segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Análise mostra Partido Democrata dos EUA totalmente envolvido com a Indústria da Espionagem nas Comunicações

27/10/2013, Noor Jaisal entrevista Thomas Ferguson (vídeo TRNN )
Transcrição traduzida por João Aroldo


Bem-vindo a The Real News Network. Eu sou Noor Jaisal em Baltimore.

Bush e Cheney podem ter inventado, mas os líderes nacionais do Partido Democrata são jogadores exímios no estado nacional de vigilância do século 21. E as pressões de grupos de interesse que agora ajudam a sustentar os seus defensores em Washington funcionam tão poderosamente tanto sobre os democratas quanto os republicanos. Isso é de acordo com Thomas Ferguson, Paul Jorgensen e Jie Chen. Eles acabaram de postar uma versão curta de seu novo relatório na AlterNet e um paper de trabalho para o Roosevelt Institute intitulado Party Competition and Industrial Structures in the 2012 Elections: Who's Really Driving the Taxi to the Dark Side?

Estamos agora com um dos autores, Thomas Ferguson. Ele é professor de ciência política na Universidade de Massachusetts Boston, um membro sênior do Instituto Roosevelt, e um editor contribuinte da AlterNet.

Muito obrigado por estar conosco.

TOM FERGUSON, Prof. Ciência política, University of Massachussets, Boston: Olá.

NOOR: Então, professor Ferguson, o que estamos discutindo aqui vai contra a sabedoria convencional e a narrativa oficial da eleição de 2012. Você pode resumir exatamente o que você está dizendo?

FERGUSON: Certo. Bem, nós estamos dizendo um monte de coisas, mas vou me concentrar nas coisas relacionadas diretamente ao estado de vigilância nacional. Começamos tentando simplesmente fazer uma análise direta de dinheiro na política na eleição. Agora, eu digo isso plenamente consciente da ironia, porque não há nada de direto nisso.

Nós não usamos dados de ninguém. Eu baixo tudo da Comissão Eleitoral Federal (Federal Election Commission) e da Receita Federal (IRS), que faz as chamadas 527 contribuições, que são grandes - é um monte de dinheiro. E, então, passamos uma espécie de peneira e aplicamos várias técnicas de computador que ninguém aplica. Quer dizer, eu já falei sobre isso antes neste programa - não sinto particularmente a necessidade de fazê-lo novamente.

E então estávamos sentados, sabe, analisando. E nossas primeiras fases do estudo são praticamente as mesmas. Você meio que senta lá e tenta descobrir, ok, vamos pegar toda a comunidade empresarial, então vamos dividi-la em grandes empresas e o resto e ver essas duas amostras, uma das empresas em geral e a outra de grandes empresas. Então, fazemos isso.

E quando olhamos a amostra das empresas em geral, o que descobrimos é simples, o apoio a Obama nesse segmento não era muito forte. Apenas contando percentuais de empresas que contribuíram, cerca de 24% o fizeram. O percentual republicano para Romney era, tipo, 46% - muito maior.

E quando olhamos para a amostra de grandes empresas, encontramos, sabe, mais uma vez a desproporção entre republicanos e democratas, embora desta vez tudo mudou.

Ou seja, 76% das grandes empresas de negócios em nossa amostra estavam contribuindo para Romney, e cerca de 56% para Obama. Agora, você sabe, o que isso parecia para nós foi a história de sempre, que é, sim, os republicanos são o partido das grandes empresas, embora, pensamos que isso era realmente muito interessante. E esse é um lugar onde começamos a nos afastar da narrativa costumeira. Obama tinha um grande apoio das grandes empresas, muito mais do que qualquer discussão sobre a campanha que eu conheço poderia sugerir.

Mas onde a história ficou muito interessante para nós foi quando fizemos o nosso movimento habitual, que foi começar a olhar para partes da comunidade empresarial, geralmente setores em primeiro lugar. E lá descobrimos rapidamente que o apoio a Obama de certas indústrias está muito maior do que a média. E essas indústrias são seis, em especial: telecomunicações, eletrônica, defesa, software na web, computadores e fabricação para a web.

Em junho de 2013, quando saíram as revelações de Snowden, você sabe, a partir de Glen Greenwald & Cia. no The Guardian e, até certo ponto, no The Washington Post, nós estávamos olhando para estes resultados e dissemos, “sabe , isso é realmente muito interessante”. Esses setores que estão mostrando porcentagens extremamente altas de contribuição para Obama são justamente os setores em que um grande número dessas empresas que são mencionadas são ativas realmente. E nesse ponto, você sabe, nós sabemos que temos uma conclusão muito interessante, que muitos dos bastiões de apoio a Obama, talvez a maior de todas, são precisamente essas empresas, as responsáveis pela vigilância - deveria dizer, os setores em que essas empresas predominam. Por outro lado, eu também posso dizer, sem tentar ir empresa a empresa, um monte de gente discutiu no The Guardian e em outras publicações, Google, Facebook, Apple, por exemplo, todos eles contêm contribuições substanciais ou colaboradores, porque você pode ter tanto as empresas quanto os executivos contribuindo de acordo com nossas regras nestes dias. Eles aparecem para os democratas em quantidades substanciais.

NOOR: E como você aponta, muitos simpatizantes de Obama estavam esperando que o presidente Obama fosse frear você sabe, o que poderia ser visto como a vigilância desenfreada e as escutas telefônicas nos anos Bush-Cheney. Então, o que precisa ser feito para colocar as rédeas nessas empresas e algum tipo de controle?

FERGUSON: Sabemos pelo excelente livro de Tim Shorrock sobre este assunto que constantemente a partir da era Reagan, o governo privatizou mais e mais operações de inteligência. E, você sabe, o pessoal de Clinton foi muito grande nisso. Mas, então, o tipo de grande mudança é depois do 911. Todo o tipo de operação recém-privatizada, então aumenta enormemente. E por isso estamos a ponto de agora, digamos, assim, dois terços de todos os gastos de inteligência, as estimativas de Shorrock, vão para o setor privado.

E, você sabe, eu tenho que dizer, considerando o passado, isto se parece com uma enorme quantidade de outros esforços de privatização que eu vi, onde começa uma política de clientela. E, certamente, há pressões de grupos de interesse poderosos. Se você olhar - quero dizer, há alguns estudos - há pelo menos um estudo da emenda que quase passou na Câmara dos Deputados, não muito tempo após as revelações iniciais para conter a NSA, e eles mostravam que houve - a correlação entre os distritos e defesa e que eles estavam chamando dinheiro do setor de vigilância, o que provavelmente é mais restrito do que o que eu sou, era muito elevado. E é - isso é muito interessante e é muito assustador.

Mas a minha opinião é que o tipo real de interesses industriais aqui é agora muito profundo muito grande. E o que parecia ser um problema de ideologia, ou seja, o que políticos líderes ou burocratas achavam que era legal ou moralmente aceitável é apenas a ponta do iceberg. Agora você tem um enorme problema de grupos de interesse.

Mas penso eu que isso coloca a questão de controle novamente. Quer dizer, parece bastante óbvio para mim, olhando agora de novo em tudo isso com olhos mais atentos, que é óbvio que, quando Obama chegou, sim , como você disse , nós todos esperávamos que ele iria frear a espécie de superestado nacional de vigilância prolongada da era Bush-Cheney , em vez disso o que ele fez foi corrigir alguns erros mais graves, mas nós sabemos que ele estava de fato secretamente expandindo o que estava acontecendo sob a vigilância. 

O governo até mesmo estava se oferecendo para pagar parte dos custos das empresas, quando eles tiveram que mudar o seu equipamento, o que naturalmente torna absurdas suas negações de que eles não sabiam de nada. E o que há é, eu diria - muito assustador, certo? Quero dizer, você tem um governo que quer coletar quase tudo sobre você, trabalhando com empresas que também gostam dessa ideia. E, o que de fato eles gostariam de fazer é vender essas informações. Este é um tipo de circuito fechado.

Isto é - você sabe, eu não diria que esse era problema principal. Você sabe, eu fui, claro, como um monte de outras pessoas, ingênuo.

NOOR: Então, Thomas Ferguson, nós certamente temos muito o que falar, mas nós vamos terminar esta parte da conversa. Muito obrigado pela sua participação

FERGUSON: Obrigado.

NOOR: Obrigado pela participação na Real News Network.


Fim da entrevista.

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