“Ataques
no Iêmen não aumentam o apoio à Al Qaeda”
1/7/2012, Christopher Swift, Foreign Affairs (excerto)
Traduzido e comentado pelo pessoal
da Vila Vudu
Entreouvido
na Vila Vudu:
Sempre que Foreign Affairs, revista de propaganda de guerra do Conselho
de Relações Exteriores e do complexo industrial-bélico-jornalístico dos EUA,
responde a alguma crítica, pode-se ver onde esses atores pró-guerra infinita
estão-se sentindo ameaçados.
Hoje,
FA dedica-se a defender e promover – é pura propaganda – os ataques com
aviões-robôs, drones, e os assassinatos premeditados (quando o alvo é uma
determinada pessoa, o assassinato é dito signature strike [aprox. “ataque
assinado”]; a vítima é determinada pessoalmente pelo presidente Obama,
selecionada de uma kill list [aprox. “lista de matar”] que lhe é
apresentada pela CIA).
Não
há dúvida de que, sim, os drones já estão sendo vistos, até nos EUA, como
inimigos, primeiros, dos próprios EUA.
Então... FA, hoje,
defende os drones.
Em
artigo intitulado “A falácia de que os drones são tiros que saem pela
culatra”, FA promove a ideia de que o problema dos drones é que
andam matando muito civis; que esses erros ocorrem por culpa da CIA... E que
tudo melhorará se o comando dos drones for passado aos militares.
Desnecessário
dizer que o “argumento” de propaganda dos militares dos EUA – conhecidíssimos em
todo o mundo por sua empenhada e atenta dedicação ao bem-estar dos pobres do
mundo – é que “a miséria, não os drones, empurra o povo do Iêmen para os
braços da Al-Qaeda”. Só rindo, se fosse engraçado.
Traduzimos
alguns parágrafos do artigo, para mostrar que a propaganda de guerra, conduzida
pelas empresas-imprensa de repetição, a chamada “mídia” em todo o mundo, não
pode, de modo algum, ser subestimada: é discurso argumentativo muito
consistente, tornado ainda mais eficaz pela infinita repetição.
É
discurso capaz de ensinar a desejar guerras.
Ensina,
até, a desejar ter muitos drones sobre a própria cabeça. Acredite quem
souber.
Christopher Swift |
Desde
que assumiu a presidência, o governo Obama aumentou muito o número e a acuidade
dos ataques com drones norte-americanos contra terroristas, no Paquistão.
Mas, a menos que o programa torne-se mais transparente e seja transferido, da
CIA para controle dos militares, os drones pouco ajudarão os EUA a vencer
a grande guerra.
Revelações
recentes, de que a Casa Branca mantém uma lista de matar [orig. kill
list], que usa para selecionar líderes da al-Qaeda, disparou o debate sobre
os drones usados como arma de guerra.
Especialistas
progressistas criticam o governo Obama por expandir o poder do braço de execução
de seu governo. Senadores Republicanos, por sua vez, exigem que se indique um
conselho especial que investigue prováveis vazamentos de informação secreta que
teriam levado à divulgação da lista de matar para o público externo. E enquanto
o drama político se desenrola em Washington, os EUA intensificam a campanha dos
drones nas áridas montanhas e altiplanos remotos do Iêmen.
Drone Predator |
Com
o centro de gravidade da al-Qaeda sendo transferido do Paquistão para o Iêmen, a
CIA buscou autorização para desfechar “ataques assinados” [orig. signature
strikes], nos quais os pilotos dos drones selecionam alvos a partir
de perfis comportamentais, nos casos em que não haja identificação positiva. O
movimento marca significativo aumento na extensão e na intensidade da campanha
dos drones – nos seis primeiros meses de 2012, o governo Obama ordenou
aproximadamente 43 ataques de drones no Iêmen, aproximadamente o dobro do
total dos três anos anteriores.
Críticos
argumentam que os ataques dos drones produzem mais inimigos e facilitam a
operação de recrutamento da al-Qaeda, como escreveu o jovem ativista iemenita
Ibrahim Mothana em artigo publicado recentemente no New York Times (...).
O Washington Post concorda. (...)
Mês
passado, viajei ao Iêmen para estudar o modo como opera a Al-Qaeda na Península
Arábica (AQAP) e para saber se há, realmente, alguma verdade na opinião que se
está generalizando nos EUA, de que os drones facilitariam o recrutamento
de jovens para a al-Qaeda. (...) [As fontes, cujos nomes omito por questões de
segurança, lideranças tribais iemenitas] discordam da hipótese de que os
drones facilitem as operações de recrutamento da al-Qaeda. Para eles, os
fatores que arrastam os jovens para a guerrilha são, sobretudo, econômicos.
(...)
Figuras
religiosas que entrevistei reforçam esse entendimento. (...)
Mapa do Iêmen com indicação de ocorrências e influências |
Os
islamistas e salafistas que entrevistei discordam da ideia de que os
drones expliquem o crescimento nos números de jovens recrutados para a
al-Qaeda. “A razão principal é o
desenvolvimento” – disse-me um deputado islamista da província de Hadramout.
“Em alguns distritos, a probreza é de tal
ordem que a al-Qaeda é a melhor de várias alternativas ruins”
(criminalidade, migração e morrer de fome). Um intelectual salafista, que
trabalha na negociação com a AQAP para libertar reféns, concorda: “Os que lutam são movidos pela injustiça no
país” – explicou. “No norte, uns
poucos lutam por ideologia. Mas no sul, a questão é sempre a miséria e a
corrupção”. (...)
“Em 2009, as coisas estavam muito
difíceis” – disse-me um comandante de milícia tribal na província de Abyan –
“mas agora vemos os drones como nossos aliados”.
Explicou que os iemenitas podem “aceitar [os drones], desde que não morram mais civis”.
Membro
islamista do movimento separatista al-Harak com quem estive ofereceu avaliação
semelhante: “As pessoas mais simples
tornaram-se muito pragmáticas sobre os drones” – disse ele. “Se os EUA mirarem só os líderes, e não
morrerem mais civis, os drones
matarão mais terroristas do que ajudarão a al-Qaeda”. [pano
rápido]
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