A guerra perdida de
Obama-Clinton - EUA
9/7/2012, Ihsanullah Tipu Mehsud, ATol - THE CHANGING FACE OF
TERROR
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
I.T. Mehsud |
Apesar
de alguns altos comandantes da al-Qaeda que viviam no Paquistão terem sido
assassinados pelos drones dos EUA e das operações em solo do Exército
do Paquistão, a ideologia da organização avança hoje sob muitas denominações
jihadi nas áreas tribais do Paquistão e ao longo da fronteira, no
Afeganistão.
A
ideologia da al-Qaeda penetrou profundamente no alto comando e nas fileiras dos
Talibã paquistaneses, e sua influência já alcança também os Talibã afegãos.
Recentemente, como correspondente de Asia Times Online, tive acesso
exclusivo a um campo de treinamento no qual combatentes da al-Qaeda e Talibã
vivem sob o mesmo teto, comem juntos e assistem juntos aulas sobre lei islâmica
(Xaria).
Tudo
indica que estavam corretas as previsões do livro An Enemy We Created [Um
inimigo criado por nós]. Naquele trabalho, os autores Alex Strick van Linschoten
e Felix Kuehn previram que vários traços da guerra dos EUA no Afeganistão –
bombardeios aéreos indiscriminados com aviões-robôs (drones), ataques
noturnos e mutilação de cadáveres de combatentes Talibã – fariam aumentar
gradualmente o prestígio da al-Qaeda entre os Talibã.
Podem-se
acompanhar laços organizacionais e financeiros entre a al-Qaeda e os Talibã
desde meados dos anos 1990s, quando Bin Laden, então principal comandante da
al-Qaeda, estendeu seu total apoio às milícias Talibã que começavam a emergir,
em luta contra senhores-da-guerra mujahideen no Afeganistão.
Para
alguns analistas, os primeiros pilares do Tehrik-e-Taliban Pakistan (TTP,
Talibã paquistanês) foram plantados pelos líderes do Talibã afegão e da
al-Qaeda, que fugiam, logo no início do morticínio que os EUA promoveram na
região, em 2001.
Af-Pak, Afeganistão -Paquistão - Áreas tribais na fronteira |
A al-Qaeda foi particularmente bem
sucedida na operação de construir pontes e pôr fim às lutas internas entre
diferentes grupos de militantes com bases em território paquistanês.
Uma fonte, de grupo combatente, contou a esse correspondente
que, em 2009, quando o exército do Paquistão lançou a “Operação Caminho para a
Salvação (Rah-e-Nejat)” contra a principal base do TTP no Waziristão Sul,
foi a al-Qaeda quem convenceu o Talibã Hafiz
Gul Bahadur, senhor-da-guerra no vizinho
Waziristão Norte, a dar refúgio a membros do TTP, que fugiam dos ataques do
exército do Paquistão.
A
al-Qaeda tem hoje mais influência sobre os Talibã paquistaneses do que teve,
antes, sobre os Talibã afegãos.
Ilyas Kashmiri |
O
militante paquistanês Ilyas Kashmiri, comandante da Brigada 313, braço
operacional da al-Qaeda no Paquistão, e que teria sido morto num ataque dos
drones norte-americanos ano passado, foi cogitado como possível sucessor
de Bin Laden. Os Lashkar-e-Jhangvi Al-Almi, um dos principais grupos antixiitas
paquistaneses, de sunitas sectários, é compatriota ideológico da al-Qaeda e
executou numerosos ataques contra seitas rivais em território paquistanês.
A
al-Qaeda está usando cada vez mais militantes locais em suas operações. E a imagem
do grupo como organização de árabes está sendo progressivamente apagada, depois
do assassinato de bin Laden. A al-Qaeda no Af-Pak é hoje organização que conta
com inúmeras “franquias” locais para escapar aos ataques dos drones
norte-americanos, disseminar sua ideologia e organizar operações.
Depois
do assassinato de Bin Laden, muitos analistas previram uma rápida desarticulação
da al-Qaeda, mas especialistas que estudam o movimento e seus vários grupos
afiliados dizem que a al-Qaeda só fez fortalecer-se desde então, espalhando sua
influência por várias partes do mundo muçulmano hoje assolado pela violência da
guerra. A Primavera Árabe abriu amplo espaço para que o grupo se expandisse para
fora do chamado Af-Pak.
Sinal
de que a al-Qaeda já influencia também os Talibã paquistaneses foi recente
crítica, feita pelo TTP, contra a vitória do candidato da Fraternidade
Muçulmana, Mohammed Mursi, no Egito, declarada “uma farsa”.
Nos
termos da declaração, antecipada com exclusividade para o Asia Times
Online por porta-voz dos TTP, a vitória de Mursi seria vitória, não de
forças islamistas, mas de forças seculares, “porque grande parte da Fraternidade
Muçulmana foi secularizada e desviou-se da ideologia dos fundadores”.
Talibãs paquistaneses destroem comboio de combustíveis dos EUA-OTAN |
Os
Talibã paquistaneses já haviam descrito o processo democrático como
“anti-islamista”; para eles, qualquer partido que participe de eleições perde a
identidade islâmica. “A democracia é um dos pilares de fundação do secularismo.
Nenhum partido pode dizer-se islâmico, depois de render-se à democracia
ocidental”.
Mas
os Talibã afegãos festejaram a vitória de Mursi, apresentada como “grande
mudança” tanto no plano regional quanto internacional, que se espera que abra
caminho para novos avanços do movimento Talibã no Afeganistão.
Os
Talibã afegãos, que pregam a constituição do Emirato Islâmico do Afeganistão,
distribuíram declaração em várias páginas jihadistas na Internet, em que
dizem que a “vitória histórica” de Mursi marca o sucesso do “governo islamista”.
Mohamed Mursi |
“O
sucesso do governo islamista no Egito é considerado o mais potente golpe
assestado até agora, em todo o Oriente Médio e
no mundo, contra o expansionismo de norte-americanos e sionistas. Que a nação
muçulmana egípcia extraia todos os benefícios dessa importante ocasião e dessa
vitória histórica, na defesa e realização dos interesses da Ummah islâmica” – diz
a declaração.
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