Da série: “Não leia jornalões nem
assista à televisão brasileira”
21/7/2012, Joshua Landis,
Syria Comment
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Joshua Landis |
Joshua Landis é
diretor do Centro de Estudos do Oriente Médio e professor associado da na University of Oklahoma, EUA. Recebe
e-mails em landis@ou.edu
Os
alawitas tentarão estabelecer um estado alawita com centro nas Montanhas
Costeiras?
Muitos
jornalistas e figuras da oposição síria têm insistido em que os alawitas
estariam planejando voltar às Montanhas Alawitas, em tentativa para criar e
estabelecer estado separado. Absolutamente inverossímil. Aqui, as cinco
principais razões pelas quais não há nem haverá estado alawita.
1. Os alawitas sempre
tentaram deixar as montanhas e chegar às cidades. Depois que a França ocupou a
Síria em 1920, os primeiros sensos mostraram profunda segregação demográfica
entre sunitas e alawitas. Em nenhuma cidade com mais de 200 habitantes sunitas e
alawitas viviam juntos. As cidades costeiras de Latakia, Jeble, Tartus e Banyas
eram cidades sunitas, com vizinhos cristãos; mas não havia alawitas nas
vizinhanças. Só em Antióquia os alawitas vivem na cidade; e essa cidade foi
capital de uma região separada, autônoma, Iskandarun, que foi cedida aos turcos
em 1938. Em 1945, só se registraram 400 alawitas como habitantes de Damasco.
Desde
o fim da era otomana, os alawitas fluem para fora da região das montanhas que
acompanham o litoral, para viver nas cidades. O estabelecimento, pelos
franceses, de um estado alawita autônomo junto à costa, e o alto recrutamento de
alawitas para o exército aceleraram esse processo de urbanização e de mistura de
religiões nas cidades sírias.
A
Síria de Assad acelerou ainda mais a urbanização dos alawitas, depois que foram
pela primeira vez admitidos nas universidades, às quais chegaram em grandes
números, e em postos de serviço público, em todos os ministérios e instituições
nacionais.
2. O projeto dos
Assads para resolver o problema da divisão sectária na Síria foi promover a
integração dos alawitas como “muçulmanos”. Os Assads promoveram estado secular e
tentaram fazer desaparecer as tradições sectárias e a ideia de uma “identidade
alawita”.
Nunca
se criaram instituições alawitas para fixar ou promover alguma identidade
alawita cultural, religiosa ou qualquer outro particularismo. Os Assads jamais
trabalharam para promover qualquer coisa que se possa chamar, ainda que só por
analogia, “um estado alawita”.
Ao
contrário, os Assads recorreram ao passado, para definir os alawitas como
muçulmanos. Bashar é casado com uma muçulmana sunita, o que se integrou ao
projeto de construir nação sem diferenças religiosas que se apresentaria como
exemplo de integração. Sempre disse que seu objetivo é promover uma visão
“secular” da Síria.
3. Assad jamais tomou
qualquer medida para lançar o que pudesse ser apresentado como bases de algum
“estado alawita”. Não há infraestrutura nacional na região costeira que possa
sustentar um estado: não há aeroporto, nem usinas de energia elétrica, nem
indústrias importantes que gerem empregos locais ou qualquer instrumento para
construir qualquer tipo de economia nacional.
4. Nenhum país
reconheceria algum estado definido como “estado alawita”.
5.Talvez
mais importante que tudo isso, um estado alawita não teria como defender-se. É
possível que as shabbiha [gangues armadas] e as brigadas armadas de
alawitas [que o governo sírio diz que estão sendo armadas por estrangeiros
(NTs)] tentem voltar às Montanhas Alawitas, no caso de serem expulsos da
capital. Mas por quanto tempo poderiam permanecer lá? Tão logo os grupos sunitas
sírios se unam – o que provavelmente acontecerá, se tiver sucesso a estratégia
ocidental de criar sectarismos na luta na Síria – eles próprios se encarregarão
de por fim a qualquer resistência alawita que venha a constituir-se na Síria, ou
a forças remanescentes das gangues armadas que estão lutando nas grandes
cidades. Seja qual for o grupo que venha a dominar em Damasco e no controle do
Estado na Síria esse grupo dominará sem dificuldade qualquer resistência alawita
que se tenha já constituído ou venha a constituir-se. Terão o dinheiro e a
legitimidade, e terão apoio internacional para por fim a quaisquer
“separatismos” que se inventem na Síria. E a Síria não sobreviveria sem a costa.
Mais importante que isso, a Síria não aceitará nenhum tipo de divisão que
implique perder as cidades portuárias de Tartus e Latakia. Nenhuma dessas
cidades pode ser dita hoje “alawita” e todas as cidades costeiras continuam a
ter populações majoritariamente sunitas.
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