19/7/2012, Pepe Escobar,
Asia Times Online – The Roving Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Pepe Escobar |
É, literalmente,
bomba. Que tipo de ator espertíssimo consegue a preciosa autorização da
segurança necessária para invadir, interromper e detonar uma reunião no prédio
da Segurança Nacional em Damasco – matando o Ministro da Defesa Dawoud Rajha e o
Vice-Ministro Assef Shawkat, cunhado de Bashar al-Assad?
Ninguém sabe com
certeza o que de fato aconteceu. A Reuters disse que foi um homem-bomba,
que trabalharia como guarda-costas do círculo mais íntimo de Assad. A Agência France-Presse noticiou que foi ato de um
homem-bomba, que se autoexplodiu. O jornal Al-Akhbar
de
Beirute noticiou que a bomba foi plantada no prédio. O mesmo disse a rede Al-Manar de televisão libanesa – que
noticiou até o peso da bomba: 40kg.
Quer dizer... Quem
foi? A CIA? O MI6? A inteligência saudita? A inteligência turca? Ou o diabo
velho, tão conhecido, tão prestativo, a al-Qaeda?
Hillary Clinton |
A secretária de Estado dos EUA
Hillary Clinton, há cinco meses, em surto de desmentir sem desmentir e de fato
admitindo, disse que Washington estava trabalhando em aliança com a al-Qaeda na
Síria, apoiando do Exército-diz-que-livre-mas-nada-Livre Sírio (Free Syrian
Army, FSA).
[1]
E lá estava Hilária “Viemos,
vimos, ele morreu” Clinton outra vez, há apenas 10 dias, ameaçando que ainda
haveria “uma chance de salvar o estado sírio de um assalto
catastrófico”.
[2]
Houve
idêntica ameaça-profecia, da mesma fonte, poucos dias antes de Muammar Gaddafi
ser preso, torturado e executado. Como Clinton teria adivinhado que haveria
“assalto catastrófico”?
O Exército Sírio
Livre – da toca turca onde se esconde – apressou-se a reivindicar a autoria do
atentado: um dispositivo explosivo improvisado (DEI) [ing.
improvised
explosive device (IED)] teria sido
plantado na sala. Nada de homens-bomba. Mas o Exército Sírio Livre só faz
mentir, sem parar, há meses. Seja como for, o porta-voz do ESL Qassim Saadedine
insiste que a explosão teria sido “o vulcão” que, dias antes, eles haviam
prometido detonar.
Muito mais
interessante, paralelamente, é o grupo
Liwa
al-Islam
(“A
Brigada do Islã”) informar, pela página Facebook, que “acertou a célula chamada
sala de controle de crise na capital Damasco”. Seria a conexão à moda al-Qaeda.
Nesse caso, de onde estão obtendo as informações de inteligência? Dos seus bons
camaradinhas, a CIA?
É hora de enrolar
esses
canolis
A
saga da família Assad é roteiro comprado a metro para “O Poderoso Chefão IV”,
como lembrado na discussão coletiva de um blog de política internacional, antes
da explosão. [3]
Bashar al-Assad ao centro, com Hassan Turkmani, à
direita, em 2005. Turkmani morreu na explosão de bomba em 18/7/2012, juntamente
com Assef Shawkat, cunhado de Assad e Rajha Dawoud, Ministro da Defesa. Foto:
Sana / AP |
O cunhado de Assad,
general Assef Shawkat, era brucutu da segurança – considerado o homem que
realmente manda em Damasco. Nasceu numa família de beduínos pobres, que se
instalou em Tartus – onde a Rússia mantém sua base naval. Shawkat foi comandante
de uma brigada especial durante o massacre de Hama de 1982 – cujas vítimas
foram, quase todas, membros da Fraternidade Muçulmana Síria.
Bouchra e Shawkat
tiveram de fugir para Roma, e obrigar a família Assad a encarar o inevitável; O
patriarca Hafez acabou por abençoá-los os dois, e afinal se casaram. Hafez então
encarregou Shawkat de preparar Bashar para ser presidente. De 1998 em diante, os
dois tornaram-se realmente muito próximos. Assim aconteceu de Shawkat tornar-se
o homem mais poderoso da Síria. Inevitavelmente, logo irrompeu outra rixa de
sangue – dessa vez envolvendo Maher, irmão caçula de Bashar e comandante da 4ª.
Divisão, que chegou a atirar contra Shawkat (que foi hospitalizado em
Paris).
Os telegramas de
WikiLeaks mostraram o quanto Shawkat era íntimo do
establishment
francês de
segurança. [4]
Mostraram também
que Shawkat era encarregado de tudo que tivesse qualquer relação com os contatos
de segurança entre EUA e Síria. Shawkat, portanto, não era
exatamente
persona non
grata
em Washington:
Shawkat era um dos “nossos
filhos-da-puta”.
O
ponto-chave é que desde que se tornou presidente, em 2000, Bashar sempre
apoiou-se dependeu e confiou em Shawkat. Foi o Richelieu de Bashar – embora sem
qualquer base popular, nem o apoio da elite alawita.
Aí pode estar a
chave do que virá. Muitos, no círculo mais próximo de Assad, faziam furiosa
oposição a Shawkat. Agora, sem ele, a coisa em Damasco pode rapidamente andar na
direção de um golpe branco – com algum íntimo que tome a iniciativa de
“decapitar” Assad para manter-se no poder. Um cenário mais ou menos assemelhado,
em versão síria, do que se viu no Egito, nas relações Hosni Mubarak/SCAF (Egypt's Supreme Council of the Armed
Forces/Conselho Supremo das Forças Armadas do Egito).
Nada
como o som de um Dispositivo Explosivo Improvisado ao
despertar
Ainda não se sabe o
que Moscou dirá sobre tudo isso. Fecharam-se as apostas. É crucial examinar o
que o presidente russo, Vladimir Putin, dirá ao Primeiro-Ministro turco Recep
Tayyip “Assad tem de sair” Erdogan – do gênero “nem tente começar a ter ideias
doidas”.
O que parece indubitável é que o
círculo íntimo de Assad não cederá. Ao contrário: responderá a ferro e fogo – de
armas leves e tanques. Já ameaçaram “responder a todas as formas de terrorismo e
decepar qualquer mão que agrida a segurança nacional”. [5]
O Exército Sírio
Livre e gangues a ele associadas confiam todos na mesma tática: entrincheirar-se
em bairros residenciais, também na capital Damasco, e esperar que o regime
ataque. A tática do regime é monolítica: limpar qualquer terreno, mesma super
urbano, onde quer que haja ação das gangues. O resultado é inevitável: vasto
“dano colateral” e deslocamento interno massivo. Pode já estar acontecendo
também em Damasco – assumindo-se que o ESL consiga manter ativas as células
adormecidas, o que não pode.
E há ainda
a
love
story
recém
descoberta, amor bandido, entre o ocidente e os homens-bombas.
Keith Urbahn, ex-chefe do
Estado-Maior de Donald Rumsfeld no Pentágono, tuitou que “dessa vez, sim, se pode
chamar um homem-bomba – o que matou boa parte do gabinete de Assad – de
mártir”.
[6]
Não interessa o que
não combina (não foi homem-bomba, mas um DEI). Fato é que aí se ouve a coisa –
diretamente de fonte neoconservadora “da pura” (repetido também por outras puras
fontes conservadoras e nem-tão-conservadoras).
Se você emprega
homens-bombas para assassinar altos funcionários de “estado bandido”... OK. Você
pode. Você é automaticamente nomeado “um dos nossos filhos-da-puta”.
Mas
nem tente fazer o mesmo contra a Zona Verde em Bagdá, ou contra o governo afegão
em Kabul, ou contra qualquer nos nossos aliados “confiáveis” como a Casa de Saud
ou o reizinho-de-Playstation na Jordânia.
Se
fizer, você é automaticamente nomeado “terrorista do mal”.
Notas de rodapé
[1]27/2/2012, CBS em: “Clinton:
Arming Syrian rebels could help al Qaeda”
[2]8/7/2012, Reuters em: Clinton: Syria must end violence to avoid “catastrophic assault
[3]16/6/2012, Gatestone Institute, em: “The Call: A New Blog”
[2]8/7/2012, Reuters em: Clinton: Syria must end violence to avoid “catastrophic assault
[3]16/6/2012, Gatestone Institute, em: “The Call: A New Blog”
[4]5/9/2005, WikiLeaks, no Telegrama confidencial
05PARIS6580,
[5] 18/7/2012, The Guardian,
em: “Syria
crisis: Three of Assad's top chiefs killed in rebel bomb
strike”
[6] 18/7/2012, Twitter,
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