quarta-feira, 11 de julho de 2012

China-2012: “Aproveitar a força dos mercados”


Atualizado: 10/7/2012 às 8h07’, Chi Fulin, China Daily, Pequim
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Chi Fulin é presidente do Instituto China para Reforma e Desenvolvimento, de Hainan.

Chi Fulin
O crescimento econômico da China tem-se mantido alinhado a uma economia de mercado. Mas, embora o arranjo institucional de transição tenha contribuído para o crescimento econômico da China, ainda continua dependente de forças burocrático-administrativas e de governo e não retribui ao mercado como se deve esperar que retribua; tampouco tem dedicado suficiente atenção ao desenvolvimento equitativo e sustentável. 

Sem mudanças no status quo, dificilmente o mercado conseguirá cumprir sua função fundamental na alocação dos recursos do país; e, sem isso, a China não conseguirá modificar um modelo de economia há muito tempo fixado, caracterizado pela expansão quantitativa. 

Para acelerar a transformação de seu modelo há muito tempo controverso de desenvolvimento, e começar a andar por uma trilha de desenvolvimento equitativo e sustentável, a China deve abandonar seu modelo de desenvolvimento econômico conduzido pelo governo, e acelerar a conversão da economia chinesa, há muito tempo esperada, em economia dirigida pelo consumo. 

Diferente dos EUA e dos países europeus, a economia chinesa manterá a tendência de crescente desenvolvimento ainda por longo período, se liberar a enorme demanda reprimida no país. Estima-se que o consumo doméstico na China subirá, de 16 trilhões de Yuan (US$2,5 trilhões) em 2011, para 50 trilhões em 2020. Esse considerável aumento no consumo doméstico servirá de base para uma taxa de crescimento de 8% na próxima década. 

Mas, para liberar esse potencial, é preciso introduzir mudanças nas instituições de mercado hoje vigentes, e criar melhor ambiente para uma economia comandada pelo mercado. 

Estatísticas mostram que a contribuição do consumo final no crescimento da economia caiu, de 62,3% em 2000, para 47,4% em 2010; simultaneamente, o consumo doméstico caiu, de 46,4% para 33,8%. Uma das razões fundamentais pelas quais a China conseguiu manter seu rápido crescimento econômico nesses dez anos foi a atenção que as autoridades governamentais dedicaram a puxar a economia mediante fortes investimentos. Mas esse modelo acentuou os desequilíbrios na distribuição da renda nacional. O modelo também afetou negativamente a inclinação das pessoas a gastar, contendo também a capacidade de consumo doméstico e o crescimento econômico nacional. 

Simultaneamente, o modelo de crescimento puxado por investimentos inegavelmente pendeu na direção do desenvolvimento de indústrias pesadas, em detrimento do setor de serviços. Resultado disso, a estrutura de oferta e demanda não conseguiu adaptar-se ao rápido crescimento da demanda doméstica por produtos e serviços públicos, o que agravou os desequilíbrios e a baixa sustentabilidade. Para resolver esses problemas, o governo está alterando sua abordagem do desenvolvimento e promovendo uma transição: de modelo de desenvolvimento puxado por investimentos, para modelo de desenvolvimento puxado pelo consumo. 

A China tem imenso potencial, não só de consumo, mas também de investimento. Prevê-se que o ritmo de urbanização do país e a proporção de seu setor de serviços aumentarão 10-20 pontos percentuais ao longo da próxima década. Não obstante o papel crucial que tem na manutenção do crescimento econômico de curto prazo, o investimento só será força motriz do desenvolvimento econômico chinês se se adaptar à estrutura da demanda social, hoje em mutação. Para isso, o país deve integrar suas atividades de investimento – nessa transformação para a economia puxada pelo consumo. 

Só em sistema de pleno livre mercado alcançar-se-ão essa estrutura econômica transformada e uma estrutura otimizada de investimento. Dependência excessiva de investimentos, o consumo de energia e a excessiva priorização assegurada às indústrias pesadas resultaram em distorção na estrutura de investimentos do país, o que torna essa estrutura incapaz de adaptar-se à estrutura da demanda social, que está hoje em mutação. 

O crescimento puxado pelo governo comprovou-se insustentável, porque é dependente de forças e meios burocrático-administrativos. A China, baseada nas mudanças agora emergentes na estrutura de sua demanda social, deve permitir que as forças do mercado operem livremente; para isso, deve ajustar e otimizar sua estrutura de investimentos e tentar criar condições de longo prazo para que se desenvolva uma economia puxada pelo consumo – mantendo limitada a escala dos investimentos. 

A distribuição de recursos feita por forças da administração, que são manipuladas, resulta em desperdício de recursos. O preço super arrochado da terra, dos recursos, do capital, do trabalho e de outros elementos da produção inevitavelmente alimentará impulsos para investir e conterá o consumo popular. Mais importante, causará também má distribuição dos recursos nacionais e fará cair o consumo doméstico. Essa situação, se persistir, levará inevitavelmente à precarização das forças de mercado. 

As experiências econômicas em curso na China ao longo dos últimos 30 anos indicam que as forças do mercado, não as forças burocrático-administrativas e de governo, sustentarão, no futuro, o crescimento econômico nacional chinês.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.