Publicado
em 23/05/2013 por Urariano
Motta
[*]
Um
jovem de grande inteligência e observação, que conhece muitos países europeus,
me enviou esta mensagem ontem:
Para
muitos gringos, os brasileiros, os que não são europeus, não passam de macacos.
Aquilo que o senhor escreveu em ‘O filho renegado de Deus’ ainda acontece na
Europa. Aquilo não está só como os gringos viam um negro no Recife em 1961. Mas
muita gente tenta esconder essa realidade. Ou fazer de conta que não acontece.
Mas acontece, todos os dias, ainda hoje.
E
de fato, amigos, leio na Folha de São Paulo nesta quinta-feira que jovens da
periferia, lá na exemplar Suécia, revoltados, queimaram carros. E que esses
protestos começaram depois da repressão policial ter matado um imigrante velho.
Pior, a mesma polícia que matou abre investigação sobre o crime. Mas nem com tal
providência evitou a revolta dos jovens. Eles acusam as forças de segurança de
abuso de autoridade, de bater em idosos e crianças e de chamar os imigrantes, na
maioria negros, de ‘'macacos'’...
Então
ligo a mensagem recebida à notícia de hoje, e por isso navego pela internet para
ver o quanto a Europa e os Estados Unidos em crise descontam nas costas dos
imigrantes os problemas econômicos. O novo aqui – se novidade há – é o
crescimento do ódio em velhos preconceitos contra os latinos, africanos, ou de
um modo mais amplo, contra os não-europeus. Assim ocorre na Itália, onde a nova
ministra da Integração, Cecile Kyenge, vem recebendo insultos por ser negra e
mulher. Sites de extrema-direita a têm rotulado como “macaco congolês”.
Assim
é com o jogador Mario Balotelli, o craque da seleção italiana, que tem sido
vítima de humilhações nos estádios, como no San Siro, em que a torcida da casa
fez barulhos e imitações de macacos para provocá-lo. No primeiro tempo, o atleta
mandou a torcida adversária se calar, porém perto do fim do segundo tempo a
situação ficou insustentável e o juiz teve que paralisar o jogo por alguns
minutos.
Essas
noticias falam que esse não foi um caso isolado. Em Portugal, a situação se
repete com uma brasileira de nome Kelly dentro do BBB português. Recentemente,
Macau, um dos participantes do Big
Brother de Portugal, imitou um macaco enquanto Kelly tomava banho.
Já na
Espanha, depois de fazer uma falta no atacante Cristiano Ronaldo, na derrota do
Barcelona para o Real Madrid, por 2 a 1, o lateral-direito Daniel Alves teve que ouvir
insultos no Santiago Bernabéu, de acordo com a imprensa espanhola. O brasileiro,
já nos últimos minutos do jogo, escutou sons de imitações de macacos vindos das
arquibancadas do estádio.
Esse
tem sido um comportamento repetido, da Inglaterra à França, mais a Grécia e onde
a crise econômica desponta. O insulto e o desprezo por humanos diferentes não é
novo. A novidade é que os macacos antigos agora vão além dos negros, atingem os
muçulmanos, imigrantes pobres, pessoas de pele clara, e tudo que for estranho.
Enquanto
escrevo, recebo a informação de que os estrangeiros não gostam de ser tratados
por “gringos” no Brasil. É natural e justo que não se sintam bem. Mas em um
contexto de incompreensões e discórdia, creio que o leitor entenderá o título da
coluna.
O
trecho do romance “O filho renegado de
Deus” a que o jovem se referiu é este:
-
Eu serei o seu guia e intérprete no Recife,
excelência.
Então
uma jovem ao lado de Ted Kennedy, com jeito de fina, educada, parecendo uma
condessa, então essa senhora vai falar para Edward, em gíria do Sul dos Estados
Unidos:
-
Quem vai nos servir é este macaco?!
Sim,
então nessa frase o negro Filadelfo sentirá, com tamanha raiva, mágoa que o
deixará ferido, então o negrinho vai sentir que serão crescidas dentro de si
florestas de macacos, um povo de grandes símios, um mato, uma cerrada população
de árvores onde pulam chimpanzés como ele, como sua mãe, como sua avó escrava,
um povo de caricatura a pular entre árvores, onde se confundem os colonizadores
filhos de colonizadores, netos de colonizadores, todos de capacete e rifle em
safáris.
É
natural que não diga nem ao padrinho Manoel de Carvalho, pois o espírito acima
de tudo não o perdoaria, e Filadelfo não podia contar que apenas respondeu,
quando deveria cuspir, escarrar no imaculado e gentil braço da suave dama, mas
apenas disse:
-
Senhora, eu não sou macaco.
- Oh,
não, o senhor entendeu mal, ela não disse isso – meio a
contragosto contemporizou o nobre representante dos Estados Unidos. Ao que ele,
o macaco que falava, apenas disse:
- Senhor,
eu falo inglês e entendo bem as suas gírias.
Enviado por Direto da
Redação
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.