sexta-feira, 11 de outubro de 2013

EUA-2013: ainda o conceito de “responsabilidade de proteger”

1/10/2013, [*] Manlio Dinucci, Il Manifesto, It. – L'ARTE DELLA GUERRA
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Barack Obama
por Donkey Hotey
Durante o primeiro mandato, o presidente Obama afastou-se formalmente da política exterior e militar de seu antecessor, George W. Bush, dando a impressão de que os EUA já não desejariam continuar sendo “os policiais do mundo”, e que alterariam o desempenho que tinham então no Afeganistão e em outros pontos, para concentrar-se em seus problemas internos. Nasceu assim a doutrina que seria chamada “doutrina Obama”.
Mas a guerra jamais saiu da agenda do governo Obama: foi o que se viu na guerra contra a Líbia, conduzida em 2011 pela OTAN sob o comando dos EUA, com massivo ataque aéreo e com força sustentada infiltrada do exterior.
No início do segundo mandato, o presidente anunciou que “os EUA estão virando a página”. Mas a página seguinte também era página de guerra.
A nova estratégia previa o uso de forças armadas mais flexíveis e prontas a agir rapidamente, dotadas de sistemas de armas sempre da mais alta tecnologia. Previa emprego sempre maior dos serviços secretos e das forças especiais. No novo modo de fazer guerras, o ataque aberto é preparado e acompanhado por ação clandestina, orientada para minar por dentro o país atacado. Como foi feito na Líbia, e faz-se hoje na Síria, armando e treinando “rebeldes”, na maioria não sírios, muitos dos quais alistados em grupos islamistas oficialmente considerados grupos terroristas.
Simultaneamente, o presidente Obama enuncia a nova “estratégia de contraterrorismo”: da “guerra ilimitada ao terror”, passava-se a uma série de “ações letais focadas” com o objetivo de “desmantelar redes específicas de extremistas violentos que ameaçam os EUA”. Essas ações empregavam cada vez mais drones armados, cujo emprego é considerado “legal”, porque os EUA estariam numa “guerra justa, de autodefesa”.
O Democrata Obama, se autoapresentando como “pomba” (laureado com o Prêmio Nobel da Paz), apenas dá continuidade à estratégia do ‘falcão’ Republicano, apoiador declarado da intervenção armada.
Samantha Power
Como justificar tal metamorfose? É quando entra em cena Samantha Power, então docente em Harvard [1], ganhadora de um Prêmio Pulitzer [2003] com um livro no qual expõe sua teoria da “responsabilidade de proteger” que caberia aos EUA em “tempos de genocídio”. [2] La Power é nomeada para o Conselho de Segurança Nacional (órgão do qual fazem parte os principais comandantes das Forças Armadas e dos serviços secretos, com a competência de dar aconselhamento ao presidente sobre sua política externa e militar). Obama em seguida a põe na presidência de um novo “Comitê para a Prevenção de Atrocidades” e, por fim, lhe dá o posto de embaixadora dos EUA nas Nações Unidas. E La Power será a principal artífice da campanha que preparou a guerra contra a Líbia, apresentando-a como necessária para pôr fim a violações de direitos humanos. E é sempre ela que, sob os mesmos motivos, trabalha a favor de que os EUA ataquem a Síria.
Sem dúvida há a mão de Samantha Power também no recente discurso do presidente Obama à ONU. Sobretudo quando diz que, ante os conflitos no Oriente Médio e no Norte da África, “o perigo para o mundo não advém de EUA impacientes demais para imiscuir-se em assuntos de outros países”, mas, sim, “de os EUA não se empenharem suficientemente, criando um vácuo de liderança que nenhum outro país está pronto para preencher.” E assim, os EUA reivindicam o direito de intervir militarmente onde bem entendam. Não por autointeresse, mas porque lhes cabe a sacrossanta “responsabilidade de proteger”. [3]
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Notas dos tradutores
[1] Samantha Power é jornalista, foi correspondente de guerra nos Bálcãs, antes de fundar o Centro Carr de Políticas de Direitos Humanos em Harvard, onde passou a lecionar.
[2] O livro é A Problem from Hell: America in the Age of Genocide [Um problema do inferno: EUA na Era do Genocídio], de 2002. Sobre ele, ver também 8/10/2013, redecastorphoto em: “Abusos da Realidade: o excepcionalismo dos EUA e a doutrina Obama”, Noam Chomsky, Information Clearing House, em port..
[3] Ao conceito da “responsabilidade de proteger”, a presidenta Dilma Rousseff do Brasil opôs o conceito de “responsabilidade ao proteger”: “O Brasil sempre lutará para que prevaleçam as decisões emanadas da ONU. Mas queremos ações legítimas, fundadas na legalidade internacional. Com esse espírito, senhor presidente, defendi a necessidade da “responsabilidade ao proteger”, como complemento necessário da “responsabilidade de proteger” (21/9/2011, Discurso da presidenta Dilma Rousseff”, 66ª. Assembleia Geral da ONU.

[*] Manlio Dinucci é geógrafo e geopolíticólogo italiano. Últimas publicações : Geocommunity Ed. Zanichelli 2013 ; Geografia del ventunesimo secolo, Zanichelli 2010; Escalation. Anatomia della guerra infinita, Ed. DeriveApprodi 2005.

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