14/5/2013, Joseph Massad, Al-Jazeera, Qatar
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Joseph Massad |
Joseph
Massad
é professor de Política Árabe Moderna e História Intelectual na Columbia University, em New York. É autor de: The Persistence of the Palestinian Question: Essays on
Zionism and the Palestinians.
O holocausto judaico matou a
maioria dos judeus que lutaram contra o anti-semitismo europeu, incluindo o
sionismo, escreve Joseph Massad. Foto AFP.
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Os
judeus que se opunham ao sionismo compreenderam, desde o início, que o movimento
incorporava o antissemitismo em seu diagnóstico do que os europeus chamavam de
“a questão judaica”. O que mais horrorizava os judeus antissionistas, contudo,
era que o sionismo também partilhava a “solução” para a Questão Judaica que os
antissemitas sempre haviam pregado, a saber: que os judeus tinham de ser
expulsos da Europa.
Foi
a Reforma Protestante, que fez renascer a Bíblia Hebraica, que ligou os modernos
judeus da Europa aos antigos hebreus da Palestina, ligação que os filólogos do
século 18 solidificariam mediante a descoberta da família das línguas “semitas”,
que incluiriam o hebraico e o árabe. Por um lado, os Protestantes Milenaristas
insistiam em que os judeus contemporâneos seriam descendentes dos antigos
hebreus e tinham de deixar a Europa e voltar à Palestina, para apressar a
segunda vinda de Cristo; por outro lado, as descobertas filológicas levaram a
rotular os judeus contemporâneos de “semitas”. O salto que as ciências
biológicas de raça e hereditariedade dariam no século 19 e que levaria a definir
os judeus europeus contemporâneos como descendentes raciais dos antigos hebreus,
nem teve, afinal, de ser salto muito grande.
Baseando-se
nas conexões criadas por Protestantes Milenaristas anti-judeus, abundavam, no
século 19, europeus seculares que rapidamente perceberam o potencial político de
“devolver” os judeus à Palestina. Menos interessados, que os Milenaristas, em
apressar alguma segunda vinda de Cristo, esses políticos seculares, de Napoleão
Bonaparte e do ministro britânico de Relações Exteriores, Lord Palmerston
(1785-1865) a Ernest Laharanne, secretário particular de Napoleão III nos anos
1860s, tinham interesse em expulsar os judeus, da Europa para a Palestina, para
instalá-los lá como agentes do imperialismo europeu na Ásia.
Wilhelm Marr |
Esse projeto seria abraçado por
muitos “antissemitas” – novo rótulo logo divulgado por racistas europeus
antijudeus, depois que a palavra foi criada, em 1879, por um obscuro jornalista
vienense, Wilhelm Marr, que divulgava uma plataforma-programa político
intitulado “A vitória do
judaísmo sobre o germanismo”. Marr
teve o cuidado de separar bem o antissemitismo e a história do ódio dos cristãos
contra judeus, de base religiosa. E enfatizava, na linha da filologia semítica e
das teorias raciais do século XIX, que a diferença entre judeus e arianos era
estritamente racial.
Assimilar
os judeus na cultura europeia
O
antissemitismo científico insistia em que os judeus seriam diferentes dos
cristãos europeus. Que, de fato, os judeus absolutamente não seriam europeus, e
que a presença deles na Europa seria a causa do antissemitismo. A razão pela
qual os judeus causariam tantos problemas aos cristãos europeus teria a ver com
a sempre repetida “ausência de raízes”, que não tinham pátria e, portanto,
nenhuma lealdade a pátria alguma. No período romântico dos nacionalismos
europeus, os antissemitas diziam que os judeus não teriam lugar nas novas
configurações nacionais, e minariam a pureza racial e nacional essencial na
maioria dos nacionalismos europeus. Por isso, se os judeus permanecessem na
Europa – argumentavam os antissemitas – só gerariam hostilidade entre os
cristãos europeus. A única solução seria os judeus deixarem a Europa e terem
pátria própria.
Desnecessário
dizer que os judeus religiosos e seculares sempre se opuseram a essa horrenda
linha de pensamento antissemita. Judeus ortodoxos e reformistas, judeus
socialistas e judeus comunistas, judeus cosmopolitas e
judeus Yiddishkeit culturais todos concordavam que aí estava uma perigosa
ideologia de hostilização que visava a expulsar os judeus de seus respectivos
países europeus.
O
Iluminismo Judeu (Haskalah),
que também emergiu no século XIX, buscou assimilar os judeus na cultura secular
europeia, induzindo-os a abandonar sua cultura judaica. Foi esse Iluminismo
Judeu que tentou quebrar a hegemonia dos rabinos judeus ortodoxos no “Ostjuden”
do shtetl leste-europeu,
propondo um rompimento com o que era visto como uma cultura judaica “medieval”,
em favor da moderna cultura secular dos cristãos europeus. A reforma do
judaísmo, para convertê-lo em variante assemelhada a um
cristianismo-protestantismo judeu, emergiria do fundo do Iluminismo Judeu. Mas
esse programa visava a integrar os judeus na modernidade europeia, não a
expulsá-los para longe da geografia da Europa.
Quando
surgiu o sionismo, 15 anos depois da publicação da plataforma-programa
antissemita de Marr, ele incorporaria todas essas ideias anti-judeus, inclusive
o antissemitismo científico.
Theodor Herzl |
Para
o sionismo, os judeus seriam “semitas”, descendentes dos antigos hebreus. No seu
panfleto de fundação, O Estado Judeu [Der Judenstaat], Herzl
explicava que seriam os judeus, não seus inimigos cristãos, os que “causavam” o
antissemitismo; e que “onde [o antissemitismo] não existe, para lá os judeus o
levam no curso de suas migrações”. Que “os infortunados judeus estão nesse
momento levando as sementes do antissemitismo para a Inglaterra; já o
introduziram nos EUA”; que os judeus seriam “uma nação” que devia deixar a
Europa, para restaurar a própria “nacionalidade” na Palestina ou na Argentina;
que os judeus deveriam copiar os cristãos europeus em termos culturais e
abandonar suas línguas e tradições em favor das modernas línguas europeias, ou
restaurar a própria antiga língua nacional. Herzl preferia que todos os judeus
adotassem o alemão, como idioma; mas os sionistas do leste da Europa preferiram
o hebraico. Os sionistas depois de Herzl decidiram e afirmaram que os judeus
seriam racialmente diferentes dos arianos. Quanto ao iídiche,
a língua viva da maioria dos judeus europeus, todos os sionistas concordavam que
tinha de ser esquecida para sempre.
A
maioria dos judeus continuou a resistir contra o sionismo e via seus preceitos
como antissemitismo e como continuação do esforço do Iluminismo Judeu para
apagar a cultura judaica e assimilar os judeus na cultura laica europeia, com a
diferença de que o sionismo queria os judeus longe da Europa, em ponto
geograficamente distante, depois de expulsos da Europa.
O
Bund
–
Sindicato Geral do Trabalho Judeu na Lituânia, Polônia, e na Rússia – que foi
fundado em Vilna no início de outubro de 1897, poucas semanas depois do 1º
Congresso Sionista,
em Basel, no final de agosto de 1897, viria a ser o mais empenhado inimigo do
sionismo. O Bund uniu-se à coalizão já existente de judeus contra o
sionismo, de rabinos ortodoxos e reformistas, que já unira forças alguns meses
antes para impedir que Herzl realizasse o primeiro congresso sionista em
Munique; por isso o congresso foi transferido para Basel. Os judeus
antissionistas, e os antissionistas em geral, em toda a Europa e nos EUA,
contavam com o apoio da maioria dos judeus, que, já bem entrados os anos 1940s,
continuavam a ver o sionismo como movimento anti-judeus.
A
coalizão antissemita de entusiastas sionistas
Percebendo
que seu plano para o futuro dos judeus europeus seguia de perto os antissemitas,
Herzl arquitetou uma precoce aliança estratégica com os antissemitas.
Em O Estado
Judeu , Herzl
diz que “Os governos e todos os países acusados de antissemitismo muito se
interessarão por nos ajudar a obter a soberania que desejamos”.
Vyacheslav von Plehve |
Acrescentava
que todos deviam contribuir, “não apenas os judeus pobres”, para um fundo de
imigração para judeus europeus; que devem contribuir também “todos os que querem
ver-se livres dos judeus”. No
seu Diário, Herzl anotou, sem
arrependimentos, que “Os antissemitas serão nossos mais confiáveis amigos. Os
países antissemitas serão nossos aliados”. Assim, em 1903, Herzl começou a reunir-se
com os mais infames antissemitas, como
o ministro do Interior da Rússia, Vyacheslav von Plehve, que supervisionou os
pogroms contra judeus na Rússia. Herzl procurou ativamente essa aliança.
Não foi absolutamente “por coincidência”, que o antissemita Lord Balfour, primeiro-ministro
britânico em 1905, tenha feito aprovar em seu governo a “Lei dos Estrangeiros”,
que impedia que judeus do leste europeu fugissem dos pogroms russos para
a Inglaterra. Balfour declarou que a proibição salvaria a Inglaterra do “mal
absoluto” que seria “uma onda de imigração predominantemente de judeus”. A
infame declaração
de Balfour, de
1917, para criar na Palestina “um lar nacional” para o “povo judeu” visava,
dentre outros objetivos, a minar o apoio dos judeus à Revolução Russa e a cortar
o fluxo de novas ondas de imigrantes judeus para a Grã-Bretanha.
Os
nazistas não seriam exceção nessa cadeia de sionistas antissemitas
Os
sionistas também construíram acordo com os nazistas, bem no início da história
do sionismo. Em 1933, o infame Acordo de Transferência (Ha’avara)
foi assinado entre os sionistas e o governo nazista, para facilitar a
transferência de judeus alemães e suas propriedades para a Palestina; esse
acordo quebrou o boicote
internacional dos
judeus, contra a Alemanha Nazista, iniciado por judeus norte-americanos.
E
foi nesse espírito também que emissários nazistas foram enviados à Palestina,
para relatar os sucessos da colonização judaica do país. Adolf Eichmann retornou
de sua viagem à Palestina em 1937, cheio de histórias fantásticas sobre as
realizações do Ashkenazi Kibbutz,
racialmente separatista, um dos que visitou no Monte Carmelo, como convidado dos
sionistas.
Contra
forte oposição da maioria dos judeus alemães, a Federação Sionista da Alemanha
foi o único grupo judeu que apoiou as Leis de
Nuremberg de 1935.
Concordavam com os nazistas: judeus e arianos eram raças separadas e separáveis.
Esse apoio nada teve de tático: foi apoio nascido de afinidades e semelhanças
ideológicas. A Solução Final dos nazistas foi cerebrada, de início, para
expulsar os judeus alemães para Madagascar. O objetivo partilhado de expulsar os
judeus para fora da Europa, como raça inassimilável, gerou a afinidade, que
sempre existiu, entre os nazistas e os sionistas.
Enquanto
a maioria dos judeus continuava a resistir contra a base antissemita do sionismo
e suas alianças antissemitas, o genocídio nazista não matava apenas 90% dos
judeus europeus. No processo, matou também a maioria dos judeus inimigos do
sionismo. Morreram, precisamente, porque se recusaram a obedecer à palavra de
ordem dos sionistas, para que abandonassem suas casas e seus países de
nascimento.
Depois
da Guerra, nem o horror do holocausto de judeus impediu que países europeus
continuassem a apoiar o programa antissemita do sionismo. Ao contrário: esses
países partilhavam, com os nazistas, uma predileção pelo sionismo. Opuseram-se
exclusivamente ao genocídio programado concebido pelos nazistas. Países
europeus, tanto quanto os EUA, recusaram-se a receber centenas de milhares de
judeus sobreviventes do holocausto. Esses países, até, votaram contra uma
resolução da ONU, apresentada pelos Estados árabes, em 1947, que os conclamava a
receber judeus sobreviventes. Esses mesmos países apoiariam, em seguida, em
novembro de 1947, o Plano
de Partição da ONU, para
criar um estado judeu na Palestina, para onde pudessem ser descartados aqueles
indesejados
refugiados judeus.
As
políticas pró-sionistas dos nazistas
Os
EUA e países europeus, inclusive a Alemanha, dariam prosseguimento às políticas
pró-sionistas dos nazistas. Governos pós-guerra da Alemanha Ocidental que se
apresentaram para abrir nova página no relacionamento com os judeus, não
fizeram, de fato, coisa alguma nessa direção. Desde que o país foi criado,
depois da 2ª Guerra Mundial, todos os governos da Alemanha Ocidental (e, depois,
todos os governos alemães a partir da unificação, em 1990) mantiveram, sem
qualquer alteração, as políticas nazistas pró-sionistas. Jamais houve qualquer
tipo de afastamento, entre os recentes governos alemães e os nazistas
pró-sionistas. A única coisa que já não se vê é o ódio declarado aos judeus, com
fundamento genocida racial, que o nazismo consagrou. Mas persiste, inalterado, o
desejo de ver os judeus em “país próprio”, em algum ponto da Ásia, bem longe da
Europa. De fato, os alemães assim explicam a quantidade de dinheiro que enviavam
a Israel, para, como diziam, ajudar a pagar os custos de realocar, lá, os
refugiados judeus.
Depois
da 2ª Guerra Mundial, emergiu um novo consenso nos EUA e na Europa, segundo o
qual os judeus teriam de integrar-se postumamente à europeidade branca; o horror do
holocausto de judeus já era, então, horror ante o assassinado de europeus
brancos. Desde os anos 1960s, os filmes de Hollywood sobre o holocausto de
judeus passaram a mostrar os judeus vítimas do nazismo como infalivelmente
brancos, como cristãos de classe média, letrados, bem educados, em nada
diferentes dos cristãos europeus e norte-americanos os quais deveriam, como
aconteceu, identificar-se com eles. Se os filmes mostrassem os judeus religiosos
pobres da Europa Ocidental (e muitos judeus do Leste da Europa mortos pelos
nazistas eram pobres e muitos eram religiosos), os cristãos brancos dificilmente
veriam qualquer traço comum entre aqueles judeus e eles próprios.
Portanto,
o horror europeu cristão pós-holocausto e genocídio de judeus europeus não se
baseou no horror ante o massacre de milhões de pessoas diferentes dos cristãos
europeus, mas, isso sim, se baseou no horror ante o assassinato de pessoas em
tudo idênticas aos cristãos europeus.
Só
isso explica que nos EUA, país que nada teve a ver com o massacre de judeus
europeus, haja mais de 40 memoriais do holocausto de judeus e um grande museu
dos judeus assassinados da Europa... mas não haja um único memorial do
holocausto de populações nativas da América do Norte, ou do holocausto de
afro-norte-americanos, pelos quais os EUA são diretamente responsáveis.
Aimé
Césaire compreendeu muito bem esse processo. Em seu famoso
discurso sobre o colonialismo, disse
que a visão retrospectiva dos cristãos europeus sobre o nazismo é
que:
Aimé Césaire |
... é barbárie, mas a barbárie
suprema, a coroação da barbárie, que soma todas as barbáries e barbarismos
diários; é o nazismo, sim, mas porque, antes de tudo, as vítimas foram europeus.
Mas antes, de serem suas vítimas, os europeus haviam sido seus cúmplices; e
então eles toleraram o nazismo, antes que se virasse contra eles mesmos, eles já
o haviam absolvido antes, fecharam os olhos, o legitimaram, porque, até ali, só
se aplicara contra povos não europeus. Eles cultivaram o nazismo,
responsabilizaram-se pelo nazismo, antes de que o nazismo engolfasse todo o
ocidente, as civilizações cristãs, também, no mesmo mar de sangue. O nazismo
vaza, estala, ferve em cada fresta do ocidente.
É
bem verdade que, para Césaire, as guerras e holocaustos nazistas sempre foram o
colonialismo que se atacava, ele mesmo, por dentro. Mas depois que as vítimas do
nazismo foram convertidas em europeus brancos sem religião e “reabilitadas”, a
Europa e seu cúmplice norte-americano puderam, afinal, dar continuidade à mesma
política dos nazistas, de horror praticado contra não brancos em todo o mundo:
na Coreia, no Vietnã e na Indochina, na Argélia, na Indonésia, na América
Central, na América do Sul, na África do sul e central, na Palestina, no Irã e
no Iraque e no Afeganistão.
A reabilitação dos judeus europeus
depois da 2ª Guerra Mundial foi parte crucialmente importante da propaganda da
Guerra Fria. Com os cientistas sociais e ideólogos norte-americanos ocupados em
desenvolver a teoria do “totalitarismo” – segundo a qual o Comunismo Soviético e
o Nazismo seriam essencialmente o mesmo tipo de regime – os judeus europeus,
vítimas de um regime totalitário, passaram a ser item central do show de atrocidades que, para a
propaganda dos EUA e da Europa Ocidental, seriam “provas” das atrocidades que o
regime soviético estaria cometendo nos períodos pré e pós guerra. Parte da mesma
propaganda foi Israel saltar para o mesmo vagão de propaganda e pôr-se acusar os
soviéticos de antissemitismo, porque estariam impedindo judeus soviéticos de se
autoexpulsar
da própria terra e partir para Israel.
Compromisso
com o suprematismo branco
Assim
se preservou o compromisso de europeus e dos EUA com o suprematismo branco –
exceto que passou a incluir os judeus entre os povos “brancos”- e numa
civilização que passou a ser chamada “judeu-cristã”. As políticas europeias e
norte-americanas depois da 2ª Guerra Mundial, que continuaram inspiradas no
racismo e alimentadoras de racismo contra os povos nativos da América do Norte,
contra africanos, asiáticos, árabes e muçulmanos continuaram a garantir apoio ao
projeto antissemita de “converter” os judeus em brancos, num estado colonial, de
ocupação, bem longe da Europa. E ali prosseguiram as políticas antissemitas que
prevaleciam na Europa e nos EUA antes da 2ª Guerra.
De
diferente, que grande parte do veneno racista antissemita, em Israel, seria
dirigido contra árabes e muçulmanos (os mesmos que são cidadãos e imigrantes na
Europa e nos EUA, e os que vivem na Ásia e na África). E assim pôde prosseguir,
sem qualquer adversário, o apoio dos antissemitas ao sionismo racista.
Na
Hungria, 100 mil judeus assustados com racismo
A
aliança que uniu a Alemanha Ocidental, o sionismo e Israel, depois da 2ª Guerra
Mundial, e que forneceu gigantesca ajuda econômica a Israel nos anos 1950s e
ajuda econômica e militar no início dos anos 1960s – inclusive tanques, que
Israel usou para matar palestinos e outros árabes – é continuação da aliança que
o governo nazista firmara com os sionistas nos anos 1930s.
Ehud Barak |
Nos
anos 1960s, a Alemanha Ocidental deu até treinamento militar aos soldados
israelenses, e desde os anos 1970s também fornece submarinos
“nuclearizáveis” produzidos na Alemanha, com os
quais Israel contava para matar ainda mais árabes e muçulmanos.
Em
anos mais recentes, Israel armou os submarinos mais modernos, que recebe da
Alemanha, com mísseis que transportam ogivas nucleares – o que é do pleno conhecimento
do atual governo alemão.
O ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, disse, em entrevista
à revista Der Spiegel,
que os alemães devem “orgulhar-se” de ter garantido a existência do estado de
Israel “durante muitos anos”. Berlim financiou 1/3 do preço dos submarinos,
cerca de 135 milhões de euros (168 milhões de dólares) por submarino, com
carência até 2015, para que Israel comece a pagar.
Konrad Adenauer |
Isso
faz da Alemanha cúmplice no ataque-assalto contra os palestinos; e a preocupação
que essa cumplicidade geraria aos governos alemães, hoje, não é maior que a que
gerava nos anos 1960s ao chanceler Konrad Adenauer, da Alemanha Ocidental, que
disse que “a República Federal não tem, nem o direito, nem qualquer
responsabilidade de tomar posição no caso dos refugiados palestinos”. Tudo isso
se tem de somar aos bilhões, muitos, que a Alemanha pagou ao governo de Israel
como compensação pelo holocausto de judeus, como se Israel e o sionismo fossem
vítimas do nazismo. Não são. Na verdade, os nazistas assassinaram judeus
antissionistas. O atual governo alemão não dá qualquer importância ao fato de
que mesmo os judeus alemães que conseguiram fugir dos nazistas e acabaram na
Palestina odiavam o sionismo e o projeto sionista; e que os mesmos judeus eram
odiados pelos colonizadores sionistas na Palestina.
Como
refugiados alemães nos anos 1930s e 1940s na Palestina recusaram-se a aprender
língua hebraica e publicavam meia dúzia de jornais em alemão no país, foram
furiosamente atacados pela imprensa em hebraico, inclusive pelo jornal
Haaretz, que pregou o fechamento dos jornais dos alemães em 1939 e, outra
vez, em 1941.
Colonos
sionistas atacaram um café de proprietários alemães em Telavive, porque os
proprietários recusavam-se a falar hebraico; e a prefeitura de Telavive ameaçou,
em junho de 1944, alguns dos moradores judeus alemães, por organizar, na casa
onde viviam, n. 21 da rua Allenby, “festas e bailes inteiramente em alemão,
inclusive os programas, o que se opõe ao espírito de nossa cidade” e que tal
procedimento “não será tolerado em Telavive”.
Judeus
alemães, ou Yekkes, como eram conhecidos na [“comunidade original”]
Yishuv, até organizaram uma celebração, no aniversário do Kaiser, em 1941
(para esses e outros detalhes sobre os judeus alemães refugiados na Palestina,
ver The Seventh Million, livro de Tom Segev).
Acrescente-se
a isso o apoio que a Alemanha deu às políticas israelenses na ONU contra os
palestinos, e tem-se o quadro completo. Até o novo memorial do holocausto de
judeus construído em Berlim, inaugurado em 2005, mantém o mesmo apartheid racial
dos nazistas: esse “Memorial dos Judeus Europeus Assassinados” é dedicado só aos
judeus vítimas dos nazistas que ainda devem ser mantidos separados, como Hitler
ordenou, dos demais milhões de não judeus que também tombaram vítimas do
nazismo. Não surpreende, tampouco, que uma subsidiária da empresa alemã Degussa,
que colaborou com os nazistas e produziu o gás Zyklon B que foi usado para matar
pessoas nas câmaras de gás, tenha sido contratada para construir o Memorial de
2005: apenas confirma que os que assassinaram judeus na Alemanha no final dos
anos 1930s e nos anos 1940s lamentam hoje o que fizeram, porque hoje entendem
que judeus são brancos europeus a serem homenageados, e jamais deveriam ter sido
mortos, para começar, porque eram brancos.
A
política alemã de apoiar Israel na matança de árabes é, sim, profundamente
conectada ao antissemitismo, que prossegue e avança, conduzido pelo racismo
alemão antimuçulmanos, hoje predominante, que ataca imigrantes muçulmanos.
A
tradição euro-norte-americana anti-judeus
O holocausto de judeus matou a
maioria dos judeus que
combateram e
lutaram contra o antissemitismo europeu, e contra um de seus ramos, o sionismo.
Mortos aqueles judeus combatentes, os únicos “semitas” sobreviventes que
continuam a combater contra o sionismo e seu antissemitismo são os palestinos.
Enquanto
Israel ainda insiste que judeus europeus não seriam europeus, não teriam lugar
na Europa e devem embarcar para a Palestina, os palestinos sempre disseram e
insistiram que o lar e a terra dos judeus europeus são seus respectivos países
natais, não a Palestina; e que o colonialismo sionista brota diretamente do
antissemitismo dos sionistas colonialistas.
Enquanto
o sionismo insiste em que os judeus seriam raça separada dos cristãos europeus,
os palestinos insistem que os judeus europeus são europeus e nada têm a ver com
a Palestina, o povo palestino ou a cultura palestina. Israel e seus aliados
norte-americanos e europeus têm tentado ininterruptamente ao longo dos últimos
65 anos convencer os palestinos de que eles também devem tornar-se antissemitas
e acreditar, como os nazistas, Israel e seus aliados antissemitas acreditam, que
os judeus seriam raça diferente de todos os povos europeus, que sua “pátria”
seria a Palestina e – o mais importante – que Israel falaria por todos os
judeus.
A
evidência de que, hoje, os maiores blocos de eleitores norte-americanos
pró-Israel são os protestantes milenaristas e os imperialistas seculares,
demonstra bem claramente a continuidade da mesma tradição euro-norte-americana
de perseguição aos judeus, que se estende, no passado, até a Reforma Protestante
e o imperialismo do século IXX.
Mas
os palestinos jamais se deixaram convencer pelos sionistas e continuam a
resistir firmemente contra o antissemitismo.
Os
judeus europeus foram transformados em instrumentos de agressão: tornaram-se
ferramentas do colonialismo dos colonos israelenses, intimamente associado à
discriminação racista...
Israel
e seus aliados antissemitas afirmam que Israel seria “o povo judeu”; que as
políticas de Israel seriam “judaicas”; que as realizações de Israel seriam
realizações “dos judeus” e que quem se atrever a criticar Israel estará
criticando “os judeus” e, portanto, estará falando como antissemita.
Só
o povo palestino organizou e combate luta incansável contra esse incitamento ao
antissemitismo. Os palestinos continuam a afirmar que:
... o
governo de Israel não fala por todos os judeus, que não representa todos os
judeus e que os crimes coloniais que comete contra o povo palestino são crimes
do governo de Israel, não são crimes “do povo judeu.
Por
isso o governo de Israel tem de ser criticado, acusado, processado e condenado
por crimes de guerra, que comete repetidamente contra o povo palestino.
Não
é alguma nova posição palestina: é a mesma posição que os palestinos abraçaram
desde a virada do século 20, e continuou ao longo da luta palestina antes da 2ª
Guerra Mundial, contra o sionismo. Em discurso que fez na ONU, em 1974, Yasser
Arafat destacou todos esses aspectos, com
veemência:
Yasser Arafat |
Assim
como o colonialismo usou impiedosamente os desgraçados, os pobres, os
explorados, como mera matéria inerte com a qual construir e levar adiante o
colonialismo, assim os judeus europeus, também despossuídos, oprimidos, foram
usados a favor do imperialismo mundial e da liderança sionista. Os judeus
europeus foram transformados em instrumentos de agressão; tornaram-se
ferramentas do colonialismo israelense, intimamente aliado à discriminação
racial (...).
A
teologia sionista foi usada contra nosso povo palestino: o objetivo não foi só o
estabelecimento de um colonialismo de estilo ocidental, mas também o de separar
os judeus de suas várias pátrias naturais e produzir, assim, que se tornassem
estrangeiros nas suas próprias nações. O sionismo está unido ao antissemitismo
nesses objetivos retrógrados e é, quando já tudo se disse e se fez, o verso da
mesma moeda de base.
Porque, quando se propõe que os
judeus de fé, independente de onde tenham nascido e vivido e habitem, devem
abandonar a própria terra nacional, impedidos de viver como iguais com os
próprios parceiros de destino e cidadãos não judeus, quando se ouvem essas
propostas, o que se está ouvindo é o antissemitismo proposto aos próprios
judeus. Quando se propõe que a única solução para o problema judeu seria que os
judeus se alienassem das próprias comunidades originais ou nações, das quais
foram parte histórica, quando se propõe que os judeus resolvam o problema judeu
imigrando de onde nasceram para ocupar, à força, terras que pertencem a outros –
quando isso acontece, o que se vê é que aí está exatamente a mesma posição
pregada, com insistência, com urgência, contra os judeus, pelos
antissemitas.
A
reação de Israel, para quem todos os seus críticos seriam antissemitas,
pressupõe que os críticos devam crer, necessariamente, que Israel representaria
“o povo judeu”. Mas essa alegação, que Israel não se cansa de repetir, de que
representaria e falaria por todos os judeus, é, ela mesma, o argumento mais
antissemita de todos.
Hoje,
Israel e as potências ocidentais obram para elevar o antissemitismo ao plano de
princípio internacional, em todos do qual tentam estabelecer pleno consenso.
Insistem em que, para que haja paz no Oriente Médio, os palestinos, os árabes e
os muçulmanos devem tornar-se, todos, como todo o ocidente branco, também
antissemitas; que devem esposar o sionismo e reconhecer todas as condições
antissemitas que Israel impõe aos judeus de todo o mundo.
Exceto os regimes árabes
ditatoriais e a Autoridade Palestina e sua corte, nesse 65º aniversário da
conquista antissemita da Palestina pelos sionistas, que os palestinos chamam de
Nakba, o povo palestino e alguns poucos
judeus antissionistas ainda resistem e recusam-se a aceitar o incitamento
internacional a favor do antissemitismo.
Lembrando a Nakba |
Dizem
que são, como últimos semitas resistentes, herdeiros das lutas pré-2ª Guerra
Mundial, quando judeus e palestinos combateram lado a lado contra o
antissemitismo e sua manifestação sionista colonial. Hoje, é essa a resistência,
ainda viva, que impede o avanço, até a vitória no Oriente Médio e em todo o
mundo, do antissemitismo europeu.
Notas
dos tradutores
[1]
Sobre isso, há documento impressionante, de 1947, publicado nos EUA: uma
carta do rei Abdullah da Jordânia, que deve ser lida nos termos em que o
autor expõe a questão, naquele momento histórico. Foi traduzido em 2010,
seguindo indicação do Embaixador Arnaldo Carrilho do
Brasil.
[2]
Sobre judeus, em todo o mundo, que foram empurrados à força, pelos sionistas,
para povoar Israel, ver a “Carta aos norte-americanos”, de 1947, do Rei Abdullah
da Jordânia. Ver nota [1]
acima.
_______________________
Ler
também:
- 10/8/2010, redecastorphoto/Blog do Bourdoukan,
Georges Bourdoukan em: “Nunca é demais repetir: O povo judeu é uma
invenção”
- 5/12/2012, redecastorphoto/Information Clearing
House, Philip Weiss em: “É hora da imprensa informar sobre
sionismo”
- 2/1/2013, redecastorphoto/O Diário, Miguel Urbano
Rodrigues em: “Como foi inventado o povo
judeu”
Leia mais alguns artigos sobre
“Sionismo”:
- 27/3/2013, redecastorphoto,
Lawrence Davidson: “Algo de podre no Estado de Israel”
- 20/2/2013, redecastorphoto,
Paul R. Pillar em: “Cresce a intolerância em Israel”
- 19/11/2012, redecastorphoto, Lawrence Davidson em:
“Uma visão sionista do mundo e o massacre em
Gaza”
- 25/4/2011, redecastorphoto, Renen Belerovich
(documentário) em: “A Historia Sionista”
- 7/12/2012, redecastorphoto, Philip Weiss em: “É hora de a imprensa informar sobre o
sionismo”
- 3/6/2010, redecastorphoto, Laerte Braga em: “O Sionismo é um cancro”
- 3/6/2010, redecastorphoto, Passa Palavra, João Bernardo em: : “De perseguidos a perseguidores: a lição do
sionismo”
- 1/1/2013, redecastorphoto, Paul R. Pillar em:
EUA:
Hagel e os sionistas "McCatthyistas"
- 7/4/2012, redecastorphoto, Baby Abrão/Günter Grass
em: “O poema que desmascarou
Israel”
- 14/7/2011, redecastorphoto, Laerte Braga em: “OS FORNOS CREMATÓRIOS DE TEL
AVIV”
- 11/6/2010, redecastorphoto, Manuel Freytas em: “O poder oculto: De onde nasce a impunidade de
Israel”
- 26/7/2011, redecastorphoto, Vila Vudu em: “Israel é a “estrela” do livro do terrorista
norueguês!”
No bloco sobre o Marr tem um pequeno erro, IXX ao invés de XIX.
ResponderExcluirJá corrigido.
ExcluirGratíssimo
Castor
ResponderExcluirATENÇÃO!
Aviso do pessoal da Vila Vudu: Avisamos que a Al-Jazeera RETIROU hoje (19/5/2013) da sua página o artigo (em inglês) The Last the Semites de Joseph Massad publicado em 14/5/2013 e com esta tradução da Vila Vudu.
A notícia veio do jornalista Glenn Greenwald, que seguimos no Twitter, agora a pouco (veja abaixo);
1. Glenn Greenwald @ggreenwald8 h
If you only want to publish things that don't upset anyone, please don't go into journalism http://electronicintifada.net/blogs/ali-abunimah/al-jazeera-management-orders-joseph-massad-article-pulled-act-pro-israel …
2. Glenn Greenwald @ggreenwald8 h
If Al Jazeera is going to delete an Op-Ed it itself published, shouldn't there be some explanation? Did someone err in publishing it?
3. 8 h
If you want to read the Joseph Massad Op-Ed published then deleted by Al Jazeera, it's still here http://m.aljazeera.com/story/201351275829430527 …
4.
Al Jazeera publishes an article by Columbia Professor Joseph Massad, then deletes it when usual suspects complain http://electronicintifada.net/blogs/ali-abunimah/al-jazeera-management-orders-joseph-massad-article-pulled-act-pro-israel …
Comentário da redecastorphoto: Se por acaso o artigo for republicado em inglês, corrigiremos o “link” da postagem no blog redecastorphoto tão logo seja possível.
Comentário enviado por e-mail e postado por Castor
ResponderExcluirPrezados,
A Al-Jazira é uma empresa controlada e financiada pelo Emir do Catar, um dos trabalha ativamente também na agressão à Síria e colaborou também no genocídio contra a Líbia, inclusive com mercenários.
Usei a transliteração para o português; com dois ês (Al Jazeera) é para o inglês (faz até sentido, pois esta é a língua do império).
Abraços,
AdrianoB
Este comentário (sem tradução) da editoria da al-Jazeera foi enviado pelo pessoal da Vila Vudu e postado por Castor
ResponderExcluirNote from the Editor: Recently there has been much give and take about a column published on our website, and the decision to remove that column. During the past few days, people have speculated that Al Jazeera succumbed to various pressures, and censored its own pages.
Al Jazeera has always demanded transparency from the centres of power around the world, and we demand it from ourselves as well.
After publication, many questions arose about the article's content. In addition, the article was deemed to be similar in argument to Massad's previous column, "Zionism, anti-Semitism and colonialism", published on these pages in December.
We should have handled this better, and we have learned lessons that will enable us to maintain the highest standards of journalistic integrity.
Our guiding principle has always been "the opinion and other opinion". Our pages have always been - and will always be - open to the most thought-provoking thinkers and writers from across the globe.
Al Jazeera does not submit to pressure regardless of circumstance, and our history is full of examples where we were faced with extremely tough choices but never gave in. This is the secret to our success.
As always, we welcome your thoughts and comments.
Imad Musa, Head of Online
O "link" da al-Jazeera VOLTOU com as desculpas acima (em inglês)Castor
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