9/10/2013, [*] Jim Lobe, Information Clearing House
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Netanyahu e a imaginária bomba iraniana |
WASHINGTON
– A semana passada começou com furiosa denúncia, pelo primeiro-ministro Benjamin
Netanyahu de Israel, do que seria “a hipocrisia” iraniana; e terminou com
probabilidade ainda menor de que Israel venha a atacar as capacidades nucleares
do Irã. “Os israelenses estão hoje na pior posição, em muitos anos” – concluiu
Elliott Abrams, prestigiado neoconservador que foi o principal conselheiro de
George W Bush para o Oriente Médio, em artigo da revista Foreign Affairs.
Embora
Israel sempre possa atacar, por iniciativa sua, as instalações nucleares do Irã,
(...)
sua capacidade para fazê-lo já foi
consideravelmente reduzida pelo “reaquecimento” diplomático entre o Irã e os
EUA – escreveu Abrams. – Uma coisa é bombardear o Irã quando o país
se mostra irrecuperavelmente recalcitrante e isolado; outra coisa bem diferente
é bombardeá-lo quando boa parte do mundo, especialmente os EUA, mostra-se
otimista sobre as possibilidades das conversações.
A
avaliação de Abrams é partilhada por seus parceiros ideológicos que entendem que
Israel será a principal perdedora, se as esperanças de uma détente entre
Washington e Teerã ganharem força depois da reunião da próxima semana em Genebra
entre o Irã e o P5+1 (EUA, Grã-Bretanha, França, Rússia e China, mais a
Alemanha).
Michael Makovsky |
A
revista neoconservadora Weekly Standard descreveu como “solitária” a
posição de Israel (o editorial da semana passada levava o título de “Standing
Alone”), embora o editor-chefe William Kristol e o diretor do Instituto Judeu de
Assuntos de Segurança Nacional, Michael Makovsky, tenham assumido tom muito mais
declarado de desafio, que Abrams. Conclamaram Netanyahu a avançar nas recentes
ameaças de atacar instalações nucleares do Irã, com ou sem a aprovação dos EUA.
“Ninguém gosta de ouvir a verdade no campo da
pacificação” – escreveram. Para eles, o presidente Obama e seu “desejo rendido, quase desesperado, de obter
algum acordo [nuclear], qualquer acordo” com o Irã implicariam uma espécie
de “fracasso ocidental, um colapso da
vontade”, o mesmo que o ex-ministro britânico Winston Churchill lamentou, no
surgimento dos nazistas alemães, nos anos 1930s.
Em
tom semelhante, o principal colunista de assuntos externos do Wall Street
Journal, Bret Stephens, também lamentou amargamente a situação a que Israel
se via reduzida, depois do tour de force do presidente Hassan Rouhani do
Irã, na ONU, na semana anterior.
Bret Stephens |
Israel está hoje na desastrosa posição de
ter de esperar que os linha-duras iranianos sabotem os esforços de Rouhani para
negociar algum acordo – escreveu ele, pouco antes de Netanyahu subir à
tribuna para denunciar a perfídia de Teerã.
O líder israelense, lamentou Stephens, já
cedeu demais aos esforços diplomáticos de Obama, quando não atacou o Irã no ano
passado. Dado que Washington agora se retira do mundo – o que teria ficado
evidentemente comprovado quando os EUA fracassaram nas ameaças de atacar a Síria
–os israelenses devem agora rebaixar as
relações com Washington, o colunista exigiu; e devem agir sem levar em consideração o
cronograma diplomático de Obama.
Gary
Sick, especialista em Irã que trabalhou no Conselho de Segurança Nacional nos
governos Ford, Carter e Reagan, disse à agência InterPress Service que as recentes
manifestação dos neoconservadores, de desafio e desespero, são
(...)
a prova mais convincente que vi até hoje,
de que os sabotadores mais empenhados de qualquer acordo entre EUA e Irã
entraram em operação defensiva.
Marcos
diplomáticos
Mohammad Javad Zarif |
A
apenas uma semana de o ministro iraniano de Relações Exteriores, Javad Zarif
sentar-se para negociar com os seus interlocutores do P5+1 em Genebra, Netanyahu
e seus apoiadores em Washington vivem ambiente diplomático e político
profundamente diferente do que havia há apenas cinco semanas.
Esse
ambiente é definido e modelado, sobretudo, pela opinião do eleitorado
norte-americano, já farto de guerras, que aparece claramente no apoio da opinião
pública à decisão de Obama a favor da diplomacia, não dos mísseis, para
neutralizar o arsenal sírio de armas químicas.
O
fato de que o processo de desarmamento até agora transcorre muito mais
suavemente do que se havia previsto desacredita ainda mais os neoconservadores,
que se opuseram furiosamente ao acordo EUA-Rússia que tornou possível aquele
processo e que muito falaram a favor de ataque unilateral à Síria e do apoio aos
“rebeldes”, hoje cada dia mais controlados por radicais islamistas.
A
impressão muito favorável que Rouhani causou nos quatro dias de blitz
diplomática em New York em setembro,
que culminou com o telefonema absolutamente sem precedentes de Obama, [1] criou expectativas não só de um
acordo sobre o programa nuclear do Irã, mas, também, de uma possível aproximação
entre os dois países, depois de 34 anos de mútua demonização.
Elliott Abrams |
Em
seu artigo, Abrams concedeu que a exigência de Netanyahu, de que qualquer acordo
nuclear deveria impor que o Irã abandonasse completamente seu programa nuclear,
já não é realista; e que teria de ser abandonada, se passasse a depender da ação
de sabotagem pelos linha-duras iranianos.
Netanyahu
está impondo precondições a um acordo nuclear que são muito mais duras do que as
condições que o governo Obama considera negociáveis e as quais, portanto, não
estão sequer sendo consideradas
– escreveu Abrams.
O
líder israelense deve, pois, preparar-se para aceitar um programa com limite de
3,5% de enriquecimento do urânio e número limitado de centrífugas que o Irã
poderia manter, além de limites também de estoque de urânio enriquecido. E
deve-se prever que as sanções sejam suavizadas nos próximos meses, mas, diz
Abrams, sob a condição inegociável de que o Irã cumpra o acordo.
Enquanto
isso, argumenta Abrams, ecoando a poderosa Comissão EUA-Israel de Assuntos
Públicos [orig. American Israel Public Affairs Committee, AIPAC],
que o Congresso dos EUA, onde o lobby israelense exerce sua maior
influência, deve garantir que as sanções sejam mantidas. Mas mesmo essa já é
concessão que a elite da política exterior considera a mais provável, nas
negociações.
Como
já antecipado na coluna de domingo no Washington Post, por David
Ignatius, os elementos básicos do acordo exigirão que o Irã “limite o nível de enriquecimento de urânio
(a, digamos, 5%) e seus estoques de material enriquecido” a níveis
suficientemente baixos, de modo que, se Teerã “entrar em surto de produzir a bomba”,
EUA e Israel preservem meses de “alerta estratégico”.
Em
troca, o ocidente levantaria as sanções e aceitaria “os direitos iranianos, em princípio, ao
enriquecimento”, segundo Ignatius, cujas opiniões muito frequentemente
reproduzem o pensamento do establishment político.
David Ignatius |
Segundo
Ignatius, o engajamento de Washington com a Rússia, na questão síria e na
questão nuclear iraniana, oferece “grande
oportunidade estratégica” que os críticos erram ao ver como “sinais de fraqueza dos EUA ou, até, de
capitulação”.
“Os EUA estarão mais fortes se puderem criar
um quadro de segurança no Oriente Médio que envolva o Irã e dilua a ameaça do
conflito sectário entre sunitas e xiitas que ameaça a região” e que “acomode as necessidades de segurança de
iranianos, sauditas, israelenses, russos e norte-americanos”.
Mas
precisamente essa é a acomodação considerada anátema por Netanyahu e seus
apoiadores neoconservadores, que insistem em assegurar uma posição de privilégio
para Israel no Oriente Médio e calculam a oposição ao Irã por uma equação de
soma-zero, em relação à qual não admitem qualquer
concessão.
Nota
dos tradutores
[1] Ver, sobre
isso, redecastorphoto, MK Bhadrakumar,
1/10/2013, “Putin ganhou a Síria, Obama muda-se
para o Irã”, Asia Times Online, em português.
_________________________
[*] Jim Lobe (nascido em 4 de janeiro de 1949, em
Seattle, Washington) é um jornalista americano e o chefe do escritório de
Washington da IPS -Inter Press Service. Trabalhou na Foreign Policy In Focus, na
Oneworld.net, na
Alternet, em
TomPaine.com, no Asia
Times e outras publicações de
notícias de internet. Lobe é mais conhecido por sua crítica da política externa
dos EUA, ao militarismo americano, crítico do anti-semitismo, com especial
destaque na crítica aos neo-conservadores, sua visão de mundo, sua relação com
outras tendências políticas e sua influência na administração Bush.
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