quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O campo de Libra e o futuro


Publicado em 23/10/2013 por [*] Urariano Motta

Recife (PE) - O recente leilão do pré-sal no campo de Libra causou um estrago, não bem econômico, como a oposição à presidenta Dilma esperava. Mas no campo da mídia e política no Brasil, sim, causou. Se não constitui novidade que o tucano Aécio tenha chamado o leilão de “fracasso” e atacado uma suposta contradição do governo ao abrir o pré-sal ao capital privado, novidade foram militantes vinculados à esquerda que se opuseram ao leilão e à presidenta com argumentos semelhantes aos dos conservadores.

Ambos, direita e setores da esquerda, cantaram que a presidenta privatizava. A direita, com júbilo. A esquerda minoritária, até como reforço à posição prévia contra o governo, como uma traição de compromissos históricos para com os trabalhadores.

Importa pouco, nesse ataque de contrários unidos em um só bloco, a diferença conceitual, prática, entre a concessão de FHC, que entregava e entregou o patrimônio público a empresas privadas, e o regime de partilha, em que o Estado empresta por tempo determinado parte da riqueza brasileira. Que diferença? Na briga política, assim como na guerra, a primeira vítima é a verdade. 

Daí que fizeram ouvidos moucos à explicação didática, eloquente, da estadista Dilma Rousseff:

Por favor, prestem bem atenção que vou explicar agora. Nos próximos 35 anos Libra pagará os seguintes valores ao Estado brasileiro: primeiro, R$ 270 bilhões em royalties; segundo, R$ 736 bilhões a título de excedente em óleo sob o regime de partilha; terceiro, R$ 15 bilhões, pagos como bônus de assinatura do contrato. Isso alcança um fabuloso montante de mais de R$ 1 trilhão. Repito: mais de R$ 1 trilhão...

Neste momento, enquanto um passo para o futuro é dado, pode ser visto um racha na esquerda brasileira. Onde antes havia divergência teórica, agora é patente em razão desse novo contrato. Teorias fazem vida, não? Os socialistas mais reflexivos, como Saul Leblon, na Carta Maior, observaram que Brasil e China iniciaram a partir do leilão de Libra uma parceria estatal das mais robustas, consistentes e estáveis do século 21.

Um editorial do Vermelho, maior site de esquerda nas Américas, publicou a posição oficial do Partido Comunista do Brasil, onde se declara que a exploração de Libra deve ser iniciada o mais rápido possível. Com a necessidade da luta para aprofundar as medidas do governo que resguardem os interesses nacionais.

Mas setores do PSOL, PSTU, e outros independentes, mas que se assemelham a suas posições, negam em absoluto o avanço, com a mesma cantilena que Dilma e Lula instituíram uma democracia + ditadura = democradura, enquanto jogam, Lula e Dilma, ao mar, ao poço e ao campo de Libra a maior traição à soberania nacional, em um leilão que não houve, e a um preço lesivo. Isso tanto seria verdade que o bônus se fez a preço mínimo, de “apenas” 15 bilhões.

E vem a imagem do copo meio cheio ou meio vazio. Os opositores não veem que o governo ao receber pagamento mínimo pelo contrato significou também que o negócio foi mais lucrativo para a Petrobras, para o povo brasileiro. Caso contrário, o bônus acima viria da nuvem de gafanhotos para a disputa. Pois foi justamente o excesso de “estatismo” que afugentou o ataque de predadores.

E continuam, na imagem do copo meio vazio: nem mesmo uma alegada falta de capacidade financeira da Petrobras para a exploração de Libra seria justificável. Ora, argumentam em lógica implacável, se a Petrobras fosse a única empresa a operar o pré-sal, suas ações subiriam, aumentando o capital. Ou então, o governo bem poderia abrir linha de crédito para o Brasil em qualquer lugar do mundo. Pois os banqueiros internacionais seriam mais camaradas, é claro.

A uma política grandiosa de Estado, a um salto de qualidade para o destino maior do povo brasileiro, as oposições a Dilma chamam de “truque eleitoreiro”, de política baixa para a reeleição. Não ouvem, não acreditam e zombam da fala da presidenta, quando ela anuncia:

Vamos transformar petróleo em educação, petróleo em saúde, vamos transformar petróleo em desenvolvimento da indústria naval, da indústria de fornecedores, dos prestadores de serviço, toda aquela indústria que gira em torno da exploração de um campo.

Petróleo por educação, saúde... Balelas. Tudo é virtual, a oposição canta, como a construção de 18 super-plataformas, mais equipamentos de produção, gasodutos, linhas de produção, barcos de apoio, equipamentos submarinos fabricados no Brasil, com milhões de empregos. Que fábula, hem? E passam à desqualificação.

Nesse particular, pior que o cego é o enlouquecido de sectarismo.

Esperamos que algum dia mais adiante os loucos entendam o salto conseguido esta semana. Mas por enquanto bem que podiam viajar para ver Lula e Dilma lá no exterior. Talvez no estrangeiro percebessem o Brasil neste futuro contemporâneo.
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Urariano Motta [*] é natural de Água Fria, subúrbio da zona norte do Recife. Escritor e jornalista; publicou contos em Movimento, Opinião, Escrita, Ficção e outros periódicos de oposição à ditadura. Atualmente é colunista do Direto da Redação e colaborador do Observatório da Imprensa. As revistas Carta Capital, Fórum e Continente também já veicularam seus textos. Autor de Soledad no Recife (Boitempo, 2009) sobre a passagem da militante paraguaia Soledad Barret pelo Recife, em 1973, e Os corações futuristas (Recife, Bagaço, 1997). Este ano lançou o romance O filho renegado de Deus (Recife-Bertrand-Brasil, 2013).


Enviado por Direto da Redação

Um comentário:

  1. Cristalizei um habito sucessor do "só sei que nada sei" e tento me afastar o máximo possível de tudo o que implica em opiniões de massas, sejam elas da chamada direita (tribos de canibais) ou de esquerdas (vassalos mentais). Pesquiso, tento entender e, quanto ao território submarino denominado Libra, penso que seria interessante se os danos ambientais tivessem o mesmo interesse nesta festa inescrupulosa do empreendimento industrial capitalista que opta pela destruição do planeta com o uso de energia não renovável, extinguindo um isolante térmico natural do planeta e, assim, aumentando a temperatura dos mares. Enquanto festejamos a futura exploração, o sol e o vento continuam a fornecer seu poder energético natural, todavia, não temos olhos ou inteligência suficientes para impedir, mais uma vez, essa destruição tecnológica que compromete o futuro. Todas as energias para a exploração dos cadáveres orgânicos, nenhuma energia voltada à existência. Sapiência? Quê?

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