domingo, 13 de outubro de 2013

Síria: Turquia acusada do fracasso da “mudança de regime”

11/10/2013, Moon of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
"Rebelde" caminha entre ruínas em Aleppo (6/10/2013)
Há dez dias, o Guardian foi o primeiro veículo “ocidental” a noticiar um massacre perpetrado por terroristas apoiados pelos EUA, em agosto, no governorado de Latakia, na Síria. A empresa-imprensa nos EUA não repercutiu a notícia.
Mas agora a organização Human Rights Watch, influente ONG norte-americana, que fez extensa propaganda contra o governo sírio, está publicando um relatório intitulado Executions, Unlawful Killings, and Hostage Taking by Opposition Forces in Latakia Countryside [Execuções, Mortes Ilegais e Captura de Reféns, por Forças de Oposição, no Interior de Latakia].
O fato de que esse relatório seja agora publicado pela HRW deve ser interpretado como sinal de que as políticas dos EUA para a Síria estão mudando de lado e agora, lentamente, lentamente, se viram contra os “rebeldes” e vão-se posicionando a favor do governo sírio. Embora nada disso vá mudar as falas dos EUA de que “Assad tem de sair”, é mudança significativa na direção da qual sopram os ventos.
Essa mudança é confirmada também por outras fontes:
Estou começando a pensar que os linha-dura do regime podem sair vencedores, disse o embaixador [europeu, em Beirute], que mantém contato estreito com fontes dentro do regime de Assad e nas forças de oposição. Estão convertendo toda a oposição em Al-Qaeda, e todos estamos jogando o mesmo jogo. Ouvi isso de meus colegas. A luta principal agora é contra a Al-Qaeda, não é contra o regime.
Nós aqui sempre dissemos, desde o início, que os “rebeldes” nunca fizeram qualquer “protesto pacífico”, mas que, sim, sempre foram um bem organizado ataque por islamistas radicais sectários, contra o estado sírio.
Especialistas da ONU examinam possíveis armas químicas na Síria
Agora, com a verdadeira face dos “rebeldes” já visível também para o público “ocidental”, e quando só 36% culpam Assad pelo ataque químico de 21/8, alguém terá de levar a culpa pela mudança de direção.
O relatório da ONG Human Rights Watch apresenta a Turquia como “culpada”:
Dado que muitos combatentes estrangeiros nesses grupos sabidamente entraram na Síria pela Turquia, de onde também contrabandeiam suas armas, recebem dinheiro e outros suprimentos, e para onde se retiram para atendimento médico, cabe à Turquia reforçar o patrulhamento das fronteiras, restringir a entrada de combatentes e o fluxo de armas para grupos que se acredita, segundo grupos com boa credibilidade, que estejam implicados em violações sistemáticas de direitos humanos. [...]
O Conselho de Segurança da ONU e aliados da Turquia devem conclamar a Turquia para que se empenhe mais no sentido de garantir que não continuem a chegar mais armas, através da Turquia, para aqueles grupos.
Em matéria publicada ontem (10/10/2013), o Wall Street Journal também já se pôs a atacar a cabeça da inteligência turca, o MIT, culpando os turcos por terem viabilizado os ataques dos “rebeldes” radicais:
Líderes da oposição síria, funcionários dos EUA e diplomatas no Oriente Médio que trabalham com Mr. Fidan dizem que o MIT agiu como “policial traficante” [orig. “traffic cop”] que comandou entregas de armas e deixa passar comboios pelos postos de controle da Turquia, ao longo das 565 milhas de fronteira entre Turquia e Síria.
...
Em reuniões com funcionários dos EUA e líderes da oposição síria, funcionários do governo turco alegam que a ameaça representada pela Frente al-Nusra, grupo anti-Assad, poderá ser enfrentada mais adiante, como informam funcionários do governo dos EUA e líderes da oposição síria.
...
O presidente Obama disse a líderes turcos que desejava uma relação próxima, mas manifestou preocupação quanto à abordagem turca, de armar a oposição. O objetivo é convencer os turcos de que “nem todos os rebeldes são bons combatentes” e que a ameaça islamista pode causar danos a toda a região, diz um alto funcionário dos EUA.
Enquanto isso, o exército sírio continua a conseguir novos avanços contra os “rebeldes”. O corredor logístico até Aleppo foi reaberto, mais áreas em torno de Damasco foram libertadas, e foi quebrado o sítio que os “rebeldes” mantinham em torno de uma instalação química.
Agora, a Turquia passará a ser pressionada para que pare de abastecer os “rebeldes” na Síria. Sem o fluxo estável e muito significativo de munição e de novos combatentes que vinha da Turquia, os “rebeldes” serão minados aos poucos. Isso, enquanto a missão internacional para destruir as armas químicas sírias prossegue conforme os planos, sem qualquer problema e com pleno apoio do governo sírio.
A OPCW conquistou o Prêmio Nobel 2013

A impecável cooperação do governo sírio, com a Organização para Prevenção de Armas Química, que acaba de receber o Prêmio Nobel da Paz,reforça a posição de seriedade do governo sírio.
A maré virou, e a legitimidade internacional do governo sírio e do presidente Assad – tão empenhadamente difamados antes – agora só aumenta.
Bashar al-Assad
Mas Assad tem muita razão ao manter-se cauteloso, sem confiar em nenhum compromisso que os EUA assumam:
Os que suponham que, com nossa atitude de ceder nossas armas químicas e assinar a Convenção das Armas Químicas, nós tenhamos conseguido proteger a Síria contra novas guerras, são ingênuos.
Os EUA – com sua história de décadas de agressão e destruição, particularmente depois da 2ª Guerra Mundial – nunca precisaram de pretexto. Os EUA podem criar novos pretextos todos os dias e, se perdem um pretexto, imediatamente se põem a procurar pretextos em outras áreas diferentes.
A destruição das armas químicas sírias dificilmente alterará a rota de “mudança de regime” do governo dos EUA. Os propagandistas do complexo industrial-militar já estão pressionando a favor de mais guerra. Mas o lento reconhecimento de que a única alternativa realista ao “regime” é um estado corrompido e associado à Al-Qaeda, como se viu acontecer na Líbia, parece, agora, ter gerado impulso suficiente para alterar a rota de Washington.
Tudo isso pode também ser sinal de uma muito mais ampla metamorfose dos interesses dos EUA,impulsionada por uma mudança na opinião pública e na opinião do “sistema” nos EUA, sobre um império global comandado pelos EUA e os custos para implantá-lo e sustentá-lo.



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