18/7/2012, Russia Today – Entrevista com Ali Rizk
Tradução realizada pelo pessoal da
Vila Vudu
Uma subcomissão do Senado dos EUA
descobriu que o banco britânico gigante HSBC transferiu dinheiro a um banco
saudita sobre o qual pesam suspeitas de laços com organizações terroristas entre
as quais al-Qaeda. A Arábia Saudita não comentou as conclusões da
subcomissão.
Para Ali Rizk, especialista em
Oriente Médio, em entrevista a Russia Today , o que
aquela subcomissão descobriu força o Oriente Médio a repensar a relação amistosa
que mantém com a Arábia Saudita.
Relatório publicado pela
Subcomissão Permanente de Investigação comprovou que o Banco HSBC repassou
fundos para o Banco Al-Rajhi, saudita, que inúmeros relatórios oficiais e
matérias de imprensa já denunciaram, por manter laços com organizações
terroristas, dentre as quais a al-Qaeda. O principal executivo do HSBC depôs
ante aquela subcomissão ontem, 3ª-feira, e pediu desculpas por não ter impedido
aqueles repasses. O diretor do departamento jurídico do HSBC [orig. HSBC’s Head of Compliance], David
Bagley, disse que estava pedindo demissão. Mas, até agora, nem a Arábia Saudita
nem o Banco Al-Rajhi responderam às acusações da subcomissão.
Russia Today: O relatório denuncia o
Banco Al-Rajhi, saudita, o maior banco do mundo muçulmano, como
patrocinador de atividades terroristas. O que significa isso?
Ali Rizk: Acho que a raiz de tudo é o
fato de a Arábia Saudita ser o principal exportador do que se pode chamar de
Islã radical, o islamismo que manchou a essência do islamismo, que é a
moderação.
RT: De que tipo de grupos
terroristas estamos falando?
AR: Estamos falando de extremistas
wahhabitas, os mesmos que estão provocando a violência na Síria, os mesmos que
foram mandados para a Chechenia, grupos no Uzbequistão. Alguns membros da
família real saudita também contribuem para manter a al-Qaeda. Bandar bin
Sultan, ex-embaixador saudita em Washington, por exemplo, encontrou-se várias
vezes com Osama bin Laden. Estamos falando, portanto, de grupos extremistas
sunitas. O papel dos sunitas no financiamento à rede al-Qaeda e a extremistas
ativos no Iraque é muito bem conhecido. Mais importante que isso, acho que esse
relatório lança nova luz sobre a aliança entre a família real saudita e alguns
países ocidentais. As recentes descobertas da subcomissão do Senado dos EUA
aumenta a pressão sobre governos ocidentais, para que mudem suas políticas.
Claro que a Arábia Saudita é considerada aliada. Mas muita gente já especula
que, muito provavelmente, é chegada a hora de vários governos ocidentais
reconsiderarem essa posição.
RT: Por que reconsiderariam?
AR: Em primeiro lugar, porque há hoje
os levantes populares, que também pressionam os governos de EUA e Grã-Bretanha.
Até o presente, a Arábia Saudita nada fez na direção de reformas políticas.
Outro motivo é que a Arábia Saudita é a principal fonte desse extremismo que
leva a aumentar as medidas de vigilância e prevenção em países como EUA e
Grã-Bretanha. Nesses e noutros países, entendo que as pessoas estão mais bem
informadas, hoje, sobre o que a Arábia Saudita realmente representa. Não é
difícil entender que os EUA podem estar sendo empurrados para um impasse. A
própria Hillary Clinton disse recentemente que estão combatendo o wahhabismo.
Não é difícil ver que há já alguma divergência bem clara entre o ocidente, de um
lado; e a Arábia Saudita, de outro. Ainda não alcançou nível crítico de impasse,
mas creio que esse relatório e outros desenvolvimentos semelhantes aumentarão a
pressão sobre os EUA e outros governos ocidentais.
RT: O senhor espera alguma reação
de Riad, sobre o relatório da Subcomissão?
AR: Acho que não haverá qualquer tipo
de desculpas. No meu modo de ver, a Arábia Saudita está agindo irracionalmente.
A Arábia Saudita está irracionalmente apavorada, ante o que aconteceu no Iraque;
os xiitas ali, com o primeiro-ministro Nouri al-Maliki. No Líbano, está o
Hezbollah. E a influência do Irã está aumentando. Essas são as razões pelas
quais a Arábia Saudita está tão empenhada em derrubar Bashar al-Assad, porque os
sauditas o veem como figura de peso do eixo xiita. Entendo que o que estamos
vendo hoje em Damasco é uma resposta da Arábia Saudita à crescente influência do
Irã.
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