sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Por que os sauditas querem, depois desistem, do Conselho de Segurança?

18/10/2013, Moon of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Entreouvido na Vila Vudu: Vejam como é liiiiiiindo o jornalismo, quando é feito DESJORNALISTICAMENTE, ANTIJORNALÍSTICO, com toooooodo mundo pensando ao mesmo tempo e sem tomar conhecimento das opiniõezinhas de jornalistas empregados e “especialistas” do quilate dos mervais, waacks, tacanhedes & Cia. Limitadíssima?!

Reunião do Conselho de Segurança da ONU
Hoje a Arábia Saudita conseguiu ser eleita como membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU. Foi a primeira vez que a Arábia Saudita chegou àquela posição e um experiente diplomata chegou a prever influência da Arábia Saudita

Sem dúvida, é mostra de que os sauditas estão determinados a se fazerem ouvir, sem carecer de garantias que lhes deem as grandes potências. É uma decisão consciente de falar assertivamente no cenário internacional.
...

Bem evidentemente, os sauditas querem usar sua prerrogativa para pronunciar-se sobre o conflito na Síria. Muitas decisões cruciais sobre o futuro da Síria serão tomadas nos próximos um, dois anos, pelo Conselho de Segurança; e os sauditas querem ter influência nesses eventos, em vez de manterem-se como observadores sem voz.

Se tudo isso será bom ou ruim, só o tempo dirá. A notória gangue P5 (EUA, Russia, França, China e Inglaterra) olhará desconfiada para o novo grande fingidor. Mas o que realmente interessa é que o Conselho de Segurança terá agora cinco membros e meio, com poder de veto. É evento jamais visto, que clama por outra alquimia.

Mas pouco depois de a notícia da eleição na Assembleia Geral ter começado a circular, e depois de distribuído o postado do diplomata, os sauditas desistiram do posto. Declinaram do direito de assumir seu assento no Conselho de Segurança, apresentando três razões:

  1. A continuação da questão palestina, ainda sem solução justa e duradoura há 65 anos, o que tem resultado em várias guerras e ameaça sempre a paz e a segurança internacionais, é prova irrefutável de que o Conselho de Segurança não tem capacidade para cumprir seus deveres – disse a declaração do Ministério de Relações Exteriores saudita.
  1. O fracasso do Conselho de Segurança, para fazer do Oriente Médio uma região livre de todas as armas de destruição, sua inabilidade para extinguir os programas nucleares de todos os países da região sem exceção (...) é a prova mais irrefutável da inabilidade do Conselho de Segurança para enfrentar suas responsabilidades – acrescenta o mesmo documento.
  1. Ao permitir que o regime que governa a Síria continue a matar e queimar seu próprio povo servindo-se de armas químicas, enquanto o mundo assiste inerte, sem impor quaisquer sanções capazes de deter o regime de Damasco, também é prova da inabilidade do Conselho de Segurança para cumprir seus deveres e suas responsabilidades – segundo a declaração oficial do Ministério de Relações Exteriores da Arábia Saudita.
Vale observar que as duas primeiras, graves e muito importantes questões são raramente mencionadas (pode-se dizer nunca) nos noticiários e nas análises “ocidentais”. A matéria da Associated Press fala de “Síria” nove vezes, mas só fala da questão palestina e da questão da zona livre de armas de destruição em massa no último (13º) parágrafo.

O movimento dos sauditas é esquisito. Nenhum país será jamais eleito para o Conselho de Segurança da ONU se não trabalhar para isso. Sempre há competição em torno dessa posição, e as propinas fluem, cá e acolá, para obter os votos.

Saud bin Faisal
O ministro de Relações Exteriores da Arábia Saudita, Saud bin Faisal bin Abdulaziz Al Saud está no posto desde 1975. Claro que já aprendeu o serviço. Será que buscou a eleição, só para desistir depois de eleito?

É a segunda vez que os sauditas fazem confusão na ONU. Cancelaram o discurso planejado para a Assembleia Geral realizada há poucas semanas, também oferecendo, como motivo, a inação da ONU. Ninguém deu importância alguma daquela vez, como agora tampouco alguém se preocupará por a Arábia Saudita não querer o lugar no Conselho de Segurança.

Por que os sauditas estão fazendo isso? Qual será o plano deles?

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Duas tentativas de responder, nos “Comentários”, na mesma página, hoje:

(1) De: bevin, 18/10 [aqui traduzido]

Desconfio que seja a sucessão. (...) O Grupo “Bandar-e-só-Bandar (ou o pai dele)” deve estar pressionando.

(2) De: skuppers, 18/10 [aqui traduzido]

Meu palpite é que é o começo de uma campanha para “normalizar” a noção de que “é preciso” sair da ONU p’ra fazer as coisas acontecerem. Sim, nos últimos 12 anos vimos os EUA e aliados desconsiderar a ONU e fazerem sempre o que lhes desse na telha, como quiessem. Mas sempre houve, pelo menos, algum tipo de esperança de que a ONU seria parte do processo ou, pelo menos, que seria consultada. E parece que, agora, a Rússia deu “uma enquadrada” nos EUA e pôs as coisas de volta, nos trilhos, com atenção à ONU. Os EUA ficaram “numa saia justa”.

Agora, porém, o “ocidente” pode dizer:

Vejam aí, o Conselho de Segurança da ONU está tão desmoralizado que até a Arábia Saudita (e talvez outros, na sequência) não querem nada com eles. É uma instituição falida, e não voltaremos a nos deixar conter por ela, até que seja consertada.

Minha primeira opinião, portanto, é essa: marcaram a coisa. É campanha de propaganda para esvaziar o Conselho de Segurança da ONU para os públicos domésticos: criar o meme de que a ONU está falida e temos de “consertá-la”; remover as algemas que foram postas na liberdade dos EUA para agir; voltar ao velho negócio das mudanças de regime e política externa de agressão.

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