segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Ontem (5/10/2013), dois “raids” fracassados, dos EUA

6/10/2013, Moon of Alabama, EUA
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Comentário de “Gareth”, nesse postado: “Negócio de traficantes de drogas que deu errado, talvez?”


Ontem, dois raids norte-americanos tentaram sequestrar um homem na Líbia e matar um homem na Somália. O raid na Líbia chegou ao alvo, mas teve grave impacto no governo líbio. O raid na Somália, pelas chamadas “forças de elite” dos SEALs, fracassou completamente.

Na Líbia, foi sequestrado um homem, de nome Abu Anas Al-Libi, acusado de ter conexão com a explosão da embaixada dos EUA no Quênia há cerca de 15 anos. O raid também matou 15 soldados líbios. O homem, Abu Anas Al-Libi, viveu muito tempo fora da Líbia e voltou ao país depois que as forças de EUA-OTAN atacaram o governo líbio do general Ghaddafi. Desde então, o homem parece ter vivido livremente, sem se esconder, na capital, Trípoli:

Seu irmão, Nabih, disse à Associated Press que, logo depois das orações da tarde, no sábado, três veículos cheios de homens armados aproximaram-se da casa de Abu Anas e o cercaram quando ele estacionava o carro. Os homens rebentaram as janelas, tomaram a armas de Abu Anas, meteram-no num carro e sumiram com ele, disse o irmão.

O raid, já começou a gerar controvérsias:

A CNN disse que o governo líbio tinha conhecimento do raid. Hoje, a notícia foi desmentida pelo governo líbio, que distribuiu declaração por sua página no Facebook em que diz que nada sabia sobre o sequestro noticiado. O governo líbio também disse que já fizera contato com os EUA, para obter “esclarecimentos”.


As várias gangues armadas que são hoje o real poder na Líbia verão esse raid como (mais um) ataque contra a soberania da Líbia. Deve-se esperar a reação, que certamente virá, contra o governo provisório e outros alvos. Já houve uma resposta tribal contra o governo líbio, mas a única notícia sobre ela foi enterrada no fundo do 25º parágrafo da versão que o New York Times distribuiu sobre os eventos:

A captura de Abu Anas também coincidiu com pesado tiroteio que matou 15 soldados líbios num posto de controle num bairro na área sudeste de Trípoli, área próxima da residência tradicional do clã de Abu Anas.

Quanta “coincidência”...

O raid fracassado na Somália foi tentado contra uma casa de praia, que seria utilizada por jihadistas do grupo Al Shaabab local. O raid foi noticiado por moradores próximos e em seguida pelo próprio grupo Al Shaabab:

O Xeique Abdulaziz Abu Musab, porta-voz da ala militar do grupo Al Shabaab, confirmou o raid e informou, em declaração gravada para a imprensa, que os militantes “rechaçaram um raid tentado à meia-noite, por soldados infiéis brancos”.

Abu Musab disse que:

Rechaçamos o ataque dos soldados infiéis brancos com balas e bombas, e eles voltaram correndo para os seus barcos. Um membro do Al Shabaab foi morto, e a missão dos soldados infiéis brancos fracassou. Pela manhã, encontramos sangue e equipamento abandonado perto da costa – acrescentou ele, em declaração postada em websites de grupos militantes.

Houve imensa confusão em torno desse raid, e demorou um dia inteiro antes de os EUA confirmarem que suas forças haviam sido rechaçadas. Em dado momento, o New York Times e a rede Fox News diziam que um alto comandante do grupo al Shabaab havia sido morto; a rede NBC dizia que fora capturado; e a AP dizia que não fora encontrado. Faz lembrar a propaganda que se distribuiu em torno do raid contra Bin Laden.

Mas dessa vez os fatos se esclareceriam, porque o livro sobre o raid dos SEAL já estava escrito antes do raid, como informara, um ano antes, um conhecido autor de livros sobre os SEALs. [1]

Mas o que é óbvio é que esse ataque, por pessoal dos SEALs, em barcos, foi detectado e houve reação de fogo pesado. Os SEALs teriam tido de pedir socorro a helicópteros e foram obrigados a recuar sob fogo.

Baraawe, vila de pescadores na Somália onde foi rechaçada a invasão dos SEALs
Na Somália, a equipe dos SEALs da Marinha emergiu do Oceano Índico antes do sol nascer e trocou tiros com militantes que faziam a guarda da casa de um alto comandante de militantes somalianos do grupo Shabab.
...

A equipe dos SEALs foi forçada a recuar e sumir, antes de poder confirmar se teriam assassinado ou não o comandante Shabab – disse um alto funcionário da segurança norte-americana, que não quis identificar-se nem identificou o alvo do atentado.

E fica-se a pensar o que o governo Obama espera obter com esses raids.

O homem sequestrado na Líbia, caso alguma coisa se confirme, é ligado a um caso que já tem 15 anos. Será difícil provar que é culpado de alguma coisa, ainda que seja possível construir um processo que seja aceito por tribunal sério. A repercussão que esse raid terá na Líbia só agravará os difíceis problemas que o governo de transição “amigo do ocidente” já enfrenta lá.

O mesmo vale para o fracassado raid na Somália. Não só aprofunda as dificuldades com o grupo Al Shaabab, mas, além disso, incita o nacionalismo somaliano contra a agressão à soberania da Somália. E mostra também que 20 anos depois do fracasso da Operação Blackhawk Down [2], nem as mais especializadas forças de elite dos EUA são facilmente bem sucedidas naquela região.

Esses raids não fazem sentido algum. São acionados por um conceito idiota de vingança, não assustam ninguém a ponto de impedir que alguém se aliste à Al-Qaeda ou a algum de seus grupos afiliados, e, sempre, criam ainda mais inimigos. Nesse sentido, os dois raids de ontem foram retumbantes fracassos.



Notas dos tradutores

[1]Navy SEALs To Infiltrate Libya In Secret Mission, Book Publisher Reports” [SEALs da Marinha vão-se infiltrar na Líbia em missão secreta, informa editor de livros], matéria assinada por Smelly Infidel [Infiel Fedido], 13/9/2012:

VIRGINIA BEACH, VA – Um grande editor de livros de memórias de SEALs da Marinha informou hoje que é “iminente” um ataque de retaliação na Líbia. Imediatamente depois das primeiras notícias sobre o ataque ao Consulado dos EUA em Benghazi, Líbia, o porta-voz de Random Day, Bill Klein, disse que vários de seus clientes já haviam telefonado com manuscritos preliminares para possíveis livros.
“O primeiro que nos telefonou foi Steve Faulkner” – disse Klein. – “Você sabe, ele está com os DEVGRU, você sabe, a Equipe 6 dos SEALs. Faulkner nos ligou tarde da noite e disse que queria oferecer um novo capítulo de sua biografia, que incluiria vários subcapítulos sobre raids contra campos de terroristas no deserto líbio”.
Klein disse que a conversa foi interrompida, porque Faulkner disse que estava de saída, já na manhã seguinte, e que ficaria fora por várias semanas. “Esse pessoal é muito cuidadoso com a segurança e o sigilo” – disse Klein. – “Por isso, quando há eventos de repercussão mundial e eles têm de partir, eles logo nos mandam um primeiro manuscrito para um novo livro, antes mesmo de embarcar no avião e partir em missão secreta”. [Continua].

[2] Em outubro de 1993, durante a guerra civil da Somália, soldados americanos participaram da Batalha de Mogadíscio. Uma força de elite estadunidense foi enviada ao local para capturar generais que obedeciam ao líder Mohammed Farah Aidid. Porém, dois helicópteros UH-60 Black Hawk foram derrubados e a operação, que deveria levar em torno de meia hora, tornou-se uma batalha de 15 horas, terminando com 19 soldados estadunidenses mortos e 73 feridos, além de 1.000 somalianos mortos. A história foi usada no roteiro de um filme Falcão Negro em perigo (dir. Ridley Scott, 2001).

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