10/10/2013, [*] Radwan Mortada, Al-Akhbar (trad. do árabe ao ing.)
Traduzido da versão em inglês pelo
pessoal da Vila
Vudu
O
líder da Al-Qaeda Ayman al-Zawahiri distribuiu novas instruções, recebidas como
ordens, para a próxima fase da luta. O emir da organização internacional mudou
de tom e ordena agora que o grupo evite agressões a xiitas, cristãos, hindus e
sufistas, no contexto de “varrer o pecado”; e que todos se concentrem no ataque
contra as forças infiltradas dos EUA.
Ayman al-Zawahiri, líder máximo da al-Qaeda |
De
modo geral, os emires recebem fidelidade e obediência, mas os emires jihadistas na Síria são diferentes. O grupo Estado
Islâmico do Iraque e Levante [orig.
Islamic State of Iraq and the Levant, ISIS] não gostou da ação de
mediação empreendida pelo chefe da al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, para resolver a
disputa contra a Frente al-Nusra, preferindo “deixar as coisas como estavam”. O
Emir do Estado Islâmico do Iraque e Levante, Abu Bakr al-Baghdadi, separou-se de
seu antigo emir, e proclamou que “o Estado [ISIS] permanecerá”.
Zawahiri
anunciou uma nova abordagem em relação ao trabalho da al-Qaeda, deixando para
trás o mote anterior, que priorizava “os apóstatas próximos”, em vez de combater
“infiéis distantes”. E anunciou uma nova palavra de ordem: “Ataque a cabeça do
cão, e ele baixará o rabo” – na versão de um dos jihadi.
Exame
mais atento da segunda mensagem de Zawahiri – a primeira foi distribuída em
junho passado – intitulada “Orientações Gerais para Atividades Militares”
[ing. General Guidelines for
Military Activities] revela profunda mudança no movimento da organização. De
mais importante, que a nova mensagem pode ser interpretada como uma crítica ao
trabalho do grupo Estado Islâmico do Iraque e Levante – que continua a matar
seus detratores.
Inúmeras
páginas jihadistas estão distribuindo a mais recente mensagem
de Zawahiri, produzida pela Fundação Sahab de Produção para a Mídia [org. Sahab Foundation for Media
Production], usada oficialmente pela al-Qaeda. Na mensagem, Zawahiri falou
de duas principais questões que têm de ser encaminhadas na atual fase: uma é a
questão militar; a outra tem relação com a “conclamação” [orig. the “call”].
A
ação militar visará, doravante,
(...)
primariamente aos cabeças dos infiéis
internacionais: EUA e sua aliada, Israel. Em segundo lugar, visará aos aliados
locais dos cabeças dos infiéis internacionais, que governam nossos países –
disse Zawahiri.
Tomar
os EUA como nosso alvo significa desgastá-los e exaurir seus recursos, até que
acabem como a União Soviética e tenham de retirar-se daqui, de volta às próprias
bases, por causa das perdas militares, humanas e econômicas. Assim se
enfraquecerão as garras que mantêm cravadas na carne de nossos países, e seus
aliados tombarão, um após o outro.
Os
golpes dos mujahideen no Afeganistão e no Iraque consumiram os
EUA
– disse Zawahiri. Por causa da ameaça à
segurança dos EUA depois de 11/9/2001, os EUA começaram a inflar a fúria
popular [na região], e essa fúria explodiu ante seus
colaboradores.
Em
sua mensagem, dirigida à “Nação Islâmica” da al-Qaeda, Zawahiri mencionou que
muitos países estão assistindo a um renascimento das atividades da al-Qaeda.
O
confronto em al-Sham
[Síria] é confronto contra colaboradores
dos EUA que não permitirão que uma entidade islâmica exista, muito menos se for
entidade da Jihad. A história sangrenta das
tentativas dos EUA para erradicar o Islã está bem à vista e é bem conhecida.
Apesar
de falar de “colaboradores dos EUA que governam nossos países” e falar de atacar
seus agentes locais, Zawahiri entende que “é diferente, de um local para outro”.
Em princípio, o conflito não deve ser conflito direto contra eles, exceto nos
países onde a confrontação seja necessária”.
Quanto
a Jerusalém, o confronto básico e principal é contra os judeus. É preciso toda a
paciência possível com os governantes locais na autoridade de
Oslo.
Zawahiri também disse que: o confronto
contra [governantes locais] no Afeganistão está relacionado à luta contra os
norte-americanos.
Quanto
ao Paquistão,
(...)
complementa a luta contra os
norte-americanos, pela libertação do Afeganistão, criando-se assim uma região
segura para mujahideen no Paquistão, para em seguida tentar criar
um regime islâmico no Paquistão.
O
objetivo da luta no Iraque é livrar áreas sunitas, dos herdeiros xiitas dos
EUA
– acrescentou Zawahiri.
Na
Argélia,
(...)
onde a presença dos EUA é pequena e
desprezível, a luta é contra o regime, para enfraquecê-lo e ampliar a influência
da Jihad no Maghreb Islâmico, nos países da costa
oeste da África e nos países sub-saharianos.
Na
Somália,
(...)
a luta é contra os colaboracionistas,
porque são a ponta de lança da ocupação pelos cruzados.
Zawahiri
deu algumas orientações aos
mujahideen, os quais, para ele, são “vitais nessa fase de acumular dividendos e
expulsar o pecado”. Conclamou-os a “não lutar contra grupos desviantes como
os rawafid” [termo pejorativo usado para designar os
xiitas], “os ismailis, o grupo
Qadiyania e os sufistas desviantes, a menos que
ataquem os sunitas”.
Zawahiri
entende que as lutas devem
(...)
limitar-se às frentes ativas [contra os
grupos acima], mostrando que já estamos em posição de autodefesa e que se deve
evitar atacar os não combatentes e famílias deles nos locais de moradia ou casas
de oração e culto, nas festividades ou nas reuniões de caráter religioso. Mas a
denúncia de suas falsidades e de seus desvios de ideologia e comportamento deve
prosseguir.
Zawahiri
põe todos esses grupos
(...)
sob controle e comando dos mujahideen;
esses grupos devem ser tratados com sabedoria, depois que
aceitarem a conclamação; com consciência, sem suspeitas, promovendo a virtude e
combatendo o vício, por tanto tempo quando seja necessário, enquanto não
causarem maiores danos, e a ação deles não ameaçar expulsar os mujahideen dessas áreas, nem haja
risco de revolução das massas contra eles.
Zawahiri
conclamou os muçulmanos a
(...)
tomar como alvos os interesses da aliança
sionistas-cruzados ocidentais em qualquer ponto do mundo; esse é um dos seus
deveres mais importantes.
Zawahiri
ordenou que
(...)
evitem atacar cristãos, sikhs e hindus em terras islâmicas. Se forem
beligerantes, a resposta deve ser equivalente à agressão, não maior. Temos de
deixar bem claro que não iniciamos nem iniciaremos qualquer confrontação, porque
estamos ocupados no combate contra os cabeças dos infiéis internacionais, e
temos todo o interessem em viver em paz e harmonia quando a nação do Islã
estiver erguida, o mais depressa possível, pela graça de Deus.
Em
suas diretivas, Zawahiri ordenou que,
(...)
sempre que possível, se evite matar não
combatentes ou combater contra eles, ainda que sejam as famílias dos que lutam
contra nós.
Conclamou
seus seguidores a não atacar muçulmanos com bombas, sequestros ou mortes, e a
não se apropriar de dinheiro ou danificar propriedades.
Não
ataquem o inimigo em mesquitas, mercados e locais de reunião nos quais o inimigo
mistura-se com muçulmanos que não nos agridem.
Quando
à “conclamação”, ela
(...)
visa a conscientizar a nação para a
invasão dos cruzados, elucidando a significação da unidade e de que só a lei de
Deus prevalece; para alcançar a irmandade de todos os islâmicos e a unidade das
terras islâmicas – como prelúdio à volta do califato.
Esse
é trabalho “em duas frentes” – Zawahiri explicou.
A
primeira é educação e conscientização para a vanguarda jihadi, que carrega a tarefa de
estabelecer o califato e continuará a fazê-lo. A segunda é elevar a consciência
das massas, incitando-as, e mobilizando-as para que se levantem contra seus
governantes e a favor do Islã e dos que lutam pelo Islã.
Zawahiri
conclamou os muçulmanos a
(...)
assumir que atacar os interesses da
aliança sionistas-cruzados ocidentais em todos os pontos do mundo é um dos seus
principais deveres.
Que
os muçulmanos
(...)
empreendam todos os esforços necessários
para libertar prisioneiros muçulmanos, por todos os meios necessários, inclusive
ataques a prisões ou sequestros com reféns de países que participem na invasão
de terras muçulmanas, para usá-los como item de troca.
Em
todos os locais onde haja chance de reduzir o conflito com os governantes
locais, usá-lo para conscientização, para obter informação, para instigar a
resistência, para arregimentar e alistar e para coletar fundos e apoiadores –
deve-se investir nisso, no mais alto grau. Nossa batalha é longa e a jihad carece de bases seguras e de reforço
contínuo, de homens, dinheiro e expertise.
Zawahiri
também falou das desavenças com outros grupos islâmicos.
Desentendimentos
com outros grupos islâmicos não podem levar-nos a negligenciar a confrontação
com o inimigo e com os oponentes do Islã, nem militarmente nem politicamente.
Disse
que:
(...)
é necessário apoiar os grupos islâmicos,
elogiá-los por todas as ações manifestações e declarações corretas, e
aconselhá-los nos erros que cometam. Respostas e conselhos devem ser baseados em
abordagem científica séria e devem-se evitar ataques e provocações.
Se
um grupo do campo islâmico está engajado em combate ao lado do inimigo infiel,
sua luta deve ser combatida com a mínima luta possível para pôr fim à aliança,
com o objetivo de não prolongar a luta entre muçulmanos e o sofrimento dos que
não se aliam ao inimigo.
[*]
Radwan Mortada
é
um jornalista libanês, editor do jornal Al Akhbar e repórter da Aljadeed TV. É
especializado em grupos fundamentalistas islâmicos notadamente a al-Qaeda e seus
tentáculos pelo mundo. Também cobre assuntos ligados à segurança interna do
Líbano. Eventualmente produz documentários como free-lancer.
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