Set. 2012, Philippe Corcuff (entrevista a Mathieu Deslandes) - Rue89
Entrevista traduzida pelo pessoal
da Vila Vudu
Excerto da Ata de Reunião dos tradutores: Essa entrevista não é nenhuma brastemp: muito critica e pouco propõe.
Além disso, os jornalistas do Blog Rue89 creem firmemente que Hollande, na
presidência da França – dado que ele não é a fascista Marinne Le Pen – seria
alguma “esquerda”. Mas o entrevistado faz retrato interessante, pensado com
cuidado, de uma autoproclamada esquerda não comunista (no Brasil, é a chamada “a militância”
petista e inclui também os marina-silvistas “ecológicos à moda Al Gore &
créditos de carbono" que, estes, são o NADA absoluto), que abunda nesses
tempos pós-neoliberais ou, talvez, melhor dito, nesses tempos de neoliberalismo
terminal, mas de neoliberalismo ainda sobrevivente no PSDB e na imprensa-empresa
e, ativo, portanto, ainda, nas discussões sociais no Brasil (embora o
entrevistado só fale da França). Então, decidimos
traduzir.
Philippe Corcuff em Lyon (9/2012). Foto de Mathieu Deslandes - Rue 89 |
O sociólogo Philippe Corcuff conhece bem as esquerdas: milita
há 35 anos. Trocou o Partido Socialista pelos Movimento dos Cidadãos, depois
pelos Verdes, de onde partiu para a Liga
Comunista Revolucionária (LCR),
que se converteu em Novo
Partido Anticapitalista
(NPA). Novamente decepcionado, diz que talvez se una à Federação
Anarquista. Frequenta também a Associação pró-Taxação das Transações financeiras
e pela Ação Cidadã (ATTAC), altermundista, e o sindicato Unitários Solidários
Democráticos [orig. Solidaires
Unitaires Démocratiques, SUD-Education].
Mathieu Deslandes |
Mantendo-se conectado a todos os
ambientes militantes que pôde atravessar, Corduff alarma-se, há meses, com o
embrutecimento intelectual dos militantes. Da experiência, extraiu um livreto,
“A esquerda está em estado de morte cerebral?” [Orig. La Gauche est-elle en état de mort
cérébrale?, éd. Textuel), que essa semana
chegará às livrarias.
Em
sua sala, no Instituto de Estudos Políticos de Lyon, descreve o quadro mental da
“esquerda à Hollande”, dos “esquerdistas do esquerdismo”, e suas patologias
mentais. Explica por que os think tanks são total fracasso, por que “os
indignados trazem alguma esperança”, milita para que a política aprenda com o
RAP e que ouse tentar, que ouse experimentar.
Rue89
: Qual o papel das ideias, na reconquista do poder [na França], pela esquerda?
Antonio Gramsci |
Philippe
Corcuff:
Instalou-se um “esquemão”, ligado a uma determinada leitura super simplificada
de Antonio Gramsci, pensador marxista: a
ideia de que a conquista do poder político teria de, antes, passar por uma fase
de hegemonia cultural ou intelectual.
Minha
hipótese caminha na direção exatamente oposta, para a situação atual: a esquerda
só conseguiu vencer eleitoralmente, quando já estava em estado de decomposição
intelectual.
Rue89
: O “sonho francês” de François Hollande, nesse caso, foi o quê?
Philippe
Corcuff:
Confundem-se hoje ideias e slogans de marketing, na discussão política.
Ideias têm a ver com trabalho intelectual. Na tradição da esquerda, é confrontar
os preconceitos, criticar as ideias feitas e os lugares-comuns, buscar
distanciar-se de qualquer sinal de imediatismo, reformular frases, estabelecer
relações entre diferentes dimensões... É precisamente tudo que já praticamente
não se encontra, ou encontra-se cada vez menos.
Discutem-se,
praticamente sempre, ideias apenas empilhadas umas sobre as outras, mas nada é
retrabalhado, nada é pensado. E a publicidade e o jornalismo-que-há arrancam daí
slogans lisos e consensuais.
Rue89
: Desde quando a esquerda está nesse estado de morte cerebral, como você diz?
Pierre Moscovici |
Philippe
Corcuff: É
resultado de várias evoluções misturadas.
- Há, para começar, um movimento contínuo de profissionalização política e, nele, os recursos intelectuais são cada vez menos valorizados. Por exemplo: até há poucos anos, Pierre Moscovici, que tinha imagem de intelectual, pôs-se a explicar ao jornal Libération que não, que era homem de aparelho. Como se fosse melhor negócio, para ele, expor-se como apparatchik que como intelectual.
- Há também o movimento de tecnocratização. Os tecnólogos participam cada vez mais da definição do que seja a política. Passaram a ocupar, simultaneamente, o posto de alto funcionário do Estado, o mais alto cargo político e ocupam também uma parte do poder econômico. Assim se forjou uma visão particular, muito fragmentada. A realidade foi recortada e surgem casos ditos “técnicos”: “a imigração”, “o emprego”, “o déficit no orçamento”, “a delinquência”... Segmentam-se os problemas, sem estabelecer qualquer relação entre eles. Examinam-se pequenos trechos das grandes engrenagens sociais, e ignora-se a totalidade.
- Em seguida, não surgiu nenhum corpo teórico englobante que substituísse o marxismo, em declínio a partir do início dos anos 1980s. Não lastimo a ausência do peso muito exclusivo que se dava às referências marxistas nos anos 50-70, mas a ausência de qualquer teoria totalizante, englobante, que, sim, o marxismo oferecia.
François Hartog |
- Por último, o que o
historiador François
Hartog chama de “presentismo” [orig. “le présentisme”]. As
sociedades tradicionais tinham, para referência, o passado; as sociedades
modernas (no sentido de “o Iluminismo”) voltavam-se para o futuro, mediante o
progresso; hoje, uma espécie de presente perpétuo substituiu tudo isso, sem
apoio nem no passado nem no futuro, para avaliar o que acontece. De fato, a
política está convertida, cada dia mais, numa esquete de marionetes do
imediatismo.
Rue89 :
E por que lhe parece grave?
Philippe Corcuff: É
grave, se se considera a história da esquerda, que sempre foi a luta, ao mesmo
tempo, por justiça e por verdade. O mundo sobreviveu ao fim dos dinossauros, a
esquerda bem pode sobreviver ao sumiço do trabalho intelectual dentro dela
mesma, mas haverá uma perda, que já se constata na própria definição do que
conhecíamos como “a esquerda”.
Rue89
: E os think-tanks que pululam fora da Academia? Não criaram material de
pensamento?
Philippe
Corcuff:
Mantiveram-se e mantêm-se sempre num domínio limitado: dos intelectuais
segmentados por expertise e pela lógica programática. Só fazem elaborar
“respostas aos problemas” da “escola”, da “imigração”, do “déficit de
orçamento”, só respostas a “problemas”, sem qualquer reflexão sobre o quadro
geral onde cada “problema” se insere.
Isso
não basta, para que a esquerda reelabore o que chamo “os programas” [lit. os
softwares (NTs)] da crítica social e da emancipação, quero dizer, os
modos de formular as questões, antes de começar a pensar em respostas.
Rue89
: Como você definiria o quadro intelectual da esquerda no governo [da França]?
Anthony Giddens |
Philippe
Corcuff:
Apesar de os socialistas franceses rejeitarem a palavra, o quadro intelectual,
ali, é social-liberal. O sociólogo Anthony Giddens,
intelectual farol da “terceira via” britânica defendida por Tony Blair, disse
bem claramente:
- havia
a social-democracia que defendia o Estado social;
- houve
Thatcher, com o neoliberalismo que atacava o Estado social; e
- veio
o social-liberalismo, que ficou entre os dois anteriores.
Essa
esquerda à Hollande entende que a globalização neoliberal e o recuo do Estado
social são fatos consumados, são irremediáveis e irreversíveis. Contenta-se com
arranjos societais justos, mas limitados (como o casamento homossexual, por
exemplo, uma causa que, no fundo, é a consagração do casamento burguês mais
conservador). Hollande, especificamente, defende os quadros da Educação nacional
e, em certa medida, dos funcionários da Polícia e do Judiciário, mas o restante
dos serviços públicos estão já na lógica dos “cortes” e mais “cortes”
neoliberais.
François Hollande |
Como
nada disso pode ser claramente assumido, o que se vê é o distanciamento entre os
discursos e as práticas.
Rue89
: Como você definiria o quadro intelectual dos “esquerdistas da esquerda”?
Philippe
Corcuff : É o
que chamo, provocativamente, de “pensamento Le Monde Diplo”. Não penso
especificamente no jornal mensal Le Monde diplomatique, das raras
publicações da imprensa-empresa comercial que resistiu à virada neoliberal de
1983. Mas já se passaram 30 anos! E, pouco a pouco, aqueles esquemas
maniqueístas viraram rotina de pensamento.
Havia
“o mal” (o mercado, o individualismo) e “o bem” (o Estado, o coletivo e, cada
vez mais a nação, sob o tema da “desglobalização”). E a luta entre o bem e o mal
favoreceria “o mal” por causa “da mídia”, grande “o mal”, que aliena e embrutece
todo mundo – exceto, evidentemente, os senhores desse específico discurso,
sempre preservados por obra e graça do Espírito Santo!
Esse
“pensamento Le Monde Diplo” não se caracteriza tanto pela indignação ou
pelo engajamento. O que ele faz é, ininterruptamente “se lamentar”, lastimar-se,
deplorar que as coisas não sejam... o que não são. Os automatismos de
hiper-simplificação dessa doxa crítica têm ecos na Front de Gauche, no
grupo Attac, no Novo
Partido Anticapitalista (NPA) – no
qual milito – na esquerda do Partido Socialista, entre os ecologistas... Mas,
sobretudo, entre grande número de simpatizantes “críticos”.
O
pensamento “lamentativo” é pensamento paralisante, que, hoje, é dos principais
obstáculos à reconstrução intelectual das esquerdas. Por exemplo: a esquerda,
hoje, jura por todos os santos ante a dupla fé de que ‘tudo será diferente’
quando o mundo livrar-se do “individualismo” e der jeito “na mídia dominante”.
O
que se vê aí, operante, nesse caso, é uma das manifestações de uma patologia
intelectual que atravessa todas as esquerdas: o essencialismo, quero dizer: ver
o mundo através de essências, de entidades homogêneas e estáveis. Fala-se de “os
muçulmanos”, de “a Europa”, “a mídia”, “os EUA”, “Israel”, “Venezuela”... como
se fossem essências imutáveis.
E ninguém cuida de observar que,
na realidade, só há contradições, lógicas diversas, mais ou menos variadas,
resistências, transformações. O livro
de Alain Badiou sobre Sarkozy é tipicamente essencialista: fez
do sarkozysmo uma essência atemporal: um “transcendental Pétainista”.
Philippe Corcuff em Lyon (9/2012). Foto de Mathieu Deslandes - Rue 89 |
Rue89
: Como você chegou à conclusão de que as teorias da conspiração também são
característica que atravessa todos os campos de pensamento da esquerda?
Philippe
Corcuff: No
que tenha a ver com análise dos meios de comunicação e das relações
internacionais, dei-me conta de que havia esquemas muito presentes entre os
militantes e simpatizantes de esquerda, em total contradição com os esquemas das
ciências sociais nesses domínios.
No
quadro conspiracional/conspiracionista, o principal, de tudo que acontece, é
fruto de manipulações conscientes e ocultadas de algumas elites. Ora, tudo que
aprendi nas Ciências Sociais, de Marx a Bourdieu, me diz que o que mais opera
são limitações de estruturas não personalizadas, impessoais.
O capitalismo é Matrix ou Skynet em Terminator: um
maquinário impessoal que constrange e pouco a pouco domina o mundo. A máquina
não tem piloto, ninguém a controla completamente: foi o que se viu na crise das
hipotecas podres, quando alguns dos que se sentiam ‘pilotos’ foram eliminados,
outros mal tiveram tempo de salvar a própria pele... A evidência de que há quem
se aproveite do sistema não implica que os mesmos controlem o sistema.
Aí
se vê, cara a cara, como no caso do essencialismo, outra patologia intelectual
importante da esquerda.
Rue89?
E há outras?
Philippe
Corcuff Uma visão implícita assombra as esquerdas: a
passagem sub-reptícia do verbo pronominal reflexivo “emancipar-se”, para o verbo
transitivo “emancipar” [quase sempre “o outro”].
A
maioria dos que falam publicamente no campo da esquerda usam mais a primeira
acepção, no caso da autoemancipação dos oprimidos, mas são quase sempre
leninistas: uma vanguarda esclarecida (antiliberal, anticapitalista, laica,
feminista) que deverá arrancar, da caverna para a luz, a massa que os meios de
comunicação teriam alienado completamente, alienada também pelo trabalho, pelo
consumo e/ou pelo Islã.
Esses
homens e mulheres embrutecidos pelo trabalho, essas mulheres com véus
embrutecidas pelo patriarcado, as prostitutas embrutecidas pelos cafetões, e eu,
profeta feminista, as conduzirei das trevas à luz...
Rue89:
E como se sai disso?
Philippe
Corcuff: Os
partidos políticos têm cada vez menos relações, para se revigorarem, com os
movimentos sociais – e é no que deu a hegemonia da visão tecnocrática –, ou com
os intelectuais seriamente críticos.
Quando
estão à procura de ideias, escolhem ou tecnocratas especialistas num ou noutro
domínio, ou intelectuais “de televisão” – os Alain Minc, Jacques Attali, Bernard
Henry-Levi, Caroline Fourest... – Quer dizer: procuram gente que fala de tudo
com aplomb sem saber coisa alguma de coisa alguma.
As
universidades populares alternativas são experiências interessantes, mas
apresentam-se mais como locais de difusão de recursos críticos, que como locais
de elaboração.
Grupos como o Conselho Científico
de ATTAC e a Fundação
Copérnico oferecem a contraexpertise útil para enfrentar
cenários tecnocráticos, mas, para fazê-lo, correm o risco de continuar
prisioneiros de uma visão segmentada das coisas.
Há
também revistas interessantes (Multitudes, Vacarme,
ContreTemps, Agone, Réfractions, EcoRev’, La
Revue des livres...), mas nem sempre conseguem evitar o fechamento
intelectualista. Tem havido algum contato e interações com grupos de ação –
entre Vacarme e Act Up, entre Multitudes e a coordenação
dos trabalhadores precários e intermitentes da Ile-de-France, entre
ContreTemps e o Novo Partido Anticapitalista – mas as interações mais
produtivas só duraram pouco tempo.
Sinto
também que muitos esperam que surja “o grande pensador”. Não me parece coisa que
se deva desejar, se se pensa de uma perspectiva democrática. Alguns grandes
intelectuais franceses desempenharam (como Foucault, Bourdieu, etc.) e podem
ainda desempenhar certo papel, mas isso, para mim, não é o principal : os
programas [no sentido de softwares,
orig. les logiciels] da esquerda não podem ser reinventados só por uma
casta de intelectuais profissionais.
Sonho
com clubes nos quais os militantes dos movimentos sociais, pesquisadores,
políticos de partido, artistas possam dialogar, e nos quais podem desenvolver-se
ideias renovadas, a partir de uma relação crítica com tradições que cada grupo
traga.
Rue89
: O movimentos dos “Indignados” poderia revificar intelectualmente a esquerda,
não?
Philippe
Corcuff: É um
pouco o que se vê na Espanha e nos EUA: há um começo de reelaboração intelectual
do que é a esquerda e que aproxima novos meios militantes e meios intelectuais e
culturais.
Rue89:
Mas estão esboçando conceitos? Ou é só a união de categorias que, até aqui,
nunca haviam trabalhado juntas?
Judith Butler |
Philippe
Corcuff: A
visão da sociedade construída em torno da clivagem 1% versus 99% permitiu que
convergissem pessoas preocupadas com moradia, os sindicalistas, militantes das
minorias, teóricos do gênero, de relações pós-coloniais, marxistas, ecologistas,
artistas…
Há um cadinho favorável à
emergência de algo que brote simultaneamente do mais antigo e do mais novo. O
movimento “Occupy” produziu uma
revista: Tidal. Leem-se artigos de Judith
Butler e
outros. Começaram a fazer “a quente” o que eu sonhava em fazer “a frio”, naquele
clube de que falei.
Rue89:
As esquerdas francesas são mais preguiçosas que outras esquerdas?
Philippe
Corcuff:
Diferente da Alemanha e dos EUA, a esquerda francesa é carente de cultura
experimental. É ligada à valorização da política como combate (os que pensam que
a política é, sobretudo, questão de ter colhões presidenciais ou
revolucionários) e do centralismo estatal. Por aqui se experimenta menos, outros
modos de viver, de trabalhar, de decidir, de pensar... Há algumas experiências,
como Lip e, depois, passa-se
tempos e tempos falando delas.
Melhor que se afundar nas
lamentações e no ressentimento do “pensamento Monde Diplo” (“é culpa da
mídia, do individualismo, do Grupo de Bilderberg, da Troika...”), seria lançar-se na aventura
de outras práticas sociais, políticas e intelectuais.
Ouço,
seguidamente me dizem: essas suas histórias de experiências são boas para os
burguesinhos ‘de balada’ [orig. bobos, de bourgeois bohémien
(NTs)]. Mas as pessoas que fizeram emergir as ideias de consciência de
classe e de movimento operário entre 1830 e 1848 na França, viviam em situação
bem mais miserável que hoje.
De fato, vez ou outra, bastam
alguns dispositivos absolutamente simples, para começar a pensar e agir. Por
exemplo: numa oficina, na Universidade Popular de
Lyon, mandei
os alunos lerem dois textos : um de Michel Onfray, um de Bernard-Henri Lévy. E
os fiz discutir: 100% dos alunos “detonaram” o artigo assinado por BHL. Mas eu
trocara os autores. Apenas uma ideia de experiência que mostra a dificuldade de
“pensar pela própria cabeça”, na prática.
Rue89:
Você escreve que seria preciso buscar o RAP, dentre outros grupos, para inventar
novas linguagens políticas. Que novidade há aí, além do modismo?
Philippe
Corcuff:
Quando, como agora, vivemos em sociedades individualistas, as pessoas fortemente
presas à própria individualidade, a maioria dos grupos de esquerda só sabem dar
respostas, principalmente, coletivas. É o que chamo de hegemonia, na esquerda,
do “software coletivista”.
Contudo, umas das fontes
importantes de anticapitalismo, hoje, sobrevive na intimidade sonhadora e
agredida das pessoas. Dei-me conta disso, ao fazer um estudo de recepção do
seriado norte-americano de televisão “Ally
McBeal”, com
uma centena de telespectadoras. Não raro, o ápice do autoesquecimento de si
mesmo, um cerne de não egoísmo capitalista, é vivido sob a forma de uma amizade
ou de um amor no qual não vigem leis de interesse. Há aí, portanto, valores
anticapitalistas.
Nas letras de RAP de Keny
Arkana, Casey ou La
Rumeur, vê-se, precisamente, pessoas que
nos falam da opressão social, e, simultaneamente, do vivido individual. A
linguagem política teria de conseguir associar assim os quadros coletivos e as
subjetividades individuais.
Rue89:
Mais ou menos o discurso de Martine Aubry sobre “o
cuidar” e “o
cuidado”...
Philippe
Corcuff: O
problema é que ali se deu uso “marketado” à coisa: ela falou um pouco, porque
parecia chique, e logo mudou de assunto.
Sandra Laugier |
Mas, sim, há trabalhos sobre o
cuidado e o cuidar, dos quais participa minha amiga a filósofa Sandra
Laugier, que, sim, são apaixonantes :
associam dimensões afetivas e pessoais, à questão da proteção social. Mas seria
necessário que os filósofos que se interessam pelo cuidado e pelo cuidar,
políticos, trabalhadores sociais, sindicalistas e militantes feministas pudessem
pensar juntos.
Em
todos os casos, é importante distinguir bem claramente o que é reposicionamento
e realinhamento das esquerdas em face do trabalho intelectual, e o que, bem
diferente, não passam de brilharecos superficiais e modismos temporários ou
“marketing político”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.