terça-feira, 29 de outubro de 2013

O coronel da PM e o Black Bloc do PT

Texto de Raul Longo [*]
Ilustrações: redecastorphoto (colhidas na internet)

Os Black Blocs e a PM na manifestação em São Paulo
É como dizem: “ainda morro sem ver tudo”.

Aqui, no caso, seria ouvir. Não sei se por ser “da Magia”, nesta Ilha de Florianópolis por vezes tenho a impressão de ouvir vozes do além ou, para usar uma terminologia mais antropológica, de um universo paralelo, daqueles onde tudo ocorre ao inverso.

Foi a sensação que experimentei certa vez ao ouvir uma política do PT local ameaçar de pedir a cabeça de alguém por não ter atendido a uma convocação. E o mais interessante é que nem a política nem o ameaçado de acefalia compulsória pertencem a alguma organização de rígidas formações hierárquicas, dessas em que o soldado raso tem de atender o chamado e ouvir de cabeça baixa o que o superior tiver a falar, respondendo somente ao que lhe for inquirido.

Bem... Passou, faz tempo, esqueci. Mas ainda há pouco tempo escuto outras vozes bastante estranhas, insolitamente também vindas de alguém que se apresenta como do PT. E essa era tétrica: “Escreve o que tô dizendo: até a eleição de 2014 vai correr sangue nas ruas do país”.

Black Blocs vandalizam entrada de agência bancária no Rio de Janeiro
Como anteriormente essa mesma voz já assoprara a mesma ordem de escrever como inconteste o fato de que Dilma estaria apenas preenchendo buraco para Lula se candidatar à presidência neste 2014, não levei a sério a sanguinolenta advertência. No entanto, conforme se lê no excelente comentário do Sérgio Saraiva publicado no link do Nassif (disponibilizado no link adiante) a previsão já se cumpre e o sangue anunciado escorreu pela cabeça de um coronel da PM.

Mas aquilo de Lula usar o mandato da Dilma como “tapa buraco”, tal qual se imaginava ser o propósito do Fernando Henrique com a indicação do José Serra para o período 2002 – 2006 me pareceu exagero. No caso que não deu certo, o da indicação do Serra, houve alguém que afirmou ter ouvido a declaração do intento pela boca do próprio FHC, mas tenho minhas dúvidas sobre os poderes de premonição dessa voz que me sussurra acusações de traições de Lula a personagens com os quais me correspondo na vida real e, todos, por ele demonstram a mesma admiração que nutro pelo ex-presidente.


Ainda ontem mesmo, de alguns desses recebi entusiásticas mensagens em homenagem ao aniversário de 68 anos de idade do Luís Ignácio Lula da Silva.

Mas, conforme me ensinaram alguns xamãs nos tempos em que andei lá pelas aldeias indígenas do Mato Grosso, nisso de universo paralelo pode acontecer de ser assim mesmo: tudo exatamente ao inverso do mundo real. O que é bom fica ruim, o certo está errado, o amigo vira inimigo. Claro exemplo é o dessa “voz sombra” - como dizia Macunaíma daquelas que se transmitem pela “máquina telefone” - que a despeito de se afirmar como palavra de político da linha trabalhista, costumeiramente se manifesta em exigências que reportam inflexíveis intolerâncias ditatoriais.

Negociações e alianças políticas nem pensar! Angela Merkel sofreria sérias retaliações se os discursos dessa voz soassem lá praquelas bandas, pois é radical e diz que se governa pela marra e apoios têm de ser conquistados no berro. O que não pode é conceder cargo nem se sujeitar a decisões parlamentares. Concedeu um trisco não é mais PT de verdade. Nem esquerda.

Mas comecei a desconfiar do petismo ou do esquerdismo reivindicado pela voz quando num deslize comentei algo sobre a influência da mídia nas manifestações de junho. De forma alguma! O Brasil do universo paralelo está numa situação nunca antes sequer imaginada de tão ruim e os que foram às ruas pedir o impeachment da Presidenta, foram motivados por justa causa, pois tudo está mesmo insuportável.

Tentei analisar, comparar incongruências com resultados de pesquisas que pouco antes de junho indicavam a Presidenta como recordista de popularidade, mas não teve jeito. Não pôde admitir nenhuma procedência em minha conclusão da participação da mídia na eclosão do espontâneo movimento contra o qual – garantiu - foi a primeira a se levantar.

Insisti comparando outros piores momentos da história política do país sem qualquer reação popular, mas só fiz irritar a voz que rouquejou lembranças de envolvimentos próprios igualados em desproporcionais dimensões ahayauasqueiras.

Mas o que sombreou mesmo a voz foram minhas brincadeiras ao remeter, via internet, algumas das conclusões de observadores nacionais e internacionais, acompanhadas de cópias de colunas de jornais e capas de revistas que na primeira hora enalteceram o movimento de junho, para só lamentá-lo no mês seguinte. Mandou que eu respeitasse os fios brancos de meus cabelos e não consegui entender a simbologia na miração provocada pelos meus cabelos efetivamente brancos. (miração - alucinação visual provocada por ingestão de ayahuasca, no jargão dos adeptos da seita do Santo Daime).

Em ocasião seguinte, ainda insatisfeita, a voz se manifestou novamente iniciando por um discurso de aversão ao samba dominical promovido por um meu amigo. Aquilo me aborreceu, mas na sequência não me importei com a reclamação pela cor que usei na pintura de minha casa ou contra o meu gosto pelos versos do Fernando Pessoa.

Já antes alguns conhecidos e um amigo por quem tenho muito carinho pela gentileza e elegância, reconhecido em diversos centros do Brasil pela coerência política no que faz, haviam me alertado sobre as arrogâncias e prepotências daquela voz. Como pouco a conhecia, nem tive o que dizer aos comentários, inclusive porque em 1964 eu tinha 12 anos de idade e dali até o final da ditadura acostumei-me de tal forma a esse tipo de comportamento que nem mais me incomodo. Apenas mudo de canal, desligo a TV, viro a página ou jogo no lixo e vou procurar algo de melhor a fazer na vida.

Portanto, já de sobreaviso, deixei-me divertir um pouco com os rompantes da voz desconexa e muito mal informada que repentinamente e sem ser solicitada, por algum propósito ou sem nenhum, passou a discorrer preconceitos contra o ex-presidente Lula. Não sei se houve intenção de me provocar em minhas admirações por Lula, mas, se isso, não obteve efeito porque elencou considerações sobejamente conhecidas através de vozes do mundo real. E foi como rever Collor de Melo, Arthur Virgílio, ACM Neto e até o Larry Rohter, aquele ex-correspondente do New York Times que acusou Lula de bêbado por ter inaugurado a festa do chope de Blumenau brindando com uma caneca de chope.

Pois naquela conversa aprendi que bêbado, vagabundo e mau pai também são os preconceitos dedicados ao Lula no universo paralelo do petismo radical. Lembrei-me da amizade e admiração do enteado Marcos Lula, mas quando derivou para o José Dirceu preferi estimular a voz para ver a que ponto atingia a borracheira e ressuscitei o Waldomiro Diniz. (borracheira – alucinação desagradável no estado alterado de consciência por ingestão de ayahuasca).

Ambulâncias superfaturadas na gestão Serra (FHC) no Ministério da Saúde (Sanguessugas)
Note que a cabine de atendimento do veículo comporta o doente apenas SENTADO...
Continuei explorando as variações e potencialidades do delírio e resgatei o caso dos Aloprados, mas aí a peia pegou braba e a voz partiu pro macabro, atribuindo o recente falecimento do Gushiken ao comentário do Lula sobre o grupo que as vésperas da eleição de 2006 caiu na armadilha armada pela Globo com a isca do dossiê dos Vedoin (peia – forte sensação de mal estar provocada pela ingestão do ayahuasca).

Tentei dar alguma coerência para a conversa desconexa procurando denotar a ausência de relação entre os Aloprados e o dirigente da campanha de Lula, mas teimou do alto das já alertadas prepotências e, cansado de tanto delírio para uma única noite, me despedi prometendo novamente passar a real pela internet.

Dessa vez maneirei na brincadeira para não ferir os brios da torcida, mas de toda forma se exacerbou nas patentes que, mesmo não as tendo, em algo me faz compreender os Black Blocs que neste comentário do Saraiva me provocam cogitações sobre a possibilidade das intolerâncias e incivilidades da ditadura militar ou da formação patriarcal de nossa elite agrária, provavelmente oriundas dos séculos de escravismos, serem herdadas não apenas exclusivamente por fardas e galões, mas inclusive por todos os demais segmentos e estratos sociais.

Coronel da PM surrado por Black Blocs

Não se tramará nas malhas das máscaras negras do vandalismo o mesmo rancor das aspirações individuais contrariadas? Seja onde for, nos Black Blocs das ruas ou nas gravatas das telas de TV, no tailleur da analista econômica ou no linho do chapéu do editor de revista ou articulista de jornal, não haverá algo do mundo real de ser derrubado, destruído, servindo de passagem, espécie de portal para o destruidor conseguir encontrar o que tenha perdido de si próprio?

Não se imiscuirá à intolerância alguma insuficiência, desinformação, falta de real interesse ou comodismo? Não será mais imediato e menos operoso promover a aniquilação, destruição, quebra, rompimento?

Fazer calar é mais fácil do que ouvir. Impor é mais fácil do que explicar. Achar é mais fácil do que procurar.  

Destruir é mais fácil do que construir, embora na surdez, na incompreensão, na ausência de curiosidade e na incapacidade de realização se gere a insatisfação que se tenta compensar pela prepotência. A prepotência do verdadeiro coronelismo.

A farda é abstrata. Um general nu não é nada. Por mais general que seja terá de berrar, exigir, manter a pose e a palavra.

Mas o que se equipara ao poder de quebrar, destruir, romper? Só esse poder compensa a frustração por aquilo que não se compreende e se tem preguiça de tentar entender. Provavelmente não seja uma solução, mas a frustração não procura por solução e, sim, por compensação.

Compensará o quebrar, destruir, romper com o que houver de concreto ou abstrato: a cabeça do coronel, o ponto do ônibus, a porta do banco, o telefone público ou qualquer vínculo com a civilidade?

Black Blocs atacam coronel da PM Reynaldo Rossi em SP
O coronel da PM a quem racharam a cabeça certamente não terá resposta para esta questão que talvez apenas um velho coronel -- daqueles de terras, gado e gente -- pudesse responder se conseguisse ser sincero consigo mesmo, mas compensando ou não, uma coisa é certa: o estigma da prepotência e da arrogância do coronelismo ainda é uma herança entre todas as classes sociais no Brasil.

Até no PT, onde também há quem busque se compensar tentado quebrar a reputação do Lula. Tem alguma lógica, afinal o mais sólido sempre será o maior desafio do Black Bloc que, conforme demonstra o Sérgio Saraiva, [1] não são mudos. Muito pelo contrário, fazem questão de que quem seja pego como vítima os escute até o fim. E falam muito, embora sem nada de novo a dizer.

Eu hein!... Mudo de canal!
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Nota do autor:
[1] Não, esse é o problema. Os blacks blocs podem ser cegos e surdos, mas não são mudos e nem aleijados. E não é o seu silêncio, mas os gritos de suas vítimas, que estão contrapondo a sociedade brasileira. Por Sergio Saraiva

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[*] Raul Longo - Nascido em 1951 na cidade de São Paulo, atuou como redator publicitário e jornalista nas seguintes capitais brasileiras: São Paulo, Salvador, Recife, Campo Grande e Rio de Janeiro, também realizando eventos culturais e sociais como a “Mostra de Arte Sulmatogrossense”, (Circulo Cultural Miguel de Cervantes/SP), “Mostra de Arte Latinoamericana” (Centro Cultural Vergueiro/SP) e o Seminário Indigenista (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul/CG). Premiado em concursos literários nacionais promovidos pelo Unibanco, Rede Globo e Editora Abril; pelo Circulo Cultural Miguel de Cervantes; e pelo governo do Estado do Paraná. Publicou Filhos de Olorum – Contos e cantos de candomblé pela Cooeditora de Curitiba, e poemas escritos durante estada no Chile: A cabeça de Pinochet, pela Editora Metrópolis de São Paulo. Obteve montagem de duas obras teatrais: Samba/Jazz of Gafifa, no teatro Glauce Rocha da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, em Campo Grande; e Graças & glórias nacionais, no Centro Cultural Vergueiro, em São Paulo.Atualmente reside em Florianópolis, Santa Catarina.

Um comentário:

  1. ... nao precisa publicar meu comentario pq vcs nao publicam mesmomas vou falar aqui o que ja falei por ai e o seguinte o coronel Rossi que eu entrevistei antes do quebra dia 25 em SP me disse que nao tem condições e nao tem treinamento para black block porque as taticas sao diferentes eu que ja participei de varias manifestações com movimentos organizados tambem sei disso ponto.

    ate ai td bem.... entramos no terminal do pq dom pedro e foi uma supresa a policia deixou e quem eu vejo no meio do qubra o coronel dando um amata leao eum uma MULHER, UMA MININA< UMA ADFOLESCETE... pegando a menina pelo cabelo nem vou falar muito aqui e tomou pau da mo-le-ca-da... sacou? vem pra rua sentir o drma aqui nao e redação nao e mundo real longo... abraços na turma em floripa?

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