Hassan Rouhani, presidente do Irã |
Publicado
em 01/10/2013 por [*] Mário Augusto
Jakobskind
O
Presidente do Irã, Hasan Rohani (foto) tem sido a principal figura da política
internacional nesta última semana, seguido da Presidenta Dilma Rousseff com a
proposta apresentada no plenário das Nações Unidas de fazer frente à espionagem
dos Estados Unidos. O Presidente Barack Obama conversou por telefone com
Rouhani, o que não acontecia com dirigentes dos dois países desde a revolução de
1979 que derrubou o Xá Pahlevi.
A
conduta dos representantes de Israel na ONU, retirando-se quando do
pronunciamento de Rohani, confirma que o governo de Benjamin Netanyahu é
realmente adepto de ações bélicas na região, como quer também o complexo
industrial militar estadunidense. Prefere optar por um bombardeio contra as
usinas nucleares iranianas do que pelo menos tentar um acordo com o país que
desenvolve programa nuclear que o governo garante ser para fins pacíficos.
Netanyahu e o complexo industrial militar norte-americano andam de braços dados
e não querem nem ouvir falar em acordo que reduza o estado de tensão na região.
O
novo Presidente do Irã apresentou uma proposta concreta, o da desnuclearização
no Oriente Médio. Muito positiva a sugestão, que Israel deveria ser obrigado
também a seguir, já que tem estocadas armas nucleares, mas prefere o silêncio
sobre a matéria.
Mordecai Vannunu |
Nesse
sentido, uma figura importante já revelou ao mundo, nos anos 80, que Israel
possui bombas atômicas. Mordecai Vanunu pagou caro pela revelação, tendo ficado
18 anos preso e 11 em cárcere isolado. Isso depois de ter sido sequestrado em
Londres pelo serviço secreto de Israel, o Mossad.
Mesmo
tendo cumprido a pena, Vanunu segue monitorado pelo serviço secreto e impedido
de deixar o país. Foi convidado para vir ao Brasil receber o prêmio
internacional de direitos humanos, instituído pela Comissão de Defesa da
Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa,
mas o pedido às autoridades israelenses para que fosse permitida a viagem sequer
foi respondido. Claro, o silêncio é concretamente uma negativa. Vanunu deve ser
sempre lembrado, sobretudo no momento em que o tema armas nucleares está na
ordem do dia no Oriente Médio e o mundo olha com otimismo uma possível luz no
fim do túnel das trevas em que está mergulhada a região.
Quando
se aborda o tema Irã, não se pode deixar de analisar o que acontece na Síria,
que para muitos analistas é uma questão chave para se entender todo o contexto
do Oriente Médio. Há uma luta fratricida estimulada pelos Estados Unidos e
países do Golfo que não primam pelo respeito aos direitos humanos, muito pelo
contrário. Lá estão também a Arábia Saudita e Qatar, duas monarquias
autoritárias que armam e subvencionam os chamados rebeldes sírios, do qual fazem
parte grupos vinculados ao grupo terrorista al Qaeda. De quebra, aproveitando o
embalo, o governo turco procura ganhar terreno com a guerra civil síria e se
cacifar para exercer forte protagonismo na área. E Israel está também presente.
Nesse
quadro em que a ONU diz terem sido mortos mais de 100 mil sírios desde o início
das hostilidades, um ataque de armas químicas, que os Estados Unidos
responsabilizam o governo de Bachar al Assad e a Rússia a oposição bancada pelo
Ocidente e monarquias, matou mais de 1.200 pessoas.
A
questão das armas químicas merece também algumas observações que não estão sendo
levadas em conta. Que empresas fabricam armas químicas? A empresa dos alimentos
genéricos, do agente laranja, do napalm, que tantas vítimas provocou no Vietnã e
com reflexos nefastos até hoje, para não falar da participação no projeto
Manhattan que produziu a bomba atômica, a Monsanto é uma delas.
Outra
pergunta que não quer calar: além da Síria, quais os países que têm estocadas
armas químicas? Algum organismo internacional já inspecionou Israel e o próprio
Estados Unidos?
Se
existem armas químicas e países a estocam, significa também que empesas
integrantes do complexo industrial militar lucram com isso. Mas esse ângulo da
questão tem sido pouco abordado. Ainda está em tempo, portanto, de se colocar o
boca no trombone.
O
que importa agora é neutralizar o poder da indústria da morte, portanto,
pressionar governos no sentido de alcançar uma paz duradoura em que, em vez de
se gastar em armamentos, se combata a fome e se direcione os gastos para o bem
estar da população mundial. E para alcançar esse objetivo é necessário que a
comunidade internacional não assista impassível a ação militarista de governos
como o de Israel e das monarquias dos países do Golfo, como a Arábia Saudita e
Qatar, não ficando de fora também o dos Estados Unidos.
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[*]
Mário Augusto Jakobskind é correspondente no Brasil do
semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São
Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho
Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América
que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE.
Enviado por Direto da Redação
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