20/5/2013, Linah
Alsaafin. Al-Monitor Palestine
Pulse
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Linah Alsaafin |
Na
6ª-feira, 16/5, à noite, um grupo de vinte palestinos abriram uma passagem no
muro do apartheid, no posto de controle de Abu Dis, entre as vilas de
al-Ezzariya e Abu Dis, e derrubaram parte do muro, para chegar aos arredores de
Ras il-Amood, em Jerusalém.
A
reação do exército de Israel foi, previsivelmente, frenética e desproporcionada.
Atiraram com munição real contra os palestinos, além de bombas de som e granadas
de choque. O buraco no muro foi ampliado para 4m, e, segundo Salah Khawaja,
porta-voz da Ministério do Estado da Autoridade Palestina para Questões das
Colônias e Muro do Apartheid, pelo menos três pessoas entraram em Jerusalém e
chegaram à Mesquita al-Aqsa para as orações da tarde.
Abu
Dis e Ras il-Amood sempre foram cidades vizinhas, antes de serem separadas pelo
Muro do Apartheid, que separou vizinhos e parentes e multiplicou as distâncias e
as dificuldades para ir de uma vila à outra.
A
derrubada de parte do muro vem na sequência de várias manifestações contra a
ocupação israelense, para marcar os 65 anos da ocupação da Palestina para criar
Israel, o Dia da Nakba [a Catástrofe], que se completaram dia 15/5. As
manifestações prosseguirão durante o verão, segundo Khawaja, e estarão focadas
em protestos contra a judaicização de Jerusalém, que Israel tenta conseguir,
mediante expulsão de moradores, demolição de casas e assalto, para ocupação, de
todas as terras palestinas dos arredores.
De
pouco nos servem as negociações, em que não confiamos. Dependemos só de nós
mesmos para pressionar a comunidade internacional a tomar medidas concretas,
para que Israel seja obrigada a responder pelo que faz
– disse Khawaja a esse
Al-Monitor. Em 2004,
a Corte Internacional de Justiça definiu o muro do
apartheid como construção ilegal, a ser imediatamente demolida. Até agora, não
se viu qualquer ação para fazer valer a sentença daquela alta corte. Cabe a nós
aplicar a decisão da Corte Internacional.
Yasin
Sbeih, residente no campo de refugiados de Shuafat, manifestou seu integral
apoio à ação para demolir o muro.
O
que aconteceu aqui na 6ª-feira à noite foi excelente. É ação a ser repetida em
todos os pontos onde haja muro – disse
ele – a tática pode ser efetiva para
forçar o exército ocupante a dispersar esforços em várias frentes.
Significa também que os palestinos começam a agir para derrubar
o muro do apartheid. É ação a ser empreendida em vários pontos, para chamar a
atenção para a ilegalidade de todos os muros israelenses, para evidenciar que os
muros em nada melhoram a “segurança” de Israel, como alegam. E mostrar que o
muro só tem finalidades discriminatórias.
Desde
que se divulgaram pela primeira vez os planos para construir uma muralha
em torno de
Jerusalém , inúmeros analistas têm repetido que a barreira visa
exclusivamente a controlar o crescimento demográfico dos palestinos que vivem na
cidade – que, em 2012, já eram, pelo menos, 38% da população de Jerusalém, mais
de 200 mil pessoas – assegurando espaço exclusivo para colonos israelenses.
Resultado de roubo de terras palestinas pelos judeus |
Está
previsto que o muro acompanhe todas as fronteiras municipais de Jerusalém –
fronteiras que o governo israelense inventou e anexou, 17 dias depois da
ocupação de Jerusalém leste em 1967, movimento jamais reconhecido pela lei
internacional. O traçado do muro, que não passa de mecanismo para roubo de
terras palestinas, inclui os prédios da colônia Gush Etzion, no sul; de Giv’at
Ze’ev ao norte; e de Ma’ale Adumim a leste, todas essas colônias exclusivas para
judeus, cercando, no total, 164 quilômetros quadrados de
terra palestina na Cisjordânia. O muro é construído próximo da região de
Jerusalém leste, que fica separada, o que, para os israelenses, garantiria a
separação intencional entre os colonos judeus e os habitantes originais
palestinos.
Cerca
de 60 mil palestinos em várias áreas, com documentos de identidade azuis, de
residentes em Jerusalém, estão impedidos de chegar diretamente a Jerusalém, e
são obrigados a passar por um posto de controle do exército de Israel,
diariamente, para chegarem a escolas e aos respectivos locais de trabalho. É o
que acontece com os palestinos que vivem no campo de refugiados Shuafat, em Ras
Khamis e nas vilas de Semiramis, Kufr Aqab, al-Ezzariyeh e Abu Dis.
Os
enclaves que ficaram na área excluída pelo muro do apartheid não recebem
praticamente nenhum serviço público básico. Estão sob jurisdição da prefeitura
de Jerusalém controlada por Israel, que os abandonou completamente; e a
Autoridade Palestina é proibida, pelo Acordo de Oslo, de entrar nessas áreas.
Consequentemente, não é raro ver ali ruas tomadas completamente por lixo, a
infraestrutura urbana está destruída, as estradas são praticamente
intransitáveis e há alta incidência de crimes de todo o tipo.
Em
resumo, nenhuma autoridade local se interessa por garantir serviços municipais
básicos à população palestina. Daí resultou a privatização dos serviços públicos
por várias empresas e organizações não-governamentais. Mesmo sem receber
qualquer tipo de serviço de qualidade satisfatória, os palestinos que ali
residem são obrigados a pagar impostos municipais, sob pena de perderem os
documentos de cidadania jerusalemita, o que limitaria ainda mais seus direitos
de ir e vir e cancelaria o direito, que ainda têm, de estudar e trabalhar em
Jerusalém.
A
passagem escavada no muro, em Abu Dis, ainda está aberta. Mas o exército
israelense já instalou ali seus jipes blindados e soldados armados, até que o
governo de Israel reconstrua o muro.
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