Publicado
em 12/07/2012 por Urariano
Motta *
Recife
(PE) - Seis
anos depois dos crimes contra os pobres em São Paulo, com mais de 600
executados, as mães das vítimas ainda esperam justiça. Vale a pena recuperar um
pouco aqueles dias.
Nas
fotos do terror em São Paulo de 2006, nas primeiras páginas dos jornais não
aparecia um só morto. De um só bandido morto, queremos dizer. Antes, no entanto,
para os mortos do bem, as fotos existiam e foram publicadas. Houve fotos dignas,
o pranto e a dor de famílias, das mulheres dos soldados mortos em combate. Era
natural, era justo. “Por
teu endurecimento, por teu coração impenitente, acumulas contra ti um tesouro de
cólera para o dia da cólera, no qual se revelará o justo juízo de Deus, que
retribuirá a cada um segundo as suas obras”, dizia o outro São Paulo,
na Epístola aos Romanos.
Nos
registros de 18 de maio de.2006, noticiavam-se 120 mortos do mal, do lado do
mal. “A
reação da polícia aos ataques está sendo adequada”, responderam
em pesquisa de O
Globo 80% das pessoas. Com isso declaravam também que a reação
do policial quando matava bandido era justa, boa, urgente e necessária. Era uma
reação ditada pela moral e abençoada por Deus. Se uma parte ruim invadia o
organismo, ela deve ser jogada ao fogo. O princípio universal do contraditório,
de ouvir o outro lado, ontem e hoje nos jornais do Brasil não
havia.
Na
gênese das primeiras páginas dos jornais de São Paulo em 2006, tudo começara
como uma resposta dos líderes do PCC contra a transferência dos seus para
cárceres isolados. Então os delinquentes ordenaram, e quase todos presídios se
rebelaram, e os ônibus foram queimados, policiais mortos, e o maior crime,
queimaram agências de bancos. Bandidos contra o patrimônio, que sendo de bancos,
seria público. São Paulo parou, como raras vezes na sua história, a maior cidade
da América Latina parou. Por criminosos, toda a cidade esteve dominada. Um
terror conforme a lei de bandidos. Os ratos escuros, a desordem oculta subira
dos esgotos da metrópole. Isso exigia uma resposta urgente do poder público.
Ninguém podia viver sob o terror.
Naquele
instante, a imprensa brasileira mostrou como se usam as palavras, de costas para
a realidade das praças e das ruas. Os policiais mortos pelos bandidos eram
“vítimas”. De fato, eram vítimas. No entanto, os mortos que não eram da polícia
se chamavam “suspeitos”. Executados à bala. Na hora do pânico, com a maior das
tranquilidades, eram executados suspeitos! Com esta lógica:
(1) o
policial tinha que se precaver
(2) ele
sabia onde estavam os suspeitos;
(3) não
havia tempo para investigações;
(4) fogo no
suspeito
Se
os suspeitos não éramos nós, se os suspeitos não eram os nossos filhos, que mal
havia se entre dez bandidos uns cinco fossem mortos por hipótese? Fazia parte de
uma lógica ainda mais infernal: os mortos, se não eram bandidos, mais cedo ou
mais tarde iriam ser. Era um trabalho profilático, de saudável e científica
prevenção. E sabem por que iriam ser da turma do mal, com vírus cortado em pleno
desenvolvimento? – Eram jovens e negros os suspeitos. Eram moradores dos
subúrbios periféricos os mortos. Se não creem no que escrevemos até aqui, leiam
o que dizia o escritor Férrez, que morava num subúrbio periférico de São Paulo,
em 17.5.2006 no seu blog:
Atenção
a todos os amigos.
Apelo
a todos que acompanham esse blog, que nos ajudem a dizimar o que está
acontecendo.
A
Polícia Militar e a Polícia Civil, afetadas com a onda de matança, estão fazendo
da nossa periferia um estado pra lá de nazista, já são mais de 100 ‘suspeitos’
assassinados, e nenhum deles é PCC .
Só
de colegas foram mortos 4, isso pra não contar os que estão no
hospital.
Nenhum
deles tinha passagem, por isso apelo para que divulguem a real de que o acordo
não foi feito com o povo, o povo tá morrendo, sendo baleado pelas costas, ao
entregar pizza, ao voltar para casa.
A
polícia covarde treme perante o olhar do ladrão, mas mata sem dó quem está
simplesmente voltando para casa.
Isso
é uma vergonha, e se é o trabalho deles, tá na hora da gente fazer o nosso,
reagir com cidadania, mostrando que não queremos essa
matança.
LEI
MARCIAL PARA POBRES INOCENTES FOI DECRETADA.
Ferréz
Hoje,
as notícias dessa luta podem ser vistas em: Mães de Maio
Enviado por Direto
da Redação
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