Dilma Rousseff e José Mujica |
Publicado
em 05/07/2012 por Mair Pena
Neto*
De
todas as manifestações sobre o ingresso da Venezuela no MERCOSUL, a mais lúcida
e transparente me pareceu a do presidente uruguaio José Mujica, que a
classificou como resposta ao Congresso paraguaio, que destituiu o presidente
Fernando Lugo, e ao surgimento de novos elementos
políticos.
Política
é a palavra chave. O MERCOSUL e a UNASUL não são apenas blocos de interesses
comerciais. O mundo não se guia apenas pelo comércio ou pela economia. As
tentativas neste sentido estão aí, palpáveis, com a crise de gigantescas
proporções que assombra o mundo. Parafraseando o assessor de campanha de
Clinton, James Carville, que cunhou a famosa expressão “É a economia,
estúpido!”, para destacar o impacto da saúde econômica nos resultados
eleitorais, diria que “É a política, estúpido!” quem precisa orientar decisões
de governos que desejam se manter soberanos.
O
que Mujica buscou dizer é que o MERCOSUL corria risco com a ascensão do governo
ilegítimo do Paraguai, que ameaçava contaminar o bloco ao ignorar suas gestões
em prol da legitimidade democrática naquele país. A decisão do ingresso da
Venezuela no MERCOSUL foi tomada em 2006, mas o Senado paraguaio, cujo caráter o
mundo todo conheceu no processo sumário de deposição de Lugo, vinha impedindo
sua consolidação.
Pelo
aspecto puramente comercial, não havia como rejeitar o ingresso venezuelano, já
que o tamanho de sua economia e sua riqueza petrolífera só contribuiriam para
fortalecer o bloco e seus projetos de integração. A barreira imposta pelo Senado
paraguaio era política. A mesma que se viu por aqui entre forças minoritárias no
Congresso nacional. No avanço de setores progressistas na América do Sul, o
Congresso paraguaio ficou como bastião conservador, uma espécie de UDN ou DEM ao
sul do continente.
O
golpe “constitucional” contra Lugo, que ficou isolado em meio às forças
retrógradas do país, foi também um golpe contra o MERCOSUL e a UNASUL, que
precisavam reagir politicamente à ameaça. E o fizeram de forma clara, dentro dos
princípios de respeito à democracia que regem os grupos. O Paraguai foi suspenso
- no âmbito do MERCOSUL sua expulsão jamais foi cogitada - e a Venezuela
admitida, como desejavam Brasil, Argentina e Uruguai, que foram unânimes em
aprovar seu ingresso.
Mujica
conta que na reunião entre os presidentes dos três países surgiram os “novos
elementos políticos”, que evidenciaram que “o político superava largamente o
jurídico”. O presidente uruguaio se referia a marcos iniciais do MERCOSUL, que
remetem à hegemonia neoliberal dos anos 90 e que ficaram para trás. O MERCOSUL e
a UNASUL precisam refletir os novos tempos no continente. E eles vão muito além
das relações comerciais, preocupando-se também com infraestrutura,
industrialização, defesa, finanças e saúde, entre outros.
Essa
nova concepção se fundamenta na visão de governos progressistas, que se tornaram
majoritários no continente, e precisam estar unidos e atentos para evitar
retrocessos, como o que se viu em Honduras, como o que acaba de acontecer no
Paraguai e que foi tentado, sem sucesso, na Bolívia e no
Equador.
Mair
Pena Neto*é jornalista, carioca e
trabalhou em O Globo, Jornal do Brasil, Agência Estado e Agência Reuters. No JB
foi editor de política e repórter especial de economia.
Enviado
por Direto da
Redação
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