7/5/2013, Pepe Escobar, Asia Times Online – The Roving
Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Pepe Escobar |
Bem
quanto a encenação da linha vermelha entrava em convulsão febril – mas sempre
enterrada na areia – e ele teve de escolher entre os EUA “exercitarem a
contenção” ou “envolverem-se diretamente” na guerra
síria,
o presidente Obama foi salvo pelo governo israelense de Bibi Netanyahu.
A
tentação de Obama era – oh, que tentação, tão grande – re-representar Ronald
Reagan e desfilar gloriosamente sob o manto de Obama, o “Mujahid”, exatamente como Reagan fez
nos anos 1980s com seus amados combatentes da liberdade da jihad afegã.
Isso terá de esperar – talvez não muito.
Os motivos de Israel
Obama, o “Mujahid” |
Encurtemos
a coisa. As bombas de Israel contra instalações do Exército Sírio em Jamraya
perto de Damasco são provocação e ato de guerra. Israel agiu como avatar de
Washington – que pode ter fornecido a lista de alvos. E Washington – para nem
falar daqueles fantoches inúteis em Bruxelas – não condenará o bombardeio, o
qual, pela infinitésima vez zomba da lei internacional.
Israel
insiste que os alvos eram mísseis terra-terra iranianos Fateh-110 que estariam
sendo enviados ao Hezbollah. Damasco diz que os alvos foram um instituto militar
de tecnologia e áreas de treinamento de tropas; vivem ali vários inquilinos que
a CIA muito gostaria de recrutar e pôr a seu serviço. Não há armas químicas em
Jamraya. Fontes médicas sírias denunciaram que 42 soldados podem ter sido
assassinados no ataque.
A
ideia de envolver o Hezbollah, como tenta fazer Israel, é fraca. Não há qualquer
confirmação de que o Hezbollah tenha comprado Fateh-110’s. Desde 2009, o
Hezbollah já tem versões sírias do Fateh-110 – o M600 - com alcance de cerca de
250 km
e sistema decente de orientação.
A
macacada anônima de sempre, citada como “fontes em Washington” insiste que o
próprio exército sírio precisa desses mísseis contra as gangues de mercenários
armados que se autodescrevem como Exército Sírio Livre. Não faria sentido algum
despachar os mísseis para o Líbano.
Mas
para Israel faz sentido destruir um suprimento de Fateh 110’s – e até de M600’s.
Míssil terra-ar Fateh 110 -variante M600 em plataforma móvel |
Assim, Israel ajuda diretamente o “exército sírio livre”; um de seus
porta-vozes, por falar nisso, real ou fake, foi à televisão israelense
para elogiar os bombardeios. E Israel, no mínimo, consegue impedir, por hora,
que mais mísseis cheguem ao Hezbollah.
Fato
visível através do denso nevoeiro é que Israel tem um punhado de sérios motivos
para, mais uma vez, agir como estado-bandido.
Israel
anseia por uma Síria fraca, caótica – sem qualquer tecnologia militar avançada.
Anseia sobretudo por uma total somalização da Síria – uma distopia de
sectarismos. Que melhor pretexto para Israel passar a atacar 24 horas por dia,
sete dias da semana, que o terrorismo wahhabi linha duríssima bem ali, próximo
às fronteiras (nunca delimitadas) israelenses? Além do mais, Israel sonha com
arrastar a Síria, o Hezbollah e afinal o Irã, para a guerra total. Quer o pacote
completo – e quanto antes, melhor.
Mas
Damasco pode jogar xadrez – e não responder. Pelo menos por hora. Ou deixar a
resposta por conta do Hezbollah – em futuro próximo.
Não
é acaso que o bombardeio tenha acontecido depois que:
(1)
o chefe do Pentágono, Chuck Hagel passou por Israel e pelas petromonarquias do
Golfo; depois
(2)
que o Exército Sírio avançou nas duas últimas semanas pelo corredor de
Homs, contra os mercenários e jihadis financiados por estrangeiros; e
depois também
(3)
que Hassan Nasrallah, do Hezbollah, fez
viagem “secreta: a Teerã; Nasrallah, que tem aguçada mente geopolítica, disse e
repetiu [a toda a comunidade
islâmica reunida] que o que “eles” realmente querem
é destruir
a infraestrutura, a economia e o tecido social da Síria – “destruir a Síria como povo,
como exército, como nação”.
Se
houver outros ataques – e bem pode haver – para destruir os arsenais do exército
sírio, virão como presente dos céus para os mercenários/jihadis.
Nasrallah está absolutamente correto: o objetivo chave da coalizão “de vontades”
CCGOTAN (Conselho de Cooperação do Golfo e OTAN) é tentar arrastar a Síria para
guerra total. Ante alguma eventual resposta síria, a “solução” seria arrasar a
Síria, à bomba, pelo padrão usado no Iraque.
As opções de Obama, o “Mujahid”
Mundos abismais da "Think-tank-lândia |
Ainda
não se sabe se o gambito EUA/Israel dará o resultado esperado. Até aqui, o que
fez foi adiar a coroação de Obama, o “Mujahid”.
Os
mundos abismais da Think-tank-elândia
norte-americana ficaram muito, tão OH! TÃO EXCITADOS, com a perspectiva de Obama
burlar o Conselho de Segurança (e Rússia e China) ao estilo bushesco e impor uma zona aérea de
exclusão sobre a Síria – de modo que os EUA pudessem engajar-se na sempre
desejada “campanha de supressão da defesa aérea do inimigo”.
Bobagem,
embora britânicos e franceses não tenham desistido, dentro da União Europeia e
da Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN, onde, de fato, já tentam
empurram a OTAN para impor uma zona aérea de exclusão.
A
zona aérea de exclusão foi introduzida pela imprensa em Washington como meio
para neutralizar as armas químicas sírias. O problema é que Washington tem rala
‘inteligência’ sobre onde de fato estão as tais armas químicas. E, para
complicar, o mais provável é que as armas químicas tenham sido usadas não pelo
governo sírio, mas pelos “rebeldes” – segundo Carla
del Ponte, muito
conceituada investigadora da ONU.
Carla Del Ponte |
O
governo Obama flerta também com “ajuda letal direta” para os “rebeldes” –
mísseis teleguiados antitanques e mísseis terra-ar.
Washington
crê em seu próprio mito de que já não estaria “indiretamente” envolvida no
movimento para armar grupos de oposição na Síria. Desde 2011, as gangues de
mercenários e jihadis recebem armas através do mercado negro, arsenais na
Líbia e na Croácia. A CIA trabalha mergulhada nisso até o pescoço. Muitas dessas
armas já estão em mãos dos jihadis linha duríssima do tipo dos que
compõem a [Frente] Jabhat al-Nusra.
A noção segundo a qual a CIA tem
capacidade para manter armados e sob controle aquelas gangues de
mercenários/jihadis a serviço de Washington depois de derrubado o governo
do presidente Bashar al-Assad é A PIADA dos primeiros anos do século 21. Basta
percorrer a trilha da memória, até o Afeganistão [orig. Just take a trip down
memory lane to Afghanistan. [1]
Ou
imaginem aqueles McJihadis sírios, ou os mujahidin de YouTube,
equipados ao ombro com disparadores portáteis de mísseis termoguiados,
espalhando o inferno por todo o sudoeste da Ásia.
Assim,
depois de muito suar, Obama acabou ficando com coisa bem mais confortável que
uma zona aérea de exclusão: ataques a alvos predefinidos – ou com jatos ou com
mísseis, e levados a efeito pelos israelenses. O esquemão original poderia ser a
Operação Raposa do Deserto [orig. Operation Desert Fox] (o bombardeio
ordenado por Bill Clinton contra o Iraque, em 1998.) O objetivo, mandar
“mensagem bem clara” à Síria.
Os
próximos bombardeios visarão aeroportos e pistas de pouso e decolagem,
concentrações de aeronaves, mais depósitos de armas, tanques e artilharia. O
dano colateral aumentará furiosamente, inevitavelmente, proporcionalmente ao
nível da provocação.
Bill
Richardson, ex-embaixador dos EUA à ONU, íntimo do clã Clinton, já apostou, pela
rede ABC News, que Obama “mostra
tendência para os ataques aéreos”. Sim. É só o começo. Mini-choques &
pavores aguardam.
Basta seguir o mapa do
caminho
A
questão é por que demorou tanto. A destruição da Síria – como Nasrallah a
conceituou – com o ocidente mais uma vez em colaboração com gangues
jihadis, está escrita nas cartas há anos. Vejam como Seymour
Hersh delineou-a em 2007. E vejam o quão
ansiosamente o establishment bipartidário em Washington espera pela “mudança
de regime”.
Seymouir Hersh |
E
Damasco, é claro, é só mais uma parada rumo a Teerã. As proverbiais fontes
anônimas já vazaram para o Sunday Times de Rupert Murdoch em Londres, que
um “Crescente
de Defesa”
já se vai tornando realidade.
É
o mesmo elemento CCG-Israel na coalizão de vontades na Síria, nesse caso
organizando a gangue para “conter as ambições nucleares do Irã”. Turquia, a Casa
de Saud, os Emirados Árabes Unidos e Israel alegremente festejam em centros de
controle e comando conjuntos, para detectar os mísseis balísticos iranianos do
mal.
Não sei muito de história. Mas que
mundo maravilhoso teríamos. Presidente? Obama, o “Mujahid”.
Nota dos
tradutores
[1] A Trip Down Memory Lane é título de um
filme canadense, de 1965, 12’40”,
categoria “experimental”, uma colagem de imagens e clips de som, só material
jornalístico, de mais de 50 anos. Pode ser visto a
seguir:
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