parte resmungar sobre Obama carecer
de “liderança forte”, o falcão conservador que vive na alma de Romney só mostrou
as garras duas vezes – ao insistir em que os EUA devem armar os rebeldes
sírios, e na necessidade de aumentar ainda mais o já assombrosamente gigantesco
e deficitário orçamento militar dos EUA.
A
certa altura, o republicano da direita linha-dura criticou Obama por agir como
se os EUA pudessem “abrir saída a tiros para escapar dessa confusão” [orig.
kill our way out of this mess] no mundo muçulmano. Mas o conselho não
deve ser tomado em
sentido literal. Há exemplos bem vivos de dizer a mesma coisa e
fazer o contrário, no próprio governo Bush – que se apresentou com conservador
compassivo, com “política exterior humilde” em 2000 e, em seguida, lançou o país
na guerra mais devastadora de toda a história moderna dos EUA.
Mas
Romney estava determinado a espantar a imagem de brucutu belicista sanguinário,
o que prova que percebeu a necessidade de, no mínimo, fazer um aceno à opinião
pública norte-americana. Pesquisas já mostraram que, diferentes do
establishment em Washington, vastas maiorias de norte-americanos entendem
que o país jamais deveria ter-se envolvido nem no Iraque, nem no Afeganistão;
mais de ¾ dos cidadãos entendem que os EUA querem fazer-se de “policiais do
mundo”, muito além do necessário e razoável; muitos se opõem aos gastos
militares, rejeitam qualquer tipo de ataque ao Irã e não admitem que os EUA
forneçam armas à oposição na Síria. Pesquisas interessantes e úteis para
mostrar, também que os eleitores pouco influem nas políticas exteriores dos EUA
(como, aliás, tampouco influem na Grã-Bretanha) ou nas aventuras militares em
que se metem os governos norte-americanos.
Por
mais que Obama fale e apesar de ter-ser realmente oposto à guerra do Iraque, não
se pode dizer que Obama tenha currículo considerável no quesito paz. Acelerou a
retirada do Iraque, mas escalou a guerra no Afeganistão, onde não conseguiu
derrotar a resistência local armada, nem ao preço de milhares de mortes extras.
Obama intensificou terrivelmente a guerra dos drones no Paquistão,
levando-a também para a Somália e o Iêmen, ao mesmo tempo em que passou a
trabalhar pessoalmente sobre as macabras “kill lists” [listas dos alvos
dos assassinatos premeditados que Obama legalizou]; e flexibilizou a definição
de “alvos legítimos” a qual, hoje, já se aplica a qualquer homem em idade de
prestar serviço militar.
Obama
apoiou a ação da OTAN na Líbia, decuplicou o número de vítimas e promoveu ali um
processo de limpeza étnica; apoiou a repressão aos protestos internos nas
monarquias do Golfo; e administrou violento golpe de estado em Honduras, até uma
“conclusão bem-sucedida”. Com pequena ajuda do Congresso, Obama desistiu de
cumprir a promessa de fechar o campo de concentração de prisioneiros que os EUA
mantêm em Guantánamo; aceitou que Israel ignorasse completamente qualquer lei ou
norma e prosseguisse a colonização ilegal de território palestino; e, bem
recentemente, Obama também já enviou soldados norte-americanos para a África
Subsaariana e para a Jordânia.
Digam
e pensem o que bem entendam os políticos “de cima”, o império norte-americano é
um sistema, não uma política, baseado em interesses das grandes corporações e
dos militares. Romney pode vir a ser presidente muito mais perigoso, mas
praticamente todos os presidentes norte-americanos já autorizaram ação militar;
e os riscos crescentes de guerra contra o Irã ou de intervenção na Síria também
persistem num segundo mandato de Obama.
Mas
é, sim, também, sistema em declínio evidente, acelerado pela extensão da guerra
ao terror e que está custando muito caro em sangue e em dinheiro, tanto para os
norte-americanos como para muitos povos em todo o mundo. O orçamento militar dos
EUA é maior que os orçamentos militares de todos os 20 países que aparecem
abaixo dos EUA na lista das potências mundiais, somados. Os EUA têm de manter
soldados em incontáveis países, por todo o mundo.
Evidentemente
o resto do mundo não quer, de fato, votar nas eleições norte-americanas. O que o
resto do mundo quer é ver se arranca os EUA das próprias costas ou da própria
jugular. Muito melhor seria também para os cidadãos dos EUA se aquele orçamento
militar super inflado fosse fatiado; se os soldados fossem evacuados das bases
onde vivem e as bases fossem fechadas – e que todo o dinheiro desperdiçado
nesses projetos pudesse ser aplicado em criar empregos, escolas e melhor saúde
para os próprios EUA.
obama ou romney vão dar na mesma..
ResponderExcluiros 2 são marionetes do lobby israelense que é fortissimo nos eua!
por isso romney fala tanto que se for eleito vai ser ''mais duro com a questão de um irã nuclear''.