11/10/2013, Moon of Alabama
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
"Rebelde" caminha entre ruínas em Aleppo (6/10/2013) |
Há
dez dias, o Guardian foi o primeiro veículo “ocidental” a noticiar
um
massacre perpetrado por terroristas apoiados pelos EUA, em agosto, no
governorado de Latakia, na Síria. A empresa-imprensa nos EUA não repercutiu a
notícia.
Mas agora a organização Human Rights Watch, influente ONG
norte-americana, que fez extensa propaganda contra o governo sírio, está
publicando um relatório intitulado “Executions, Unlawful Killings, and
Hostage Taking by Opposition Forces in Latakia Countryside”
[Execuções, Mortes Ilegais e Captura de Reféns, por Forças de Oposição, no
Interior de Latakia].
O
fato de que esse relatório seja agora publicado pela HRW deve ser interpretado
como sinal de que as políticas dos EUA para a Síria estão mudando de lado e
agora, lentamente, lentamente, se viram contra os “rebeldes” e vão-se
posicionando a favor do governo sírio. Embora nada disso vá mudar as falas dos
EUA de que “Assad tem de sair”, é mudança significativa na direção da qual
sopram os ventos.
Essa
mudança é confirmada também por outras
fontes:
Estou
começando a pensar que os linha-dura do regime podem sair
vencedores,
disse o embaixador [europeu, em Beirute], que mantém contato estreito com fontes
dentro do regime de Assad e nas forças de oposição. Estão convertendo toda a oposição em
Al-Qaeda, e todos estamos jogando o mesmo jogo. Ouvi isso de meus colegas. A luta principal
agora é contra a Al-Qaeda, não é contra o
regime.
Nós
aqui sempre dissemos, desde o início, que os “rebeldes” nunca fizeram qualquer
“protesto pacífico”, mas que, sim, sempre foram um bem organizado ataque por
islamistas radicais sectários, contra o estado sírio.
Especialistas da ONU examinam possíveis armas químicas na Síria |
Agora,
com a verdadeira face dos “rebeldes” já visível também para o público
“ocidental”, e quando só 36% culpam Assad pelo ataque químico de
21/8, alguém terá de levar a culpa pela mudança de direção.
O
relatório da ONG Human Rights Watch apresenta a Turquia como
“culpada”:
Dado
que muitos combatentes estrangeiros nesses grupos sabidamente entraram na Síria
pela Turquia, de onde também contrabandeiam suas armas, recebem dinheiro e
outros suprimentos, e para onde se retiram para atendimento médico, cabe à
Turquia reforçar o patrulhamento das fronteiras, restringir a entrada de
combatentes e o fluxo de armas para grupos que se acredita, segundo grupos com
boa credibilidade, que estejam implicados em violações sistemáticas de direitos
humanos. [...]
O
Conselho de Segurança da ONU e aliados da Turquia devem conclamar a Turquia para
que se empenhe mais no sentido de garantir que não continuem a chegar mais
armas, através da Turquia, para aqueles grupos.
Em
matéria publicada ontem
(10/10/2013), o Wall Street Journal também
já se pôs a atacar a cabeça da inteligência turca, o MIT, culpando os turcos por
terem viabilizado os ataques dos “rebeldes” radicais:
Líderes
da oposição síria, funcionários dos EUA e diplomatas no Oriente Médio que
trabalham com Mr. Fidan dizem que o MIT agiu como “policial traficante” [orig.
“traffic cop”]
que comandou entregas de armas e deixa passar comboios pelos postos de controle
da Turquia, ao longo das 565 milhas de fronteira entre Turquia e
Síria.
...
Em
reuniões com funcionários dos EUA e líderes da oposição síria, funcionários do
governo turco alegam que a ameaça representada pela Frente al-Nusra, grupo
anti-Assad, poderá ser enfrentada mais adiante, como informam funcionários do
governo dos EUA e líderes da oposição síria.
...
O
presidente Obama disse a líderes turcos que desejava uma relação próxima, mas
manifestou preocupação quanto à abordagem turca, de armar a oposição. O objetivo
é convencer os turcos de que “nem todos os rebeldes são bons combatentes” e que
a ameaça islamista pode causar danos a toda a região, diz um alto funcionário
dos EUA.
Enquanto isso, o exército sírio
continua a conseguir novos avanços contra os “rebeldes”. O corredor logístico até
Aleppo foi reaberto, mais áreas em torno de Damasco foram
libertadas, e foi quebrado o sítio que os “rebeldes” mantinham em
torno de uma instalação
química.
Agora,
a Turquia passará a ser pressionada para que pare de abastecer os “rebeldes” na
Síria. Sem o fluxo estável e muito significativo de munição e de novos
combatentes que vinha da Turquia, os “rebeldes” serão minados aos poucos. Isso,
enquanto a missão internacional para destruir as armas químicas sírias prossegue
conforme os planos, sem qualquer problema e com pleno apoio do governo sírio.
A OPCW conquistou o Prêmio Nobel 2013 |
A impecável cooperação do governo
sírio, com a Organização para Prevenção de Armas
Química, que acaba de receber o Prêmio Nobel da Paz,reforça a posição de seriedade do
governo sírio.
A
maré virou, e a legitimidade internacional do governo sírio e do presidente
Assad – tão empenhadamente difamados antes – agora só aumenta.
Bashar al-Assad |
Mas
Assad tem muita razão ao
manter-se cauteloso, sem confiar em nenhum compromisso que os EUA
assumam:
Os
que suponham que, com nossa atitude de ceder nossas armas químicas e assinar a
Convenção das Armas Químicas, nós tenhamos conseguido proteger a Síria contra
novas guerras, são ingênuos.
Os
EUA – com sua história de décadas de agressão e destruição, particularmente
depois da 2ª Guerra Mundial – nunca precisaram de pretexto. Os EUA podem criar
novos pretextos todos os dias e, se perdem um pretexto, imediatamente se põem a
procurar pretextos em outras áreas diferentes.
A
destruição das armas químicas sírias dificilmente alterará a rota de “mudança de
regime” do governo dos EUA. Os propagandistas do complexo industrial-militar já
estão pressionando a favor de mais
guerra. Mas o lento reconhecimento de que a única alternativa
realista ao “regime” é um estado corrompido e associado à Al-Qaeda, como se viu
acontecer na Líbia, parece, agora, ter gerado impulso suficiente para alterar a
rota de Washington.
Tudo isso pode também ser sinal de
uma muito mais ampla metamorfose dos interesses dos
EUA,impulsionada por uma mudança na
opinião pública e na opinião do “sistema” nos EUA, sobre um império global
comandado pelos EUA e os custos para implantá-lo e
sustentá-lo.
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