16/7/2012, Pepe
Escobar, Asia Times Online -
The Roving
Eye
Traduzido
pelo pessoal da Vila Vudu
Pepe Escobar |
Era
o momento que todos esperavam, da abertura da campanha presidencial pela
televisão, nos EUA 2012: as primeiras pegadas marcadas com sangue fresco na
trilha.
Pense cada um o que pensar sobre o
laureado Prêmio Nobel da Paz e megafazedor de guerras, presidente Barack Obama
dos EUA, o que se vê em: Barack
Obamadotcom é obra-prima, super obra-prima total, em
termos técnicos, de propaganda eleitoral por televisão. Vejam e ouçam. Merece o
Oscar, para começar, de trilha sonora e edição de som:
Pode
haver algum exagero – porque o spot foi concebido para funcionar como um
míssil Hellfire compactado e gerar o
impacto máximo; mas tudo o que o spot propagandeia é fundamentalmente
correto. O candidato dos Republicanos e cyborg peso-pesado da grande
finança, Mitt Romney, fez a vida na prática de exportar empregos e, claro,
contribuiu muito fortemente para fazer aumentar as taxas de desemprego no país.
Não há tema mais sensível em ano eleitoral, nos EUA.
Em
resposta frenética, Romney só faz repetir que jamais foi responsável por coisa
alguma, porque já deixara a presidência de sua empresa Bain & abutres do
capital (foi um dos cofundadores), no momento em que “aquilo” aconteceu.
Não.
Não é verdade. Páginas independentes na internet, como Mother Jones e
Talking Points Memo seguiram a história – e até a grande
mídia-empresa noticiou sem reservas. Aqui, os principais excertos do que o
Boston Globe publicou:
Documentos
oficiais, preenchidos por Mitt Romney e pela empresa Bain Capital, comprovam que
Romney permanecia como presidente e principal executivo, três anos depois da
data em que Romney disse que teria deixado os cargos na empresa; e que,
inclusive, criou cinco novas parcerias de investimentos durante o período
“extra”.
Romney
disse que deixara a Bain em 1999, para presidir os Jogos Olímpicos de Inverno
em Salt Lake
City , quando se teria separado completamente da empresa. Mas
documentos da Comissão de Derivativos e Câmbio, apresentados depois daquela data
pela empresa Bain Capital, comprovam que Romney continuava a ser “único
acionista, presidente do Conselho, presidente e principal executivo da empresa”.
Além
disso, um formulário financeiro que Romney preencheu em Massachusetts em 2003
também comprova que, em 2002, ele continuava a ser proprietário de 100% do
capital da Bain Capital. E a declaração de bens de Romney mostra que, em 2001 e
2002, ele ainda recebia pelo menos $100 mil dólares/ano, como “executivo” da
empresa Bain, além dos dividendos dos investimentos.
O momento em que Romney desligou-se
da empresa Bain é importante, porque o próprio Romney declarou que, a partir de
fevereiro de 1999, quando se teria desligado das empresas, teria deixado de ser
responsável por empresas do conglomerado que falissem ou demitissem.
[1]
Tradução
(caso alguém precise): o candidato Republicano, que aspira a ser o próximo
presidente dos EUA, mentiu.
Não
sou vigarista (retroativamente considerado)
Frenético,
sem rumo – à moda galinha-sem-cabeça – a campanha de Romney saiu-se com uma
resposta que já se tornou o mais recente sucesso pop do piadismo
universal: Romney “aposentou-se retrativamente”; a aposentadoria “retroagiu” a
1999, nas palavras do porta-voz Ed Gillespie.
Mas
não há qualquer sinal de que Romney tenha devolvido “retroativamente” os salário
de $100 mil dólares/ano que continuou a receber depois de já “aposentado”.
Do
ponto de vista da lei, o presidente da empresa é o responsável. Não importa que
seja gerente de meio-período, de tempo integral ou, mesmo, gerente aposentado.
Eis
o que um dos sócios de Romney na Bain Capital – de 1993 a 2007 – tinha a dizer
sobre tudo isso:
“O nome de Mitt aparecia nos documetnos como
presidente executivo e único proprietário da empresa”. Perguntado, outra
vez, se Romney era presidente da empresa Bain Capital de 1999 a 2002, o mesmo sócio
respondeu: “Legalmente, nos documentos,
sim, acho que sim”.
Também
nas palavras de seu sócio, Romney permaneceu como no cargo de presidente
executivo, enquanto negociava os termos de uma saída gorda: “Os sócios tínhamos
de negociar com Mitt, porque ele era dono da empresa”.
Temos
aí, pois, um membro certificado do 1%, que fez fortuna colossal com alavancagem
de resgates que acabaram por detonar o valor de mercado de várias empresas; que
custaram número colossal de empregos e que, afinal, corroeram a base da economia
dos EUA – enquanto Romney arrancava sumarentas comissões em cada um desses
negócios; agora, lá está ele, candidato, em campanha contra (palavras de Romney)
“a economia-Obama”, causa de todas as desgraças, ao mesmo tempo em que se
autopromove como empresário esperto, capaz de criar empregos nos EUA.
Mas
e como, de cara limpa, Mitt Romney pode(ria) garantir que não seria responsável
por nada do que aconteceu em sua empresa-abutre depois de 1999, ao mesmo tempo
em que insiste que tudo o que houve depois de janeiro de 2009, quando Obama
assumiu a presidência do absoluto desastre econômico e financeiro da
era-Bush-era, seria culpa de Obama?
E
como, de cara limpa, Romney pode(ria) jurar e rejurar que não foi responsável
pelo que aconteceu em sua própria empresa, da qual continuava a ser presidente
executivo? Que diabo de presidente seria ele, em que diabo de empresa?
Em
seguida, ao ser apanhado na mentira, o melhor que conseguiu foi repetição do
nixoniano momento “não sou vigarista”, sob a forma de blitzkrieg contra
todas as redes de televisão e de televisão a cabo nos EUA e à vista.
Para
grandes porções de eleitores nos EUA, Mitt-sonegador virou denúncia gravada em
pedra.
Legiões
de especialistas concordam que a única maneira de remediar a catástrofe seria
Romney publicar todas as suas declarações de rendas dos últimos 12 anos. Não há
qualquer sinal de que planeje fazer isso, porque, muito provavelmente, só
confirmará o que diz o spot de
campanha de Obama.
De
fato, esse míssil Hellfire político
atinge bem mais que Mitt e sua empresa Bain. Mitt Romney o cyborg sonegador e obscuro não poderia
ser mais perfeita expressão gráfica dos Masters of the Universe – os
engenheiros-chefes da destruição da economia e da classe média dos EUA, com os
ricos sempre bem protegidos, preguiçosamente, a salvo de qualquer tempestade.
Bem-vindos
a essa terra de não-livres, lar de vigaristas inalcançáveis e
impuníveis.
Nota
dos tradutores:
*Orig.
Blood on the tracks. É título
de álbum de Bob Dylan (1975). Ouve-se alguma coisa a
seguir:
Nota de
rodapé
[1]
12/7/2012, Boston
Globe, “Mitt
Romney stayed at Bain 3 years longer than he stated” [Mitt Romney
continuou a dirigir sua empresa Bain por três anos além da data que informou]
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.