sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O triângulo do petróleo: petróleo, globalização e terror

3/10/2013, resenha de [*] Johnny Rishmawi (American University of Cairo)
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Resenha: YETIV, Steve A. The Petroleum Triangle: Oil, Globalization, and Terror [O triângulo do petróleo: petróleo, globalização e terror]. Ithaca: Cornell University Press, 2011. 224 pp. $35.00 (cloth), ISBN 978-0-8014-5002-0


O Triângulo do Petróleo [The Petroleum Triangle], de Steve A. Yetiv, é trabalho bem pesquisado sobre o papel do petróleo e da globalização, no crescimento do terror na política global moderna. 

Diferente de outros livros anteriores, que discutem a relação entre petróleo e terror ou entre globalização e terror, Yetiv mostra como o terrorismo está relacionado aos dois campos: do petróleo e da globalização. Apresenta as conexões lógicas que produziram a onda de terrorismo nos últimos 30 anos. Yetiv sugere que a globalização foi promovida e disseminada pelo petróleo. 

Os EUA agiram como protetor camuflado dos fluxos de suprimento de petróleo, o que levou ao crescimento do antiamericanismo em todo o Oriente Médio, o que, por sua vez, aumentou o preço do petróleo e a quantidade de fundos disponíveis para financiar operações da Al-Qaeda. 

O autor também sugere que a importância do petróleo ampliou a percepção da Al-Qaeda como ameaça, o que provocou reação forte, talvez extraordinariamente e descabidamente forte, pelo políticos norte-americanos.

Steve A. Yetiv
O livro é dividido em duas partes. 

Na primeira, Yetiv examina o papel que o petróleo desempenhou no financiamento das atividades terroristas, no crescente antiamericanismo e na presença de regimes autocráticos; mostra que o petróleo foi instrumento essencialmente necessário para financiar as atividades da Al-Qaeda mediante o apoio financeiro que a organização recebeu da Arábia Saudita, cuja riqueza vem, integralmente, do petróleo.

A partir daí, Yetiv explica que o antiamericanismo expandiu-se por efeito das repetidas intervenções dos EUA para manter ininterrupto o fluxo de petróleo. E argumenta que a supervisão visivelmente hegemonista dos EUA gerou crescente hostilidade contra os EUA pelos cidadãos da região. 

No mesmo processo, a Al-Qaeda passou a ser apresentada e vista como ameaça, porque tomava, como alvo, importantes peças da infraestrutura do petróleo.

O autor reúne citações de líderes da Al-Qaeda para mostrar as alterações pelas quais passaram seus padrões de comportamento em relação às instalações da indústria do petróleo. Serve-se também de mensagens da Al-Qaeda para descrever a importância dessas questões e o quanto servem como motivação inspiracional para o recrutamento de membros para a Al-Qaeda.

Na segunda parte do livro, Yetiv discute as interconexões entre petróleo e globalização. Para ele, o petróleo é um dos motores e das principais razões da globalização. A globalização também aumentou a demanda por petróleo, o que pôs o Oriente Médio em posição de mais importância e fez aumentar os gastos dos EUA com segurança, no Oriente Médio.

Yetiv diz que seu livro visa a contribuir para compreender o poder dos estados, na era da globalização. Ataca várias teorias liberais sobre o papel da globalização como fator que ampliaria a interdependência; argumenta que a globalização fortaleceu os estados autocráticos do petróleo no Oriente Médio, contribuiu para expandir o terrorismo e enfraqueceu os EUA. 

O autor também chama a atenção para o aumento das vulnerabilidades devidas à interconectividade, como causa negativa da globalização. 

Ao mesmo tempo em que expõe interessante nova visão sobre a interdependência e a política global, o autor oferece reflexão estimulante sobre o petróleo e o poder do estado. Afinal, o poder dos petro-estados ‘'fornecedores'’ é hoje equivalente ao poder dos estados ‘'consumidores'’ de petróleo. Os petro-estados são vulneráveis às oscilações do preço do petróleo (o preço do petróleo manteve-se relativamente baixo nos anos 1980s, 1990s e início dos anos 2000s, por exemplo).

A globalização não parece ter tido impacto forte no aumento dos preços do petróleo; mas eventos geopolíticos, como a quebra do sistema bipolar, o aumento no número de estados ‘'falhados'’ e a má governança, possivelmente relacionada ao petróleo, esses fatores, sim, afetam os preços. Além do mais, o mercado de petróleo muda muito; prevê-se que a América do Norte já seja autossuficiente ao final da década corrente, o que pode alterar as relações globais no comércio de energia. 

Para Yetiv, o petróleo ‘'comanda'’ a globalização, e a globalização ‘'comanda'’ os preços do petróleo, o que amplia a fonte de recursos para financiar o terrorismo. São duas hipóteses empiricamente viáveis, mas ainda não comprovadas. 

O livro elabora sobre as hipóteses, mas não demonstra que haja conexão direta entre a globalização e o aumento nos preços do petróleo. 

A verificar.




[*] Johnny Rishmawi é formado na American University of Cairo, Francis Marion University, National University of Ireland – Maynooth e Rhineland-Pfalz Academy. Atualmente é professor assistente na Near East South Asia Center of Strategic Studies at The National Defense University.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.