Publicado
em 05/07/2012 por Urariano
Motta *
Recife
(PE) -
Há três anos, quando lancei “Soledad no Recife”, na foto com o deputado federal
Maurício Rands, eu lhe disse brincando:
-
Essa foto vai abrir as portas para mim.
Ao
que ele me respondeu, com ainda maior brincadeira:
-
Pelo contrário, sou eu que vou ter as portas abertas por
você.
E
por isso ambos rimos. Ele então era líder do PT em Brasília, um dos 10
parlamentares mais influentes do Congresso Nacional. Longe estava da tempestade
de hoje. E por isso ambos ríamos, porque era impossível adivinhar em 2009 estas
últimas horas.
Agora,
com a divulgação da sua carta, em que renuncia ao mandato de deputado federal e
à secretaria do governo de Pernambuco, ao mesmo tempo em que sai do Partido dos
Trabalhadores, duas ou três reflexões se impõem.
Na
primeira delas, vem uma pergunta: será que no jogo real, no jogo bruto,
pragmático da política, no jogo bandido de “o feio é perder”, existe algum
espaço para as convicções, para a ideologia que serve ao povo em lugar de fazer
do povo um criado?
Maurício
Rands, em sua tríplice renúncia, em vez do jogo esperto de xadrez e do cinismo
de quem em mais nada acredita, deveria ser motivo para a volta à ideia viva de
que mais vale no mandato público o uniforme de servidor do que o manto de
rei.
Aqui,
na altura em ele fala, em trechos da sua carta:
Concluí
que esgotei por inteiro minha motivação e a razão para continuar lutando por uma
renovação no PT. Percebi terem sido infrutíferas e sem perspectivas minhas
tentativas de afirmar a compreensão de que o “como fazer” é tão importante
quanto os resultados.
As
diferenças de métodos e práticas, aliás, já vinham sendo por mim amadurecidas e
acumuladas há algum tempo. Todavia, este processo recente fez com que as
divergências ficassem mais claras e insuperáveis.
Na
luta pela renovação do partido, no Recife e em outros lugares, infelizmente, têm
prevalecido posições da direção nacional, adotadas autoritária e
burocraticamente, distantes da realidade dos militantes na base
partidária...
Existiram
diversas razões que me levaram a este caminho. A mais crucial dá-se no nível da
minha consciência. Sempre agi, na vida e na política, com o maior rigor entre o
que penso e o que faço. Sempre cumpri os deveres da minha consciência.
Os
trechos acima acendem uma luz de alerta. Porque, antes dessas palavras remeterem
ao específico do PT, remetem a um sinal vermelho em outros partidos de esquerda.
Os parágrafos copiados da carta podem significar que subir ao poder é
necessário, pois que é um ideal enfim de todo partido. Afinal, ninguém está na
política para discutir a Escola de Atenas. Mas no caso de partidos de esquerda,
o poder é a oportunidade de servir à realização do bem público. Esse óbvio, tão
declarado em princípios, mais de uma vez é oculto, quando não destruído, na
prática de muitos dias. Parece haver uma zona de conforto no poder que é também
uma zona de putrefação. Longe do ardor dos anos da fase da luta, distante das
batalhas do glorioso passado, vêm bactérias, nome que em política ganha a
qualificação de militantes oportunistas, que cercam e apodrecem os mais caros
ideais.
Penso,
e quero crer, que a renúncia de Maurício Rands ao mandato, ao partido e ao
governo, deveria ser um renascer da velha esperança de que homens são um caráter
de humanidade. E por assim crer, envio daqui o meu fraterno e companheiro abraço
ao político que desce à planície, para o convívio de todos nós.
Nobre
e ex-deputado Maurício Rands, agora é claro que a foto do lançamento do livro
não nos abriu nenhuma porta. Que nos sirva então de lembrança para as próximas
batalhas.
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Direto
da Redação
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