1/7/2012, Patrick
Cockburn, The
Independent
Traduzido pelo Coletivo de
Tradutores da Vila
Vudu
Patrick Cockburn |
A
partir do momento em que Julian Assange
conseguiu evitar a prisão, buscando refúgio na embaixada do Equador em
Knightsbridge, escapando assim de ser extraditado para a Suécia, e
provavelmente, em seguida, para os EUA, os jornalistas, colunistas e
comentaristas britânicos tornaram-no alvo da mais escandalosa agressão. Parecem
babar de ódio, enquanto repetem os mais mesquinhos “exemplos” de uma pressuposta
grosseria, pressuposto egoísmo e aparência pressuposta “péssima”, como se o que
dizem fosse verdade e, por ser escrito pelos que escrevem, como se tratasse de
crimes imperdoáveis.
O
que se lê na imprensa britânica fala, uma vez mais, muito mais do
convencionalismo e do instinto de manada dos formadores britânicos de opinião,
do que de Assange. O que passa sem ser noticiado, em toda a cobertura, é o quase
inacreditável sucesso do fundador de WikiLeaks, que conseguiu publicar
documentos do governo dos EUA, os quais, publicados, permitiram que muitos, em
todo o mundo, começassem a saber como realmente agem seus governos. Que os
eleitores conheçam, precisamente, esse tipo de fato é a alma da democracia,
porque os eleitores têm de ser bem informados, para que consigam eleger
representantes que de dediquem a fazer “governo do povo, pelo povo e para o
povo”.
Graças
a WikiLeaks, a opinião pública teve acesso a mais informação sobre o que fazem
pelo mundo os EUA e seus aliados do que nunca antes, em toda a história da
imprensa ocidental. O único momento semelhante a esse que me vem à mente foi a
publicação, pelos bolcheviques vitoriosos em 1917, de tratados secretos,
incluindo planos da Grã-Bretanha e da França, para ocupar o Oriente Médio
[1].
Julian Assange |
Paralelo
mais fácil foi a publicação dos Papéis do Pentágono, graças a Daniel Ellsberg em
1971, que revelaram as sistemáticas mentiras do governo Johnson sobre o Vietnã.
Como se fez contra Assange, Ellsberg foi massacrado pela imprensa e pelo governo
dos EUA, que o ameaçou com as mais severas penas.
Aspecto
extraordinário da campanha contra Assange é que jornalistas, colunistas e
“especialistas” sentem-se perfeitamente livres para publicar milhares de
palavras sobre alegadas faltas de Assange, sem que se leia qualquer indignação
contra os crimes de Estado, infinitamente mais graves, que WikiLeaks revelou ao
mundo.
Os
críticos e os leitores que concordam com eles deveriam, antes de falar, assistir
a 17 minutos de um filme divulgado por WikiLeaks, filmado pela tripulação de um
helicóptero Apache, sobre um bairro na parte leste de Bagdá, dia 12/7/2007.
Mostra a tripulação do helicóptero matando, a rajadas de metralhadora, pessoas
que se veem no solo, e que os soldados norte-americanos dizem supor que fossem
guerrilheiros armados. Examinando o filme, não consigo ver arma alguma. O que
teria sido tomado por arma, em mãos de um dos mortos, foi depois identificado
como câmera de filmagem que estava sendo usada por Namir Noor-Eldeen, jovem
fotógrafo da agência Reuters, morto, com o motorista também a serviço da
Reuters, Saeed Chmagh. O vídeo mostra o helicóptero voltando para um segundo
ataque, dessa vez contra uma caminhonete que parou para recolher os cadáveres e
os feridos. O motorista dessa caminhonete também foi morto, e duas crianças
foram feridas. "Há-há-há! Acertei eles!” – grita, em triunfo, um dos soldados
norte-americanos. “Olhem só os filhos da puta mortos!”
Eu
estava em Bagdá quando a matança aconteceu e lembro que, no momento, nem eu nem
outros jornalistas que lá estavam acreditamos no que o Pentágono informou, que
todos eram guerrilheiros armados. Mas não havia como provar que o Pentágono
mentira. Rebeldes armados não estariam conversando na esquina, com helicópteros
dos EUA à vista. Logo se soube que havia um vídeo da matança, mas o Departamento
de Defesa recusou-se terminantemente a divulgá-lo, nem quando se invocou a Lei
da Liberdade de Informar [orig. Freedom of Information Act]. A versão
oficial nunca pôde ser desmentida, até que o vídeo chegasse a WikiLeaks,
enviado, parece, por um soldado dos EUA, Bradley Manning. WikiLeaks publicou o
vídeo em 2010. [2]
Os
telegramas diplomáticos que chegaram a WikiLeaks foram publicados adiante, no
mesmo ano, em cinco jornais –The New York Times, The Guardian,
Le Monde, Der Spiegel e El País – mas a resposta ao
trabalho de Assange foi surpreendentemente mesquinha. Os jornalistas pareceram
ter ficado furiosos por seu campo de caça privativo ter sido invadido por um
nerd australiano, que fizera o trabalho que os jornalistas não haviam
feito. Na Grã-Bretanha, o colunariato das empresas jornalísticas é clube
notoriamente fechado, conservador e hostil a quem chegue de outros contextos
culturais, com diferentes normas políticas.
Mas
nem isso bastaria para explicar que toda a mídia planetária declarasse aberta a
temporada de caça a Assange. Para que isso acontecesse, foi preciso que
aparecessem acusações de que Assange seria autor de estupro na Suécia. Acusações
de estupro destroem qualquer reputação, por mais frágeis que sejam as provas e
mesmo que não haja prova alguma. Assange nunca conseguiu recuperar-se
completamente daquelas acusações.
Quanto
à sugestão de que ele estaria exagerando o risco de ser extraditado da Suécia
para os EUA, é parte da caçada: quem, em sã consciência se exporia a algum
acaso, mesmo que com 5% de probabilidades de deixar-se meter-se num voo para a
Suécia que poderia levá-lo a sentença de 40 anos de cadeia nos EUA?
Muitos
jornalistas e comentaristas agarraram-se ao argumento oficial de que os
vazamentos teriam “posto vidas em risco”. Esse lobby
começou a fracassar e a calar em 2011, quando funcionários do Pentágono tiveram
de reconhecer, extraoficialmente, que não havia qualquer prova de que alguém
tivesse sido ferido ou morto por causa dos vazamentos.
Bradley Manning |
Resposta
melhor seria que WikiLeaks nada revelou de realmente secreto; e que os
documentos aos quais o cabo Manning teve acesso não eram classificados como
secretos. Outro bom argumento de defesa ouvi de um diplomata dos EUA em Cabul,
onde eu estava na época da publicação. Disse ele: “Não há segredo algum a ser
divulgado por WikiLeaks, porque os “segredos” já foram vazados pela Casa Branca,
Pentágono ou Departamento de Estado, que não souberam proteger os próprios
documentos sigilosos, se fossem sigilosos”.
Na prática, os documentos
publicados por WikiLeaks são exclusivamente e vastamente informativos sobre o
que os EUA fazem e sobre o que os EUA pensam sobre o mundo no qual vivemos. Por
exemplo, há um telegrama enviado da embaixada dos EUA em Cabul, em 2009, no qual
o primeiro-ministro é descrito como “indivíduo paranoico e fraco, sem qualquer
familiaridade com o básico da construção nacional”. [3]
Especialistas
em Afeganistão comentaram que os defeitos de Karzai absolutamente não eram
segredo ou novidade para ninguém. Deixaram de comentar que ali se ouvia a
opinião de diplomatas norte-americanos experientes, falando sobre um homem que
os norte-americanos e os britânicos estavam matando e morrendo, não para tirar
do poder, mas para manter no poder.
Todos
os governos são hipócritas, em maior ou menor medida, e há grande distância
entre o que dizem em público e no privado.
Quando
o povo exige transparência democrática em ações ou políticas gerais, o Estado e
os governos fingem que enfrentam demandas por total transparência, que tornaria
inviável qualquer governança efetiva.
A
rapidez com que convertem demandas razoáveis em demandas alucinadas visa, quase
sempre, a ocultar algum fracasso ou a defender o monopólio do poder.
Karzai e Obama |
Naquele
caso, os EUA desejavam manter secreta bem mais que uma opinião negativa sobre
Karzai, principal aliado local dos EUA. O real segredo que os EUA desejavam
manter secreto é que não tinham qualquer parceiro confiável no Afeganistão e
que, portanto, a guerra contra os Talibã tinha de ser dada por antecipadamente
perdida.
Assange
e WikeLeaks não desmascararam alguma incoerência, na opinião de um ou outro
embaixador. Desmascararam a duplicidade de julgamentos para justificar a
insistência dos EUA em prosseguir guerras fracassadas, nas quais morrem dezenas
de milhares. Informações recentes mostram que esse tipo de segredo e o sigilo
oficiais, com a ajuda empenhada de jornalistas “incorporados” às tropas, muitas
vezes geram exatamente os resultados que se esperam deles.
No
Iraque, nos meses anteriores à eleição presidencial de 2004 nos EUA, muitas
embaixadas estrangeiras em Bagdá sabiam e informavam que os EUA só controlavam
porções ínfimas de território, em país hostil. Mas o governo
Bush conseguiu persuadir do contrário os eleitores norte-americanos: que estaria
combatendo e vencendo uma batalha para instalar a democracia, contra os restos
do regime de Saddam Hussein e seguidores de Osama bin Laden.
O
controle da informação pelo Estado e a capacidade de manipular a informação,
servindo-se para isso da imprensa-empresa, tornam sem sentido, na prática, o
direito democrático de votar. Por isso os povos precisam muito de gente como
Assange: para dar sentido, novamente, ao voto democrático.
Notas dos
tradutores
[1]
A publicação desses tratados secretos foi dos primeiros atos do governo
revolucionário bolchevique. Foram publicados dia 17/11/1917, por ordem de
Trotsky, então Comissário do Povo para Assuntos Internacionais. Em 26/2/1922, o
New York Times publicou matéria sobre eles em: EUROPE'S
SECRET TREATIES. Em
resumo acessível hoje dessas notícias, lê-se: “Desconfiança reina na Europa.
Rússia revela os Tratados Secretos. Confiança nos EUA segue
inabalável”.
[3] WikiLeaks
“Diplomatic Cables”, Tuesday, 07 July 2009, 13:29 - S E C R E T SECTION 01 OF 03
KABUL 001767/ SIPDIS EO 12958 DECL: 07/03/2019 / TAGS PGOV, PREL, AF SUBJECT:
KARZAI ON THE STATE OF US-AFGHAN RELATIONS – The Guardian, UK, em: “US
embassy cables: Karzai feared US intended to unseat him and weaken
Afghanistan”
HIERARQUIA
ResponderExcluirInglaterra>EUA.CIA/FBI/ Interol...>demais governos
Os ingleses são discretos e frios para encobrirem o que de fato ocorre, tal comportamento remete a outrem a atenção então vertida.
Seja a colônia que gera soldados para defender a União Européia e/ou suas cias nos demais territórios no mundo.
P Filipe rei das armas descendentes de ingleses e alemães (ligado a Reich)
P Charles demanda de petróleo nos territórios por ele chefiada
P Willian terá as armas do avô
P Harry viaja pela droga do mundo, Morro da Urca (Noites Cariocas) ao Morro do Alemão -faz alguma referência? Os traficantes aqui dizem serem soldados
Os demais membros reais atuam em negócios de Laboratórios que a permissão da maconha está pelo mundo -alucinógenos pelo mundo e tratamentos com drogas, vacinas e implantes de chips
Muito há que não foi noticiado ainda
FIQUEM ATENTOS!
Guerra silenciosa contra civis e mutantes genéticos
Os trilionários estão com taxas de juros para achatar o crescimento, daí o HAARP nos domínios climáticos
Falar a verdade não deixam aprovar os comentários, limitam as comunicações
ResponderExcluirCovardes da mídia que impedem a associação realidade e omitidas fraudes governamentais