25/10/2013, Ed Pilkington
e Ryan Devereaux
(de New York),
The Guardian, UK
Traduzido
pelo pessoal da Vila Vudu
Drones matam civis indiscriminadamente |
Entreouvido no Cafofo do Banha na Vila Vudu: Há uma
coisinha curiosa, nesse artigo, que se tentou preservar na tradução, com algum
sucesso: a espantosa a quantidade e a variação das perífrases que se usam, para
falar de armas aéreas pilotadas por controle remoto, o drones para as quais não há
qualquer legislação.
Em
uma dúzia de parágrafos curtos, o artigo fala de:
(a) veículos pilotados à
distância;
(b) veículos
aéreos não pilotados;
(c) armas
aéreas não tripuladas na luta contra a al-Qaeda;
(d) armas
aéreas pilotadas à distância;
(e) veículos aéreos armados
tripulados à distância;
(f) armas
aéreas de assalto tripuladas à distância;
(g) arma aérea
de precisão, pilotada à distância;
(h) [essa] tecnologia de guerra;
(i) drones pilotados por controle remoto; e
(j) aviões não tripulados.
Esse
é um recurso discursivo que ajuda a preservar, em torno dos drones, que são armas de guerra, a “aura”
de invisibilidade e de intangibilidade, precisamente o maior “trunfo” dessas
armas: é recurso de PROPAGANDA (ou, mesmo, de publicidade & marketação).
Também é recurso de PROPAGANDA dar maior espaço e dedicar a abertura e ¾ da
matéria aos argumentos a favor dos drones,
deixando para o rabo da matéria os argumentos contra os drones. Em nenhum caso é jornalismo.
Dado
que propaganda se combate com propaganda, nós modificamos o título da matéria.
___________________________________
Pela
primeira vez, em debate na ONU, nações membros reúnem-se para discutir os
veículos pilotados à distância, os drones.
(Foto: Joshua Lott/Reuters)
O governo
dos EUA defendeu hoje na ONU os ataques em que a arma usada são os drones, veículos aéreos
pilotados à distância, no Paquistão, Iêmen e em outros países. Para os
norte-americanos, a decisão do presidente Obama de empregar “veículos aéreos
não pilotados” contra alvos da al-Qaeda foi “necessária, legal e justa”.
Representantes
de várias nações, entre as quais Brasil, China e Venezuela, alinharam-se para
criticar o governo Obama, pelo uso intensivo dos drones em grande número de ações de ataque. Mas a
delegação dos EUA disse ao plenário em New York,
que o presidente Obama já tomou medidas para introduzir novas orientações e
padrões, e para definir a sistemática de emprego de armas aéreas não tripuladas
na luta contra a al-Qaeda e ameaças associadas a ela.
O debate
na ONU foi a primeira vez que nações membros reúnem-se para discutir o uso
militarizado, que está em rápida expansão, de veículos aéreos pilotados à
distância (drones) e a grande quantidade de questões de Direito
Internacional que essa ação gera. Foi o clímax de dez dias durante os quais os drones estiveram nas manchetes, depois que a ONU
distribuiu dois relatórios nos quais condena veementemente inúmeros aspectos
desses programas.
Christof Heyns |
Os autores
dos dois relatórios falaram no debate de 6ª-feira (25/10/2013) na ONU, começando com
Christof Heyns, relator especial da ONU sobre execuções extrajudiciais,
sumárias e arbitrárias. Seu estudo alerta para o perigo da proliferação de
armas aéreas pilotadas à distância, entre estados e grupos terroristas.
Nas suas
observações iniciais no debate da ONU, Heyns disse que “os drones chegaram para ficar”. Argumentou que fora
difícil comprovar que os veículos armados não tripulados seriam inerentemente
ilegais:
Não é fácil demonstrar que um
determinado sistema de armas aéreas seja ilegal, uma vez que não há piloto a
bordo.
Mas, disse ele, os drones podem ser muito facilmente usados para
invadir fronteiras internacionais, quase sempre secretamente. Por isso, em
minha opinião, embora não estejam definidos como ilegais, os drones são problema e desafio, sobretudo porque são,
quase sempre, usados secretamente, o que cria questões de transparência e
dificuldades específicas em todas as investigações [orig. accountability issues].
O tema da
transparência e suas específicas dificuldades foi assunto do segundo especialista
da ONU, Ben Emmerson, relator especial para direitos humanos e
contraterrorismo. A investigação na qual trabalha atualmente, sobre operações
letais extraterritoriais de contraterrorismo, concluiu que os 33 ataques por
veículos aéreos armados tripulados à distância, os drones, causaram mortes de civis e
podem ter constituído, em praticamente todos os casos, violação da lei
internacional.
Ben Emmerson |
Disse à
Assembleia que a falta de transparência foi
(...)
o principal obstáculo a uma avaliação do
impacto civil do ataques por drones; e que essa é dificuldade específica que torna extremamente difícil
avaliar com precisão e objetividade todas as acusações e denúncias de ataques
por arma aérea de precisão, pilotada à distância.
Conclamou
os delegados presentes a considerar a necessidade de banir completamente todos
os acordos secretos construídos entre estados, relacionados a ações militares
conjuntas [que prevejam o emprego de drones].
Emmerson
também chamou a atenção para o estado de caos que se vê hoje na legislação
internacional, em tudo que tenha a ver com os
drones:
Apesar da proliferação dessa
tecnologia de guerra, ainda não há consenso entre os advogados e entre os
estados, sobre os princípios legais centrais.
E
acrescentou:
O principal problema não é do drone. O principal problema é a falta de clareza no
quadro de legislação que determine as condições de legalidade e ilegalidade do
emprego de força letal por drones.
Crianças são as principais vítimas dos drones dos EUA |
O Reino Unido,
um dos três países que, com EUA e Israel, atraiu mais atenção pelo uso de armas
aéreas de assalto tripuladas à distância, também tentou defender o uso militar
da tecnologia. O relatório de Emmerson aponta que o governo do Reino Unido só
relatou um incidente com baixas civis: um ataque da Real Força Aérea, em março
de 2011, no Afeganistão, no qual a arma usada foi um drone, e que resultou em quatro
civis mortos.
Os
representantes britânicos na ONU tentaram defender o uso de drones em situação militar, dizendo que esse
sistema de armas aéreas é controlado por pessoal no solo e, portanto, não é
“autônomo” ou robótico – status que os tornaria armas ilegais, na opinião
da maioria dos especialistas em legislação de guerra. O Reino Unido não tem
planos para substituir os drones pilotados por controle remoto por armas
autônomas, disseram os britânicos; e que o uso de aviões não tripulados, pela
Real Força Aérea, está submetido às mesmas estritas regras militares sob as
quais operam os jatos pilotados de combate.
Mas vários
países questionaram a legalidade desse tipo de arma. A Venezuela definiu os drones como “flagrantemente ilegais” e disse que,
conforme informações que o país tem, já morreram 1.800 pessoas por causa desse
tipo de arma – das quais apenas 10% seriam “indivíduos-alvos”. Para o
representante da Venezuela, “é um tipo de punição coletiva”.
Para o
Brasil, é preciso traçar limites para os alvos potenciais de ataques por drone.
Se, em determinada região, houver
simpatizantes de grupos terroristas, isso não deve implicar que seria “justo”
matá-los, exclusivamente porque simpatizam com determinado grupo e suas causas;
nem suas opiniões os tornariam alvos legítimos para ataques por drones e para mais matanças. De fato, essas são
questões ainda não mapeadas. Estamos em águas desconhecidas.
A China,
que normalmente se mantém à margem das questões internacionais mais
contenciosas, disse que os drones são
(...)
página em branco na legislação
internacional, e esse vácuo fica exposto a abusos (...). Temos de respeitar os
princípios da Carta da ONU, a soberania dos estados e os direitos legítimos de
todos os cidadãos de todos os países.
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