Para os “jornalistas” brasileiros
empregados dos “jornalões” (jornalecos do Grupo GAFE) morrerem de
vergonha...
30/4/2013, Consortium News – Ray McGovern
Traduzido pelo pessoal da Vila
Vudu
Ray McGovern |
Estou
na estrada, falando a universitários, grupos religiosos e norte-americanos
comuns que vivem fora do “cinturão” de Washington. E quanto mais ando, mais se
surpreendo ao ver que instituição rara, preciosa, esse blog Consortiumnews é hoje, passados 18 anos
da sua criação. Opera dentro do “cinturão” de poder de Washington, mas conseguiu
não ser cooptado pela rala sabedoria convencional de Washington.
O
blog mostrou-me (e não só a mim) que horrível esgoto é o jornalismo comercial
profissional. Dizer que Consortiumnews distingue-se na
comparação com a cada vez mais rasteira “mídia dominante”, é diminuir
Consortiumnews, mas... Que diferença!
Aprendi
muito sobre jornalismo afirmativo, de posição, e sobre como as suas altas
exigências de comprovação diferem das análises/relatos “de inteligência em
curso” com as quais comecei a trabalhar há 50 anos.
E
não falo só do rigor em relação às fontes e da incansável busca de confirmação
independente. Falo de outros trabalhos que Consortiumnews faz – como a empreitada
de procurar material explosivo em caixas deixadas em lugares como toaletes
femininas abandonadas em estacionamentos do Rayburn House Office Building.
Durante
as quase três décadas em que vivi encarnação de analista da CIA, tudo era
diferente. Dentre outras coisas, nunca precisei cavar e cavar à busca de
informação aproveitável. Quantidades copiosas de material de fonte primária da
minha área (comecei como analista de política externa soviética) jorravam
diretamente no escaninho da minha sala, seis ou mais vezes por dia, trazidas por
portador do Centro de Operações da CIA, que empurrava um carrinho de
supermercado. Exceto pelas inescapáveis conversas quase sempre ocas, com um ou
outro especialista de academia, com algum diplomata ou militar, eu vivia com meu
traseiro confortavelmente sentado e, por dias inteiros, meu único trabalho era
ler e escrever.
Recente
lembrete que você publicou, de que Washington sempre zomba da inteligência
russa, quando os russos tentam cooperar com os EUA, foi muito útil – para não
ter de fazer a longa lista de outros lembretes desse tipo, arrancados de fontes
mais normais e acessíveis (mas sempre negligenciadas pela imprensa-empresa
comercial) – como as bibliotecas e arquivos presidenciais de George H. W. Bush,
Ronald Reagan e Lyndon Johnson.
Os
artigos distribuídos por Consortiumnews mudaram o modo como
entendemos nossa história moderna, revelando, por exemplo, como a Casa Branca de
George H.W. Bush orquestrou todo o trabalho para ocultar o escândalo dos
“Contra” do Irã; como Reagan deu luz verde para o genocídio na Guatemala; como
Johnson fez sumir todas as provas da “traição” de Richard Nixon, na Guerra do
Vietnã.
De
um ponto de vista mais pessoal, eu, como você sabe, trabalhei bem perto de
George H. W. Bush (o pai) (muitas vezes bem perto, isso sim, de ser demitido),
quando ele foi diretor da CIA; naquela época, eu lhe falava dia sim, dia não,
para atualizá-lo, durante seus primeiros quatro anos como vice-presidente. E
Bobby Gates trabalhou para mim por dois anos, no início dos anos 1970s, quando
eu chefiava o setor de Política Soviética Externa da CIA. Sempre pensei que os
conhecesse bem; Gates sempre me pareceu corrompido por omissão (o que escrevi em
sua “avaliação de eficiência”); de Bush, de fato, pouco conheci do que houvesse
por baixo do ar solene, do visível interesse pelo que lhe dizíamos e do senso de
humor.
Mas
jamais consegui entender por que Bush consumiu tanto capital político para
dobrar espinhas senatoriais, até conseguir que Gates fosse confirmado no cargo
de diretor da CIA – apesar do envolvimento de Gates no escândalo dos “Contra” do
Irã. Envergonho-me de confessar que jamais me passou pela cabeça que Bush
estivesse, ali, premiando o seu principal cúmplice naquele escândalo.
Depois
do que li em Consortiumnews,
sobejamente comprovado, agora já entendo. Gates sabia, digamos assim, onde
estavam enterrados muitos, se não todos, os cadáveres do escândalo dos “Contra”
do Irã. Sabia também o quanto, muito profundamente, o próprio Bush estivera
envolvido. Por isso, do ponto de vista de Bush, era desesperadamente necessário
que Gates fosse posto na exata posição na qual teria meios para encobrir tudo. E
Bush o pôs precisamente ali.
Sem
Consortiumnews, o povo
norte-americano tampouco saberia sobre a estranha instrução escrita por Walt
Rostow, assessor de Segurança de Johnson – “esse envelope não deve ser aberto
antes de decorridos 50 anos” – para esconder os documentos que comprovam que e
como Nixon persuadiu os sul-vietnamitas, pouco antes das eleições de
1968, a
fazer gorar as conversações de paz que teriam posto fim à guerra do Vietnã e
evitado mais quatro anos de matança.
A
imprensa-empresa comercial nunca quer saber dessas verdades bem documentadas –
afinal, quantos embaraços! – mas observei que algumas daquelas realidades vivem
e sobrevivem, mesmo que jamais noticiadas, numa narrativa expandida e correta da
história dos EUA.
Semana
passada, o “Citizens Response”, em Dallas, sobre “As Mentiras Enterradas” de
George W. Bush, pediu-me que comentasse a primeira fala (de Kathy Kelly) e que a
apresentasse via Skype. Estremeci, só de pensar! Por quê? Porque se há verdade
abundantemente demonstrada ao longo da última década, é a seguinte: jamais será
possível, nem que me dessem todo o dia, listar todas as mentiras de Bush Filho.
E já me estavam dando o programa inteiro, 15 minutos.
Mas,
com seu artigo no qual se listam boa parte das mentiras e desonestidades de
opinião e de julgamento de Bush, a tarefa ficou muito mais fácil. Sei que muitos
dos meus amigos, reunidos em Dallas para protestar contra a festa de Bush, leem
regularmente nosso Consortiumnews e
muitas outras páginas que reproduzem e redistribuem o que publicamos.
Despreocupei-me,
portanto, porque sabia que muitos já teriam lido o seu comentário sem meias
palavras: “Eis o que eu teria feito, se estivesse no lugar de Bush – o que penso
que Bush deveria ter feito.” Você, assim, me poupou de ter de devotar a isso
aqueles meus preciosos 15 minutos.
Consortiumnews é
também especial, porque publica não só rigoroso jornalismo investigativo, mas
também análises de ex-analistas de inteligência com os quais me orgulho de ter
trabalhado – analistas excepcionais, como Mel Goodman, Paul R. Pillar e
Elizabeth Murray – e os comentários incisivos, às vezes brutalmente claros, de
intelectuais religiosos, como Dan Maguire, Paul Surlis e Howard Bess.
Embora
tenha de escrever quase que exclusivamente textos para palestras e conferências
nas próximas semanas, nesse tour pelo país, espero conseguir enviar-lhe
meus artigos, como sempre.
No
começo deste abril/2013, comemorei 50 anos do início de minha carreira como
analista da CIA. Vistos de hoje, tenho de dizer que nunca, na minha vida, as
coisas foram tão, digamos, “interessantes” e cruciais.
Mais
uma vez, os cidadãos norte-americanos estão sendo enganados – malnutridos e
desnutridos de informação de boa qualidade, pelas Empresas-imprensa de Adulação.
Em tempos assim, ainda mais, considero um privilégio escrever para, e aprender
desse, Consortiumnews.
Será
que os EUA afundar-se-ão em mais uma (ou duas) guerra(s), agora que se aproxima
o 100º aniversário da 1ª Guerra Mundial – uma guerra que virtualmente ninguém
desejava? Observe as semelhanças entre o que se vê hoje e o que o historiador
Christopher Clark disse da guerra de 1913, em seu best-seller: The
Sleepwalkers: How Europe Went to War in 1914 [Os sonâmbulos: como a Europa
foi à guerra em 1914].
Vêm
dias desafiadores pela frente. E uma base de informação confiável, como Consortiumnews, permanecerá
indispensável.
Ray
McGovern
__________________________
Nota
dos tradutores: O
blog Consortiumnews está em campanha
para arrecadar dinheiro para manter o bom jornalismo que faz. Se você quer doar
e/ou tem contatos nos EUA, divulgue e mande divulgar a PÁGINA
PARA DOAÇÕES (as traduções são trabalho voluntário, gratuito).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.