Publicado
em 10/07/2012 por Mário Augusto
Jakobskind*
No
próximo dia 9 de outubro completam-se 22 anos da morte do cadete Márcio Lapoente
da Silveira na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Por sugestão do Grupo
Tortura Nunca Mais, familiares de Márcio entraram com uma ação na Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos
(OEA). Isso aconteceu em 2004.
Foi
reconhecido então ter sido o cadete Márcio, de 19 anos, vítima de torturas e
maus tratos que o levaram à morte. Um caso considerado pela OEA como grave
violação aos direitos humanos.
Ficou
decidido também que na AMAN, em Resende, será inaugurada uma placa
em homenagem a
Márcio e aos cadetes falecidos em atividade de instrução no
decorrer do Curso de Formação de Oficiais. O Exército brasileiro reconheceu a
sentença, mas alguns militares da reserva, em linguagem odiosa de sempre, não
aceitam a decisão e alguns disseram que reagirão. A placa será fixada e
permanentemente mantida nas instalações da Academia Militar das Agulhas Negras
com os seguintes dizeres:
Homenagem
do Exército Brasileiro e da Academia Militar das Agulhas Negras aos cadetes
falecidos em atividade de instrução no decorrer do Curso de Formação de
Oficiais. Homenagem do Exército Brasileiro e da Academia Militar das Agulhas
Negras decorrente do Acordo de Solução Amistosa junto à Comissão Interamericana
de Direitos Humanos, referente ao Cadete Lapoente da
Silveira.
O
acordo entre a família do Cadete e o Exército ficou de ser divulgado pela
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, no Diário Oficial e
em um quarto de página em um jornal de ampla circulação nacional. A
Advocacia-Geral da União e o Ministério da Defesa darão publicidade em seus
sítios na Internet.
Aguarda-se
a realização da cerimônia. Será uma forma também de demonstrar que o processo
democrático avança no Brasil e que os defensores da democracia não se intimidam
diante da linguagem de ódio dos militares da reserva, gênero óleo queimado da
história.
Na
OEA, o Estado brasileiro se comprometeu a ampliar o ensino de direitos humanos
no currículo de formação militar, conforme previsão da Estratégia Nacional de
Defesa, aprovada pelo Decreto n. 6.703, de 18 de dezembro de 2008. E também, por
meio da Secretaria de Direitos Humanos, se comprometeu a solicitar ao Conselho
de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) que analise 23 casos de supostas
violações aos direitos humanos ocorridas no âmbito das Forças Armadas, conforme
estudo elaborado pelo Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM/RJ).
Para
complementar, os próprios militares deveriam aceitar as sugestões crescentes no
sentido de reformar o currículo da Academia Militar das Agulhas Negras,
adaptá-lo à realidade atual, totalmente diferente dos tempos hediondos da
ditadura e da Guerra Fria.
Eleição
na Líbia: uma farsa
Na
área internacional, a farsa da semana ficou por conta da eleição na Líbia. Como
comentou um cidadão líbio: "como se fazer eleições em um momento em que se
vendem armas nas ruas, que existem mercados de armas em vez de mercados de
alimentos (...) em um país onde se vais ao banco não te dão teu próprio
dinheiro, a comida está três vezes mais cara, saindo a rua com um carro te matam
para roubá-lo, se falas sobre o governo anterior te prendem, não podes
deslocar-se de uma cidade a outra sem que grupos internacionais te parem para
assaltar-te".
Como
se tudo isso não bastasse, ocorrem constantes bombardeios em cidades onde o novo
governo vem sendo questionado. Não se realizaram eleições nas cidades de
Tarhuna, Ben Walit, Al-Kufrah. Na capital Trípoli muitos líbios ficaram em casa
ou porque não podiam votar ou não queriam compactuar com a obra de teatro
montada sob a proteção de milícias internacionais.
E
em meio a esse quadro, o presidente Barack Obama considerou a eleição líbia um
avanço. É a continuidade do seu ponto de vista favorável aos bombardeios da
OTAN.
O
golpe contra Fernando Lugo
No
Paraguai foi constatado oficialmente que os 17 mortos (11 camponeses e seis
policiais) foram atingidos pelas mesmas balas. Neste caso, chega-se a uma
verdade, qual seja, a de que ocorreu mesmo uma armadilha preparada exatamente
para desestabilizar o governo de Fernando Lugo e
derrubá-lo.
Neste
caso, os países do MERCOSUL agora poderiam fazer mais exigências no sentido de
acabar no Paraguai com o golpe parlamentar, considerado já por muitos países
como algo definitivo.
E
esperar a eleição de um novo presidente para tudo voltar à normalidade não
resolverá o problema. Até porque, como será uma campanha eleitoral em um país
em que o
Congresso conservador fez o que fez.
Os
integrantes do atual Congresso vão querer retornar e para isso vão remover tudo
que estiver pela frente, para não falar dos gastos de campanha a serem
financiados muitas vezes pelos protagonistas que armaram a deposição de Fernando
Lugo.
Militares
britânicos no interior da Síria
A
se confirmar informação da mídia eletrônica israelense Debka, a crise na Síria
pode estar entrando numa nova fase. Segundo a publicação, militares britânicos
teriam avançado dez quilômetros no interior da Síria a partir da fronteira com a
Turquia.
O
objetivo seria tentar estabelecer uma zona de segurança naquela área dando
início a uma intervenção militar do Ocidente que levaria a derrubada do
Presidente Bashar al- Assad.
Ou
seja, da mesma forma que na Líbia, o projeto dos países colonialistas seria
levar a “democracia” à Síria..
Seria
cômico se não fosse trágico.
Mário Augusto
Jakobskind* é correspondente no Brasil do semanário uruguaio
Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor
internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário
Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia,
Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
Enviado por Direto da Redação
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