3-5/5/2013, Jeffrey St. Clair, CounterPunch e Information Clearing House
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Jeffrey St.
Clair é editor do blog
CounterPunch. Seu mais recente livro
(escrito com Joshua Frank) é Hopeless:
Barack Obama and the Politics of Illusion (AK
Press).
Afinal
já se sabe. A misteriosa autoridade legal do programa de matar de Barack Obama
servindo-se de drones [veículos aéreos pilotados por joystick, à
distância] vem-lhe de governo anterior, com interpretação elástica do poder
executivo: do governo de Richard Nixon.
Num
documento aterrador, de 16 páginas, conhecido singelamente como “O documento”
[orig. the White Paper], um dos cérebros do Departamento de Justiça de
Obama cita o bombardeamento clandestino contra o Camboja, em 1969, como
antecedente e fundamento legal que justifica(ria) os ataques de drones,
que hoje invadem profundamente territórios de países contra os quais os EUA não
estão em guerra.
Barack Obama em sonho assassino (com drones) |
Essa
revelação espantosa vem redigida numa prosa antisséptica, de corretor de seguros
que anuncia a improcedência de uma demanda, baseado em doença pré-existente.
Pois é. O bombardeamento do Camboja (também chamado “Operação
Menu”), que envolveu mais de 3 mil ataques aéreos, foi universalmente, ou quase,
denunciado como crime de guerra. Agora, o governo Obama consagra oficialmente o
crime e a atrocidade, como precedentes que legaliza(ria)m as matanças que o
próprio governo autoriza.
Desde
a eleição de Obama, a CIA coordenou cerca de 320 ataques de drones só no
Paquistão, nos quais mais de 3 mil pessoas foram mortas, 900 das quais, civis.
Entre os mortos há, no mínimo, 176 crianças. Nunca antes foi tão fácil
assassinar, tão sem riscos.
Os
liberais escarneceram George W. Bush por se autointitular “O Decididor”. Bush
serviu-se dessa expressão patética para defender-se contra acusações de que
Cheney e sua gangue de neoconservadores mandavam e desmandavam na guerra do
Iraque. Mas a postura de Bush sempre seria menos absurda que a imagem de Obama,
pio leitor das homilias de Santo Tomás de Aquino, quando examina pessoalmente os
nomes que apareçam em sua lista-de-matar a tiros de drones telecomandados
e assiste vídeos exclusivos dos corpos destroçados por seus mísseis Hellfire.
Obama e Bush, mesma psique assassina |
A
psique assassina de Bush, pelo menos, expunha-se à análise e explicação. Talvez
a sanha de sangue de “Dábliu” se explique por uma fixação freudiana na patética
tentativa, de Saddam, para expulsar o Bush-seu-pai da cidade do Kuwait. Talvez
ele seja acossado por espasmos subconscientes de culpa por ter permitido que o
11/9 acontecesse durante seu mandato. Mas qual é a força motriz da selvageria de
Obama? Diferente de Bush, que tendia a deixar ver lapsos de estresse emocional,
Obama opera sem emoção, gelado como um sociopata político.
O
jogo dos drones de Obama, as atrocidades que ordena em nome do império,
parecem conscientemente movidas segundo um profundo algoritmo político de poder
e morte.
A
esquerda norte-americana mantém-se em grande medida insensível às transgressões
de ordem moral e constitucional de seu “líder”, deixando à vista só a ridícula,
patética figura de Rand Paul, encarregado de desdizer aquelas operações
mortíferas, malignas. E o honrado, admirável movimento de Paul, quando discursou
por mais de 24 horas, tentando obstruir a sessão do Congresso [orig.
filibuster] que confirmaria a indicação de Brennan, mestre dos
drones, para dirigir a CIA é ridicularizada como exercício paranoico
comparável aos dos Frank-Richs e Lawrence-O’Donnells.
A
Esquerda profissional, do cáucus progressista aos robóticos militantes de
Moveon.org, nada tem a declarar, não
faz qualquer objeção e não organiza protestos contra os pré-santificados atos de
assassinato do governo Obama, de pré-santificada violência contra os inimigos do
Império.
David Corn |
Pior:
comportam-se como eunucos políticos, com oferendas, tributos, “solicitações”
degradantes ao Mestre Supremo, cada vez que Obama destila sua conversa fiada
ideológica.
O
presidente deu-nos aula máster de hipnotizador político: transformou a Esquerda
Antiguerra dos EUA em funcionários operadores da equipe de gestão imperial.
A
Ciber-Esquerda é mantida rigidamente
alinhada e perfilada pelos arquitetos do opinionismo liberal. De David Corn a
Rachel Maddow, a imprensa-empresa dita progressista atua em sinistra harmonia
com a agenda neoliberal do governo. Caninamente ignoram as depredações que Obama
tem provocado na Constituição e, em vez de protestar, devotam mega hectares de
telas e de ondas de rádio e televisão a discutir a “crise fiscal” e o casamento
de homossexuais burgueses.
Rachel Maddow |
Noite
após noite, nos impingem discussões colaterais – como Hitchcock introduzia o
suspense para a cena seguinte em seus filmes? – o enredo de novelas e a vida
privada de celebridades, exclusivamente planejadas para distrair a atenção dos
públicos, para que ninguém veja o jogo que está sendo jogado. E o comentariato
liberal, os “especialistas” incansavelmente entrevistados, ou sempre os mesmos,
ou qualquer um, desde que diga exatamente o que o outro disse antes dele,
sabujamente, são complacentes com a fúria sanguinária dos esquadrões da morte
movidos à controle remoto de Obama, mesmo diante da sombria evidência de que o
programa de drones é criminoso. Ataque após ataque, raid após
raid, assassinato após assassinato, lá estão eles: sempre mudos. Mas esse
silêncio só faz ver a cumplicidade, a falta de consciência da própria culpa.
Todos têm os dedos marcados, imundos, de sangue longínquo.
Roger Morris |
Até
Nixon, o ápice do violentador, foi sacudido por defecções entre seus
subordinados, gente que desertou do governo, auxiliares, assessores que chegaram
ao próprio limite e renunciaram envergonhados. Um desses foi Roger Morris.
Morris, colaborador ocasional de nosso CounterPunch, trabalhou no
Conselho de Segurança Nacional durante o governo de L. B. Johnson e prosseguiu,
depois da eleição de Nixon, sob a chefia de Henry Kissinger. Na primavera de
1970, com os bombardeios clandestinos no Camboja, Morris renunciou ao cargo e à
carreira. Os tempos mudaram.
Onde
estão as figuras equivalentes, em consciência, na Casa Branca de Obama? Ou, que
fosse, no Partido Democrata? Acabaram-se os vazamentos? Acabaram-se as renúncias
por dever de consciência? Talvez o show mais escandalosamente claro seja
a perseguição ensandecida contra Bradley Manning. Não se admitirão a
contradição, nem o contraditório, não importa o pressuposto legal, nem o
pressuposto moral. De fato, serão considerados sedição e serão punidos pela
sanção suprema do presidente e seu governo.
Atos
que, noutros tempos, foram considerados ultrajantes, crimes contra a consciência
humana decente, hoje são rotina.
Bem-vindos
à era do “Assassinato.gov.EUA”.
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